Início Produções CientíficasModelo Científico A banalização do TDAH e a confusão no diagnóstico de pessoas com distúrbio das redes sociais

A banalização do TDAH e a confusão no diagnóstico de pessoas com distúrbio das redes sociais

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Coluna de Dr. Fabiano de Abreu Agrela

Introdução

Cada vez mais uma série de condições mentais têm se tornado mais presentes e os prejuízos à saúde mental são bastante frequentes. TDAH, TOC, ansiedade, entre outras, têm se tornado comuns, no entanto, com isso surgiu um movimento de banalização dessas condições, em especial do TDAH, o que cria confusões em diagnósticos.

Os sintomas de TDAH são bem delimitados, como a dificuldade de se ater a detalhes e manter a atenção em determinadas informações, apatia a algumas situações, dificuldade em finalizar tarefas, em se organizar, realizar planejamentos, seguir instruções e facilidade para perder coisas, mas apesar de estarem bem estabelecidos, eles são comumente associados a comportamentos comuns do dia a dia, pequenos esquecimentos ou desatenções absolutamente normais são tidas como provas cabais da condição.

Esse tipo de banalização está intrinsecamente ligada à cultura das redes sociais, excesso de informações e o organismo “viciado” em dopamina que tem cada vez mais necessidade da substância, o que faz com que o indivíduo encontre no diagnóstico de TDAH uma alternativa para suprir essas necessidades e compreender as limitações trazidas por essas alterações da sociedade.

O que é o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica que afeta o desenvolvimento, ela está associada a disfunções nas vias dopaminérgicas do cérebro, bem como a um corpo caloso com espessura reduzida.

Os principais aspectos do TDAH incluem dificuldade em manter a atenção focada, hiperatividade e impulsividade, embora o portador de TDAH possa prestar atenção em múltiplos estímulos, ele encontra dificuldade em selecionar e manter o foco em uma tarefa específica. Também pode apresentar dificuldade em se engajar completamente em uma atividade e tende a abandonar aquilo que não lhe proporciona prazer, esses sintomas tendem a se manifestar durante a infância, especialmente durante o processo de alfabetização, quando a criança precisa desenvolver habilidades sociais além do aprendizado escolar.

Apenas a medicação não é capaz de ensinar comportamentos, mas em alguns casos, pode-se combinar o uso de medicamentos com treinamento cognitivo e psicoterapia, a fim de estabelecer uma rotina criativa e auxiliar o indivíduo a lidar com os sintomas do transtorno.

Embora uma pessoa com TDAH possa aprender a gerenciar o transtorno e reduzir seus sintomas, na idade adulta ela ainda será portadora da condição.

Além disso, atualmente, devido ao aumento do uso excessivo de telas e redes sociais, muitas pessoas estão atribuindo características comportamentais aos traços do TDAH, realizando autodiagnósticos para justificar a falta de esforço ou recebendo diagnósticos equivocados por parte de profissionais pouco preparados.

O TDAH não possui uma causa única específica, mas evidências sugerem a presença frequente de fatores genéticos hereditários, pesquisas indicam que o TDAH pode envolver anomalias nos neurotransmissores, que são substâncias responsáveis por transmitir impulsos nervosos no cérebro, além disso, diversos fatores de risco foram identificados, como baixo peso ao nascer, traumatismo craniano, infecção cerebral, deficiência de ferro, apneia obstrutiva do sono e exposição a substâncias como chumbo, álcool, tabaco ou cocaína durante a gestação, ele também está associado a eventos traumáticos durante a infância, como violência, abuso ou negligência.

Seu diagnóstico é realizado clinicamente, por meio de uma abordagem que envolve avaliações médicas, educacionais e psicológicas, é necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar em conjunto com os pais da criança, buscando identificar a coerência entre os comportamentos observados e os sintomas característicos do TDAH.

Embora os sinais que o indicam possam estar presentes em diferentes graus em qualquer indivíduo, especialmente em crianças, é importante reforçar que no caso das pessoas com o transtorno, esses sinais manifestam-se de forma simultânea e consistente, portanto, para um diagnóstico preciso e assertivo do TDAH, é fundamental realizar uma avaliação detalhada em vários aspectos da vida da criança.

Impacto de mudanças na sociedade e efeito das redes sociais no TDAH

Os casos de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) têm apresentado um aumento significativo em todo o mundo, estudos já apontam que a predisposição genética desempenhe um papel fundamental, envolvendo a presença de variantes de nucleotídeos únicos e mutações que podem ser hereditárias ou surgir durante o desenvolvimento embrionário.

