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Todo superdotado teria um estado subclínico de TDAH?

Embora não se possa afirmar que todos os superdotados apresentem um estado subclínico de TDAH, existem semelhanças entre os dois perfis que podem gerar confusões diagnósticas e sobreposições em certas características comportamentais e cognitivas.

por Redação CPAH

A relação entre superdotação e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem gerado debates no campo das neurociências e da psicologia. Embora não se possa afirmar que todos os superdotados apresentem um estado subclínico de TDAH, existem semelhanças entre os dois perfis que podem gerar confusões diagnósticas e sobreposições em certas características comportamentais e cognitivas.

Características Compartilhadas

– *Alta Energia Mental e Foco Flutuante*: Superdotados frequentemente apresentam níveis elevados de energia mental e interesse por múltiplos tópicos simultaneamente. Essa curiosidade intelectual, quando combinada com um padrão de atenção altamente seletivo, pode ser confundida com os sintomas de desatenção do TDAH.

– *Impulsividade Intelectual*: A velocidade com que indivíduos superdotados processam informações pode resultar em respostas rápidas e, em alguns casos, impulsivas. Isso pode ser interpretado como um traço de hiperatividade ou impulsividade, comuns no TDAH.

– *Hiperfoco*: Tanto superdotados quanto pessoas com TDAH podem apresentar períodos de hiperfoco intenso em áreas de interesse. Nos superdotados, isso costuma estar relacionado à exploração profunda de temas intelectuais; no TDAH, ocorre de maneira mais inconsistente, frequentemente motivado por estímulos de recompensa imediata.

Diferenças Fundamentais

– *Motivação e Controle Executivo*: Enquanto o TDAH é caracterizado por déficits no controle executivo (dificuldade em planejar, organizar e manter a atenção em tarefas não estimulantes), os superdotados geralmente apresentam um controle executivo funcional, especialmente em tarefas que envolvem desafios intelectuais significativos.

– *Origem Neurológica*: O TDAH está associado a disfunções em regiões como o córtex pré-frontal e o sistema dopaminérgico, resultando em dificuldades generalizadas na regulação da atenção e do comportamento. Já nos superdotados, as características que podem parecer semelhantes a sintomas de TDAH geralmente refletem um processamento cognitivo acelerado e uma alta sensibilidade ao ambiente, não um déficit.

Estado Subclínico e Neurodiversidade

O conceito de “estado subclínico” implica que certas características associadas ao TDAH, como desatenção ou hiperatividade, estão presentes em um grau que não causa prejuízo funcional significativo. Superdotados podem exibir traços que, superficialmente, se assemelham a sintomas leves de TDAH, mas que não comprometem sua capacidade geral de desempenho. Estudos sugerem que isso pode ser uma manifestação de neurodiversidade, onde o funcionamento cerebral segue padrões distintos, mas não patológicos (Silverman, 2013).

Diagnóstico e Desafios

Confundir superdotação com TDAH pode levar a diagnósticos errados e intervenções inadequadas. Por exemplo:
– Superdotados podem se entediar facilmente em ambientes pouco desafiadores, resultando em comportamentos que imitam desatenção do TDAH.

– Em contraste, uma pessoa com TDAH genuíno terá dificuldade em sustentar atenção mesmo em tarefas que exigem esforço cognitivo elevado.

Conclusão

Embora traços de TDAH possam aparecer em superdotados, dizer que todos apresentam um estado subclínico seria uma generalização inadequada. A superdotação está mais relacionada a um funcionamento cerebral eficiente e acelerado, enquanto o TDAH reflete dificuldades específicas na regulação cognitiva e comportamental. Ambos os perfis são únicos e demandam abordagens diferenciadas para garantir que suas necessidades sejam devidamente atendidas.

Referências

– Silverman, L. K. (2013). Giftedness and ADHD: Overlapping traits and diagnostic challenges. Roeper Review.
– Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. Guilford Press.
– Antshel, K. M., & Faraone, S. V. (2008). Understanding the coexistence of ADHD and giftedness. Journal of Attention Disorders.

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