Introdução
A mentalidade de crescimento, conforme postulada por Dweck (2006), desempenha um papel crítico na formação do potencial cognitivo e acadêmico de estudantes superdotados. Este estudo investiga a influência das orientações culturais sobre a mentalidade de crescimento entre universitários superdotados chineses, considerando os modelos teóricos de Hofstede (2011) e a literatura sobre inteligência e desenvolvimento do talento.
Métodos
Foram recrutados 378 estudantes superdotados de dez universidades na China continental, identificados por meio de testes de QI (≥130), indicações acadêmicas e participação em programas de altas habilidades. Os participantes responderam a questionários digitais baseados na Escala de Mentalidade de Crescimento de Dweck et al. (1995) e na Escala de Valores Culturais de Hofstede et al. (2010). A análise estatística incluiu correlação de Pearson e regressão múltipla hierárquica, controlando variáveis demográficas.
Resultados
Os resultados indicaram que a orientação de longo prazo apresentou uma correlação positiva significativa com a mentalidade de crescimento (r = 0,63; p < 0,001), enquanto a distância do poder (r = -0,59; p < 0,001) e a evitação da incerteza (r = -0,57; p < 0,001) correlacionaram-se negativamente. As dimensões de coletivismo versus individualismo e masculinidade versus feminilidade não demonstraram influência significativa. A análise de regressão confirmou que apenas a orientação de longo prazo foi preditiva da mentalidade de crescimento (β = 0,44; p < 0,001), enquanto distância do poder (β = -0,41; p < 0,001) e evitação da incerteza (β = -0,39; p < 0,001) demonstraram efeitos negativos.
Discussão
Os achados sugerem que a cultura desempenha um papel essencial na formação da mentalidade de crescimento de estudantes superdotados. A orientação de longo prazo reforça a persistência e resiliência, favorecendo o desenvolvimento de habilidades ao longo do tempo. Em contrapartida, a alta distância de poder e a evitação da incerteza podem restringir a exploração acadêmica e limitar a aceitação de desafios. Esses resultados apoiam modelos teóricos como o Modelo Diferenciado de Superdotacão e Talento de Gagné (1997) e o Modelo Actiotope de Ziegler (2005), enfatizando a interação dinâmica entre cultura e desenvolvimento da inteligência.
Conclusão
Este estudo reforça a necessidade de considerar fatores culturais em intervenções pedagógicas voltadas para estudantes superdotados. A integração de valores culturais, como a orientação de longo prazo, pode maximizar o impacto de programas educacionais e minimizar os efeitos negativos de barreiras culturais. Estudos futuros devem expandir a análise para diferentes contextos culturais e adotar abordagens longitudinais para compreender melhor a influência das variáveis contextuais na formação da mentalidade de crescimento.
Referência:
DWECK, Carol S. Mindset: The new psychology of success. New York: Random House, 2006.
DWECK, Carol S.; CHIU, C. Y.; HONG, Y. Y. Implicit theories and their role in judgments and reactions: a word from two perspectives. Psychological Inquiry, v. 6, n. 4, p. 267-285, 1995.
HOFSTEDE, Geert. Dimensionalizing cultures: The Hofstede model in context. Online Readings in Psychology and Culture, v. 2, n. 1, p. 1-26, 2011.
GAGNÉ, François. Differentiated model of giftedness and talent. Agate-Edmonton, v. 11, p. 2-4, 1997.
ZIEGLER, Albert. The actiotope model of giftedness. High Ability Studies, v. 16, n. 1, p. 35-56, 2005.
