Introdução
A construção de estereótipos sobre cientistas e indivíduos superdotados permeia tanto a cultura popular quanto a percepção social, sendo frequentemente reforçada pelo cinema. A literatura aponta que esses estereótipos podem impactar a identidade dos indivíduos e suas escolhas acadêmicas e profissionais, além de mudanças na flexibilidade social e emocional desses grupos. O presente estudo investiga as representações de cientistas e superdotados entre estudantes identificados com altas habilidades, a partir de uma abordagem qualitativa baseada na análise de representações gráficas e textuais.
Métodos
A pesquisa utilizou um delineamento qualitativo descritivo-analítico, com coleta de dados baseada na pesquisa participante. Participaram do estudo 23 estudantes superdotados, com idades entre 6 e 17 anos, matriculados em escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro e inscritos em um curso de verão universitário. Os participantes foram expostos a trechos dos filmes October Sky (1999) e The Imitation Game (2014), ambos explorando figuras de cientistas e superdotados. Em seguida, cada estudante fez dois desenhos, um representando um cientista e outro um indivíduo superdotado, além de listar cinco características associadas a cada figura. A análise dos dados incluiu categorização da segurança em dimensões cognitivas, atitudinais, físicas e laborais, além da avaliação das representações gráficas.
Resultados
As percepções sobre cientistas foram predominantemente associadas a características cognitivas, como inteligência e raciocínio rápido, mas também incluíram aspectos negativos, como alienação social e excentricidade. O estereótipo do cientista como um homem de jaleco branco, envolvido em atividades químicas e sem habilidades sociais, foi amplamente representado. Observe-se ainda uma significativa sub-representação feminina.
Quanto aos superdotados, as características se dividiram entre dimensões atitudinais e cognitivas, com ênfase na inteligência, na criatividade e no isolamento social. O bullying apareceu como uma experiência comum relatada pelos participantes. Apesar da percepção de habilidades superiores, a associação entre superdotação e dificuldades sociais se mostrou evidente.
As análises gráficas corroboraram os achados textuais, revelando que, enquanto os cientistas foram retratados de forma estereotipada e frequentemente caricatural, os superdotados tiveram representações mais diversificadas, incluindo alguns elementos autobiográficos.
Discussão
Os achados reforçam a presença de estereótipos de cientistas e superdotados entre os próprios estudantes superdotados, refletindo narrativas culturais extremamente difundidas. A tendência de associar cientistas à alienação social pode estimular a identificação de jovens com carreiras científicas. Da mesma forma, a percepção do superdotado como alguém socialmente isolado pode contribuir para desafios emocionais e dificuldades de acessibilidade.
A presença de sub-representação feminina sugere que, mesmo em um ambiente acadêmico e de pesquisa, a figura do cientista continua sendo majoritariamente masculina, o que pode afetar a inclusão de meninas em carreiras científicas.
Conclusões
Os resultados evidenciam a necessidade de estratégias educacionais que promovam representações mais realistas e inclusivas de cientistas e superdotados, minimizando estereótipos específicos. Intervenções pedagógicas, como a exposição a modelos científicos mais diversos e a discussão sobre superdotação e identidade social, podem contribuir para modificar essas percepções e favorecer a flexibilidade e o engajamento desses grupos.
Keywords : Superdotação; Altas Habilidades; Estereótipo; Cientista; Cinema.
Referência:
MARTINS, Felipe Rodrigues; CARDOSO, Fernanda Serpa; MEIRELLES, Rosane Moreira Silva de. Impressões sobre o cientista e o superdotado por estudantes superdotados . Revista Ciências & Ideias , v. 15, p. e24152431, jan./dez. 2024. Disponível em: https://doi.org /10.22407 / 2176 -1477 /2024 .v15.2431 .