Introdução
Este estudo teve como objetivo identificar combinações específicas de condições crônicas associadas a maiores riscos de hospitalização e mortalidade durante o inverno de 2021-22, período que coincidiu com a terceira onda da pandemia de COVID-19. Utilizando dados populacionais abrangentes da Inglaterra, a pesquisa buscou fornecer subsídios para políticas de saúde voltadas para reduzir pressões sobre o sistema de saúde durante o inverno.
Métodos
Foram utilizados dados anonimizados do General Practice Extraction Service Data for Pandemic Planning and Research (GDPPR), estatísticas de hospitalização e registros de óbitos do Escritório Nacional de Estatísticas. A análise incluiu 48.253.125 indivíduos adultos, monitorados entre 1º de dezembro de 2021 e 31 de março de 2022.
• Exposição Principal: Foram analisadas combinações de 59 condições crônicas, posteriormente reduzidas a 19 condições consideradas mais relevantes clinicamente.
• Desfechos: Hospitalizações por todas as causas e mortes durante o período do estudo.
• Modelos Analíticos: Modelos de regressão de Poisson ajustados por idade, sexo, etnia e índice de privação social foram empregados para calcular razões de incidência de hospitalização e mortalidade.
Resultados
1. Risco de Hospitalização:
• Indivíduos sem condições crônicas apresentaram uma taxa de hospitalização de 96,3 por 1.000 pessoas/ano.
• A maior taxa de hospitalização foi observada em pessoas com câncer, doença renal crônica, doença cardiovascular e diabetes tipo 2, alcançando 1.643 por 1.000 pessoas/ano.
• Doenças cardiovasculares estiveram presentes em quase todas as combinações de maior risco de hospitalização.
2. Risco de Mortalidade:
• Indivíduos sem condições crônicas apresentaram uma taxa de mortalidade de 1 por 1.000 pessoas/ano.
• A combinação de doença renal crônica, doença cardiovascular, demência e câncer foi a mais letal, com uma taxa de mortalidade de 346 por 1.000 pessoas/ano.
• Demência associada a doenças cardiovasculares apareceu em todas as combinações de maior risco de mortalidade.
3. Desigualdades Demográficas:
• Indivíduos com múltiplas condições crônicas eram geralmente mais velhos (idade média de 61,4 anos), majoritariamente mulheres (61,3%) e predominantemente de etnia branca (88,7%).
Discussão
O estudo destacou o impacto crítico de combinações específicas de condições crônicas, especialmente aquelas envolvendo doenças cardiovasculares, renais e demência. Essas condições foram associadas a um aumento substancial na demanda por serviços de saúde e no risco de mortalidade. As descobertas reforçam a necessidade de intervenções preventivas direcionadas e manejo integrado para essas populações de alto risco, particularmente durante os meses de inverno, quando a pressão sobre o sistema de saúde é mais intensa.
Implicações Práticas
• Para os formuladores de políticas: Priorização de recursos para prevenir hospitalizações e mortes em populações com condições crônicas específicas.
• Para a prática clínica: Integração de cuidados para manejo de condições como doenças cardiovasculares e demência, além de programas de monitoramento para pacientes em risco.
Conclusão
As combinações de condições crônicas, como câncer, doença cardiovascular, doença renal crônica e demência, são fortes preditores de hospitalização e morte durante o inverno. Estes achados podem orientar decisões políticas para alocar recursos de forma eficaz, reduzir a pressão nos serviços de saúde e salvar vidas.
Referência
Islam, N., Shabnam, S., Khan, N., & Gillies, C. (2024). Combinations of multiple long term conditions and risk of hospital admission or death during winter 2021-22 in England: population based cohort study. BMJ Medicine, 3(1), e001016. Disponível em: https://bmjmedicine.bmj.com/content/3/1/e001016