Além dos fatores genéticos, o ambiente também exerce uma importante influência no espectro do TDAH, o aumento de casos pode estar relacionado às mudanças ambientais decorrentes do avanço tecnológico e exposição a substâncias nocivas.

É essencial considerar que o adiamento da idade para a maternidade e paternidade, que tem se mostrado um movimento cada vez mais forte, também pode contribuir, uma vez que os espermatozoides são produzidos ao longo da vida masculina, e essa produção contínua pode resultar em mutações genéticas.

A cultura das redes sociais é outro fator importante que está moldando o cérebro, devido ao excesso de informação e necessidade maior de mais liberação de dopamina devido ao ciclo da recompensa exacerbado propositado pelas redes sociais, o cérebro é treinado a precisar desempenhar múltiplas atenções e, ele não é preparado para isso.

Essa cultura está gerando uma série de transtornos que se enquadram na personalidade dramática, como histriônico, narcisismo, borderline, sociopatia, entre outros, o que gera sintomas, como dificuldade no foco atencional, que comumente são justificados através do auto diagnóstico de TDAH, usado como uma forma de vitimismo, impedindo que a real raiz do problema seja tratada.

A impulsividade e a hiperatividade também fazem parte dessas consequências, já que, o ciclo da recompensa contribui para o aumento da ansiedade e liberação de hormônios que causam impulsividade assim como a mudança neuroanatômica.

O cérebro de um paciente com TDAH

No cérebro de pacientes com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ocorrem diferenças significativas nas áreas responsáveis pelo controle da atenção, regulação do comportamento e inibição de respostas impulsivas, elas se envolvem principalmente o córtex pré-frontal, o córtex cingulado anterior e o corpo estriado.

No córtex pré-frontal, que desempenha um papel crucial no controle executivo e na regulação do comportamento, há evidências de menor atividade e menor volume em pessoas com TDAH, o que pode resultar em dificuldades para manter o foco, controlar impulsos e tomar decisões adequadas, além disso, o córtex cingulado anterior também desempenha um papel importante no controle cognitivo e emocional, em indivíduos com TDAH, essa região pode apresentar anormalidades, afetando a capacidade de selecionar e priorizar informações relevantes.

O corpo estriado, uma estrutura envolvida na modulação da atenção e do movimento, também pode estar relacionado ao TDAH, alguns estudos sugerem que pessoas com TDAH podem ter níveis reduzidos de dopamina, um neurotransmissor importante para a regulação do humor e da motivação, afetando a função do corpo estriado.

No entanto, é importante ressaltar que o TDAH é um transtorno complexo e que a compreensão exata das alterações cerebrais ainda não está totalmente elucidada, a interação entre fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos contribui para o desenvolvimento e manifestação do TDAH.

Banalização dos sintomas de TDAH

As redes sociais ganharam um grande destaque nos últimos anos e passaram a ocupar várias horas do dia, o que gerou impactos ao cérebro dos usuários e desencadeou uma série de condições.

Nosso cérebro nosso processo evolutivo ocorre de forma mais lenta que a tecnologia, são necessários milhares de anos para essa adaptação, e toda adaptação deve considerar o instinto de sobrevivência, pois a morte é real e não virtual, mas atualmente, em um contexto totalmente diferente, nosso cérebro não consegue acompanhar adequadamente essas inovações, fazendo com que haja desequilíbrios.

Esses desequilíbrios podem gerar diversos sintomas como ansiedade, depressão, dificuldade de foco e atenção, hiperatividade, entre outros, o que faz com que eles sejam facilmente confundidos com TDAH, o que complexifica e confunde o diagnóstico e tratamento da condição.

Esse diagnóstico equivocado gera uma banalização da condição, associando-a a acontecimentos comuns e, muitas vezes, associados a outras realidades, o que pressiona para baixo o grau do que é considerado normal, o que é perigoso e inviabiliza o diagnóstico e tratamento adequado para quem realmente possui a condição.

Sobre Dr. Fabiano de Abreu

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA – American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia e filosofia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Pesquisador e especialista em Nutrigenética e genômica. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE – Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE – Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro das sociedades de alto QI Mensa, Intertel e Triple Nine Society. Autor de mais de 200 artigos científico e 15 livros.

ISSN: 2763-6895

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