Estudos recentes têm explorado o impacto das altas habilidades cognitivas, especialmente em indivíduos com superdotação e superdotação profunda, sobre o desempenho acadêmico e as dinâmicas emocionais que podem afetar diretamente sua trajetória escolar e profissional. Observa-se que indivíduos com QI extremamente elevado frequentemente exibem características emocionais e comportamentais peculiares, como maior oscilação emocional e forte rejeição a disciplinas que não despertam interesse pessoal, o que tende a comprometer seu desempenho em sistemas de avaliação padronizados (Holling & Preckel, 2005; Silverman, 2012).
No contexto acadêmico, especialmente em países onde o ingresso em cursos de alta competitividade, como medicina, é determinado exclusivamente por notas, indivíduos com superdotação podem enfrentar barreiras substanciais. A sociedade ISI Society e o CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito conduziram um estudo no qual participantes com QI extremamente elevado, selecionados pelo Gifted Debate, apresentaram padrões de comportamento que incluíam abandono da faculdade, baixo desempenho em disciplinas específicas e resistência à rotina escolar tradicional. Segundo o estudo, esses padrões parecem estar ligados ao desinteresse pela rigidez do ambiente acadêmico e à preferência por atividades que promovem a criatividade e a originalidade, elementos raramente valorizados nos sistemas de avaliação convencionais (Baum & Owen, 2004).
Essa dinâmica está correlacionada com o conceito de aversão escolar em superdotados, como identificado por Renzulli e Reis (2003), que destacam que estudantes com inteligência extraordinária frequentemente sentem desmotivação em ambientes que limitam sua expressão criativa e crítica. Em outras palavras, quanto maior o QI, mais intensa é a sensibilidade a estímulos emocionais e a frustração com a educação convencional, fatores que podem resultar em notas abaixo da média ou até mesmo em um abandono total da educação formal. Para esses indivíduos, a padronização dos processos de seleção representa uma limitação significativa, restringindo o acesso a profissões onde suas habilidades cognitivas e criativas poderiam ser altamente valiosas.
A ausência de flexibilidade nos critérios de admissão para cursos como medicina, que valorizam estritamente o desempenho acadêmico linear, implica a exclusão de perfis cognitivos atípicos, como aqueles com superdotação, que possuem grande potencial criativo e inovador (Montgomery, 2012). Este viés no sistema não apenas subutiliza o potencial desses candidatos, mas também impede a diversificação do perfil profissional na medicina, uma área em que habilidades não convencionais podem gerar avanços significativos.
Conclusão
A análise dos efeitos das altas habilidades cognitivas na trajetória acadêmica de indivíduos superdotados indica que a seleção baseada apenas no desempenho linear exclui candidatos com grande potencial para inovação e criatividade, o que seria particularmente vantajoso em áreas como medicina. A reformulação dos critérios de admissão, considerando avaliações mais abrangentes que incluam inteligência emocional e criatividade, poderia permitir um acesso mais inclusivo e melhor aproveitamento dos talentos excepcionais.
Referências
- Baum, S. M., & Owen, S. V. (2004). To Be Gifted & Learning Disabled: Strength-based Strategies for Helping Twice-exceptional Students with LD, ADHD, ASD, and More. Prufrock Press.
- Holling, H., & Preckel, F. (2005). Self-esteem, academic self-concept, and intelligence as predictors of academic achievement. Personality and Individual Differences, 38(2), 265-279.
- Montgomery, D. (2012). Gifted and Talented Children with ADHD: Identification, Assessment, and Treatment. The Journal of Special Education, 46(4), 222-234.
- Renzulli, J. S., & Reis, S. M. (2003). The Schoolwide Enrichment Model: Developing Creative and Productive Giftedness. Phi Delta Kappan, 84(6), 548-554.
- Silverman, L. K. (2012). Giftedness 101. Springer Science & Business Media.