Início ColunaNeurociências Competências socioemocionais e felicidade: Interações com mindfulness, redes sociais e cultura em adultos emergentes

Competências socioemocionais e felicidade: Interações com mindfulness, redes sociais e cultura em adultos emergentes

Utilizando uma amostra binacional composta por adultos emergentes do Nepal e dos Estados Unidos (N = 224), a pesquisa evidencia relações complexas entre fatores psicológicos, comportamentais e culturais que moldam a experiência subjetiva de bem-estar.

por Redação CPAH

O estudo conduzido por Balayar e Langlais (2024) representa uma contribuição relevante à psicologia educacional e ao campo do bem-estar subjetivo, ao investigar como competências socioemocionais (SECs) se relacionam com a felicidade, considerando o papel moderador da atenção plena (mindfulness), do engajamento em mídias sociais (SME) e da orientação cultural. Utilizando uma amostra binacional composta por adultos emergentes do Nepal e dos Estados Unidos (N = 224), a pesquisa evidencia relações complexas entre fatores psicológicos, comportamentais e culturais que moldam a experiência subjetiva de bem-estar.

Do ponto de vista conceitual, as SECs foram operacionalizadas com base no modelo da Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL), que abrange cinco domínios: autoconhecimento, autorregulação, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisões responsáveis. Esses domínios são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e afetivas que sustentam interações interpessoais saudáveis e autorreflexão, essenciais para o florescimento psicológico. A felicidade, por sua vez, foi considerada como um constructo subjetivo multidimensional, incluindo tanto componentes hedônicos (prazer, satisfação) quanto eudaimônicos (realização pessoal, sentido existencial), o que confere robustez à análise teórica da pesquisa.

Os dados demonstraram que tanto as competências socioemocionais (β = 0.38; p < 0.001) quanto a atenção plena (β = 0.39; p < 0.001) estão positivamente associadas à felicidade, corroborando hipóteses anteriores de que a autorregulação emocional e a presença consciente no momento presente estão ligadas ao bem-estar. Contudo, nem mindfulness nem SME moderaram significativamente a relação entre SECs e felicidade, contrariando as expectativas iniciais. Isso sugere que tais variáveis influenciam a felicidade de forma direta e não como moduladores da eficácia das competências socioemocionais.

Um resultado particularmente interessante é o papel da orientação cultural como moderadora na associação entre SECs e felicidade. Participantes norte-americanos com altos níveis de SEC relataram maior felicidade, enquanto, entre os participantes nepaleses, essa relação foi atenuada. Essa diferença cultural reflete distinções entre culturas individualistas (nas quais o bem-estar é frequentemente associado à autonomia e autorrealização) e culturas coletivistas (onde a harmonia social e o pertencimento assumem papel central na experiência de felicidade). A influência cultural, portanto, não é um fator periférico, mas estrutural na compreensão da relação entre habilidades socioemocionais e bem-estar subjetivo.

Adicionalmente, o engajamento em mídias sociais apresentou associação negativa com a felicidade, especialmente entre os participantes norte-americanos, indicando que o uso excessivo de redes sociais pode comprometer o equilíbrio emocional e afetar negativamente a percepção de bem-estar. Embora a SME não tenha moderado a relação entre SECs e felicidade, os dados reforçam que sua influência não deve ser negligenciada, dado seu impacto direto e seu papel no contexto social moderno.

A análise metodológica também merece destaque. A aplicação de regressão hierárquica e testes de moderação com amostras de diferentes contextos culturais permitiu explorar de forma minuciosa os efeitos principais e interações entre as variáveis, mesmo reconhecendo limitações importantes, como o viés de autodeclaração nos instrumentos utilizados e a natureza transversal do estudo, que impede inferências causais.

Em termos práticos, os resultados sugerem que intervenções voltadas ao fortalecimento das competências socioemocionais e à prática da atenção plena podem ter efeito positivo direto sobre a felicidade, especialmente em contextos onde o autoconceito e a agência individual são valorizados. No entanto, programas desenvolvidos em culturas coletivistas devem considerar fatores relacionais e comunitários como mediadores centrais do bem-estar.

Concluindo, o trabalho de Balayar e Langlais (2024) fornece uma base empírica sólida para compreender como variáveis intrapessoais e contextuais interagem na promoção da felicidade. A integração entre competências socioemocionais, mindfulness e fatores culturais oferece uma lente promissora para intervenções personalizadas em saúde mental e educação emocional, sobretudo em tempos marcados pela hiperconectividade e desafios globais ao bem-estar psíquico.

Referência:
BALAYAR, Bhoj; LANGLAIS, Michael. Socioemotional competencies and happiness: the moderation of mindfulness and social media engagement for emerging adults. Academia Mental Health and Well-Being, v. 1, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.20935/MHealthWellB7436. Acesso em: 17 jun. 2025.

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