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Vínculos Inanimados: A Busca por Afeto no Mundo dos Bebês Reborn

Do ponto de vista psicanalítico, podemos pensar que essa conduta pode estar ligada a uma série de fatores inconscientes e necessidades emocionais não atendidas.

por Adriel Pereira da Silva

O crescente fenômeno de adultos que tratam bebês reborn de silicone como se fossem crianças reais, levando-os para passeios, banhos de sol e até tentando internações hospitalares, revela uma possível fuga da realidade e das interações humanas genuínas.

Do ponto de vista psicanalítico, podemos pensar que essa conduta pode estar ligada a uma série de fatores inconscientes e necessidades emocionais não atendidas. A relação com o bebê reborn pode representar uma tentativa de preencher um vazio, de reviver experiências passadas de maternidade ou paternidade (mesmo que não tenham sido vivenciadas diretamente), ou de lidar com sentimentos de solidão, perda ou dificuldades em estabelecer laços afetivos genuínos com outras pessoas. O bebê de silicone, por ser inanimado, oferece um controle absoluto na relação, sem as complexidades e demandas de um ser humano real.

Na perspectiva da psicologia, esse comportamento pode estar associado a diferentes quadros. Em alguns casos, pode ser uma manifestação de um forte desejo de parentalidade não realizado ou adiado. Em outros, pode estar ligado a mecanismos de enfrentamento de situações de estresse, trauma ou luto, onde o bebê reborn oferece um conforto ilusório e uma sensação de propósito.

É crucial considerar a intensidade e a forma como esse comportamento se manifesta. Quando ele interfere significativamente na vida da pessoa, substituindo interações sociais reais e a capacidade de discernir a realidade, pode indicar a presença de transtornos mais sérios.

Algumas condições psicológicas listada no DSM-5-TR (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition, Text Revision) que podem estar relacionadas a esse tipo de comportamento incluem:

Transtornos de apego: Dificuldades em formar laços seguros e saudáveis com outras pessoas podem levar à busca por um objeto de “afeto” que não ofereça rejeição ou complexidade emocional.

Transtornos dissociativos: Em situações de grande sofrimento psíquico, a pessoa pode desenvolver mecanismos de fuga da realidade, e o bebê reborn pode se tornar parte dessa realidade alternativa.

Quadros depressivos e ansiosos: A busca por conforto e a tentativa de preencher um vazio emocional podem levar a essa forma de “cuidado”.

Psicoses: Em casos mais graves, a dificuldade em distinguir a fantasia da realidade pode levar a crenças delirantes sobre o bebê reborn.

Além disso, os problemas que esse tipo de comportamento pode causar são diversos como:

Isolamento social: A dedicação excessiva ao bebê reborn pode levar ao afastamento de amigos, familiares e parceiros, prejudicando relacionamentos reais.

Dificuldade em lidar com a realidade: A imersão nesse mundo de fantasia pode dificultar a capacidade de enfrentar os desafios e as complexidades da vida real.

Negligência de outras áreas da vida: Trabalho, estudos, saúde e outras responsabilidades podem ser deixados de lado em função da dedicação ao bebê reborn.

Potencial para delírios e perda de contato com a realidade: Em casos extremos, a dificuldade em distinguir o real do imaginário pode se agravar.

Dificuldade em buscar ajuda profissional: A pessoa pode não reconhecer o comportamento como problemático, dificultando a busca por tratamento adequado.

Nesse caso, é fundamental que a sociedade e os profissionais de saúde mental estejam atentos a esse fenômeno, oferecendo escuta e acolhimento para as pessoas que manifestam esse comportamento. Em vez de julgamento (sei que é difícil não julgar), é necessário buscar compreender as necessidades emocionais subjacentes e oferecer suporte para que essas pessoas possam desenvolver formas mais saudáveis e adaptativas de lidar com suas emoções e construir relacionamentos significativos no mundo real. A busca por ajuda profissional é essencial para avaliar a profundidade da questão e oferecer o tratamento adequado.

Alguns destaques

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