Início ColunaNeurociências Enfoque Neuropsicológico Familiar para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Um Estudo Exploratório

Enfoque Neuropsicológico Familiar para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Um Estudo Exploratório

Este estudo exploratório analisou o perfil neuropsicológico de 20 trios familiares compostos por mães, pais e filhos do sexo masculino diagnosticados com TDAH, todos vivendo no mesmo ambiente domiciliar.

por Redação CPAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente reconhecido como uma condição altamente hereditária, com evidências que apontam uma relação entre déficits nas funções executivas (FE) em pais e o desenvolvimento neurocognitivo de crianças com TDAH. Este estudo exploratório analisou o perfil neuropsicológico de 20 trios familiares compostos por mães, pais e filhos do sexo masculino diagnosticados com TDAH, todos vivendo no mesmo ambiente domiciliar. O objetivo principal foi investigar a presença de déficits em funções executivas e diagnósticos psiquiátricos nos pais, avaliando como esses fatores influenciam o desenvolvimento da criança.

Métodos

Amostras foram coletadas de famílias com crianças diagnosticadas com TDAH (DSM-5), com idades entre 7 e 10 anos, e QI igual ou superior a 80. A avaliação neuropsicológica utilizou a bateria BANFE-2, composta por 11 subtestes para funções executivas, incluindo memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e categorização semântica. Diagnósticos psiquiátricos foram realizados por meio da entrevista estruturada MINI-Kid/MINI-PLUS. Regressões logísticas binárias foram aplicadas para determinar os déficits específicos de cada grupo (mães, pais e filhos) e grupos combinados (todos os pais, todos os homens, homens com TDAH).

Resultados

Os achados destacaram que 50% das mães apresentaram depressão e 30% transtornos de ansiedade, enquanto 45% dos pais foram diagnosticados com TDAH. Nos filhos, 60% demonstraram comorbidades comportamentais, como transtorno desafiador opositivo. Os principais déficits de funções executivas identificados incluíram memória de trabalho verbal, controle inibitório e categorização semântica, afetando especialmente os grupos de pais e filhos do sexo masculino com TDAH. Houve também correlação significativa entre sintomas de TDAH nos pais e o tempo de execução no teste de Stroop, indicando impacto direto das condições parentais sobre as funções executivas dos filhos.

Discussão

O estudo sugere um impacto bidirecional entre fatores neuropsiquiátricos nos pais e o desenvolvimento neurocognitivo de crianças com TDAH. Déficits em memória de trabalho e planejamento em mães foram associados a práticas parentais reativas e organização doméstica inadequada, enquanto pais com sintomas de TDAH apresentaram menor capacidade de supervisão. Além disso, a categorização semântica emergiu como uma dimensão crítica comprometida no desenvolvimento cognitivo infantil. Esses resultados reforçam a necessidade de abordagens sistêmicas na intervenção neuropsicológica, considerando o ecossistema familiar ao invés de focar exclusivamente na criança diagnosticada.

Conclusões

Este estudo preliminar evidencia a importância de incorporar uma avaliação neuropsicológica e psiquiátrica familiar no manejo clínico do TDAH. Recomenda-se ampliar amostras futuras para incluir pais com e sem diagnósticos psiquiátricos, a fim de aprofundar a compreensão das influências recíprocas no contexto familiar. Intervenções sistemáticas que envolvam pais e crianças são indispensáveis para otimizar o desenvolvimento neurocognitivo de crianças com TDAH.

Referência:

Flores-Lázaro, J. C., Medrano, E., & Nicolini, H. (2024). Family Neuropsychological Approach to Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD): An Exploratory Study. Acción Psicológica, 21(1-2), 73–92. https://doi.org/10.5944/ap.21.1-2.40027

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