Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues – pós-PhD em Neurociências e especialista em genômica comportamental
Premissa Neurocientífica Inicial
A interpretação equivocada da inteligência em indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), especialmente em casos de dupla excepcionalidade, resulta de uma falha metodológica e funcional na análise da performance cognitiva: a leitura do comportamento expressivo é tomada como reflexo direto da capacidade intelectual, sem considerar a falha específica da memória de trabalho e suas implicações nos circuitos neurais de integração lógica.
Argumento Neurobiológico e Genômico
A memória de trabalho, mediada primariamente pelas conexões entre o córtex pré-frontal dorsolateral (BA 9/46), o córtex parietal posterior e estruturas como o tálamo e o núcleo caudado, desempenha função executiva de manutenção, atualização e manipulação de informações em tempo real. Em indivíduos com TDAH, há evidências claras de disfunção nesta circuitaria, principalmente pela modulação dopaminérgica comprometida (Volkow et al., 2009, DOI: 10.1176/appi.ajp.2009.09040472), o que impacta diretamente a capacidade de segurar e processar dados antes de uma resposta.
Não somente, estudos genômicos recentes, inclusive os descritos no Genetic Intelligence Project (GIP), mostram que variantes polimórficas em genes como SNAP25, DRD4, DAT1 e COMT impactam tanto a eficiência sináptica quanto a modulação dopaminérgica no córtex pré-frontal (GIP, 2025; ver também Davis et al., 2010, DOI: 10.1007/s10519-010-9350-4). Tal predisposição genética contribui para uma hiper-reatividade impulsiva e um estilo cognitivo antecipatório, prejudicando o processamento profundo e lógico que caracteriza a resposta considerada “inteligente” segundo padrões normativos.
Consequência Cognitiva e Interpretativa
A antecipação da resposta, marcada por uma impulsividade espontânea, interrompe o trânsito da informação pela memória de trabalho, que deveria funcionar como interface de integração entre a memória de curto e longo prazo. Isso gera respostas rápidas, mas superficiais, sem passar pela rede frontoparietal de raciocínio lógico. O resultado é uma emissão verbal ou comportamental que aparenta desorganização ou baixa inteligência, quando na verdade trata-se de um “desvio operacional” na hierarquia sináptica, não da capacidade intelectual basal.
Como demonstrado no modelo DWRI (Desenvolvimento de Amplas Regiões de Interferência Intelectual), a inteligência deve ser entendida como uma interação dinâmica entre múltiplos sistemas neurais – incluindo redes default-mode, circuito límbico, e córtex associativo – e não como um constructo linear baseado em desempenho imediato (RODRIGUES, 2023).
Conclusão: Falácia da Interpretação Superficial
Logo, o que se percebe como “respostas menos inteligentes” em sujeitos TDAH com alta capacidade intelectual não reflete um déficit de inteligência, mas sim uma falha na mediação da resposta por parte da memória de trabalho, em especial quando há impulsividade não inibida pelo córtex cingulado anterior ou orbitofrontal. Essa antecipação compromete a lógica, não a cognição basal. Compreender essa arquitetura permite reclassificar esses indivíduos não como limitados, mas como sujeitos com inteligência de difícil leitura.
Referências Científicas
RODRIGUES, Fabiano de Abreu Agrela. Neurobiologia e Fundamentos da Inteligência DWRI. 2023.
DAVIS, O. S. P. et al. A Three-Stage Genome-Wide Association Study of General Cognitive Ability. Behavior Genetics, 40, 759–767, 2010. DOI: 10.1007/s10519-010-9350-4.
VOLKOW, N. D. et al. Evaluating Dopamine Reward Pathway in ADHD. American Journal of Psychiatry, 166(8), 2009. DOI: 10.1176/appi.ajp.2009.09040472.
TDAH e a Antecipação Impulsiva da Resposta: Por que a Inteligência Não se Revela com Clareza
A interpretação equivocada da inteligência em indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), especialmente em casos de dupla excepcionalidade, resulta de uma falha metodológica e funcional na análise da performance cognitiva
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