Coluna de Dr. Fabiano de Abreu Agrela
O TEA – Transtornos do Espectro Autista – ainda é um campo onde há muito a ser descoberto, apesar dos grandes e significativos avanços da ciência na compreensão da condição, existem detalhes que não são totalmente entendidos, um dos principais é a sua evolução durante a vida adulta.
Não há apenas uma causa para o desenvolvimento de autismo, ele é multifatorial e pode sofrer influência de inúmeras variáveis, como fatores genéticos, condições neurológicas e mentais pré-existentes, fatores ambientais, entre vários outros, no entanto, entende-se que essa vasta gama de influências converge para prejudicar a comunicação entre os dois hemisférios cerebrais.
A hipoconectividade entre os hemisférios é uma das mais marcantes características do autismo, uma espécie de assimetria entre as funções de cada parte do cérebro, o que gera, principalmente, dificuldade em realizar tarefas que demandem a interação e integração entre os dois hemisférios, como as habilidades sociais.
As dobras presentes no cérebro, conhecidas como giros ou sulcos, possuem uma função primordial para o melhor funcionamento cerebral, elas possibilitam o aumento da área da superfície encefálica, permitindo o aumento do processamento de informações, ou seja, quanto mais dobras um cérebro possuir, maior a sua capacidade de processar informações e estímulos.
No cérebro humano, os lobos frontal, parietal, occipital e temporal desempenham papéis fundamentais em uma variedade de funções, desde o movimento até o pensamento, localizado no topo desses lobos está o córtex cerebral, conhecido como massa cinzenta, onde ocorre o processamento das informações, a presença de dobras no cérebro aumenta a área de superfície do córtex cerebral, permitindo o processamento de mais informações.O que se nota no cérebro de uma pessoa com autismo é uma maior incidência das dobras em determinadas regiões cerebrais, como os lobos parietais e temporais esquerdo e lobos frontais e temporais direitos,o que altera a forma como ocorre a conectividade neuronal.
Também é importante notar que indivíduos com autismo geralmente apresentam um padrão de crescimento acelerado em certas áreas do cérebro, especialmente durante o segundo ano de vida, no entanto, na idade adulta, ocorre um encolhimento, assim como em indivíduos não autistas, embora de forma precoce, geralmente antes dos 20 anos, entretanto, este tipo de redução não implica necessariamente que o cérebro ficará menor em relação ao período de expansão, podendo até mesmo ser maior que a média da população e variando consideravelmente dependendo do nível de severidade do autismo.
Ainda durante a infância pode-se notar uma característica em comum, as altas concentrações de líquido cefalorraquidiano em comparação com os pares não-autistas, esse excesso surge a partir dos 6 meses de idade e vai aproximadamente até os 3 anos.
Alguns sintomas mais tradicionalmente encontrados são dificuldades em usar concomitantemente a linguagem corporal, expressões faciais e manter contato visual, dificuldade em se expressar, não compreender totalmente as “regras sociais”, apresentar reações inesperadas a estímulos visuais, auditivos e táteis, comportamentos repetitivos, não responder ao próprio nome aos 12 meses, entre outros aspectos.
O autismo é um distúrbio multigênico, envolvendo muitos genes, principalmente agindo em conjunto uns com os outros, assim, não existe uma associação direta e linear entre genes e autismo, mas isso não significa que não haja uma base genética para o autismo ou que o distúrbio não seja hereditário. Também deve ser analisado que há casos de pessoas com predisposição genética alta para o autismo e não apresentar os sintomas, então é importante não apenas analisar probabilidades genéticas, como também uma anamnese para os sintomas.
Além disso, pode-se notar, de acordo com algumas pesquisas, uma relação próxima entre o autismo e QI, estudos indicam que mais da metade de todos os indivíduos autistas possuem um QI acima da média e 16%, um superior a 130.
Um conjunto de estudos relatou correlações genéticas positivas entre o risco de autismo e as medidas de capacidade mental, há, pelo menos da minha parte, por enquanto, uma suspeita de predisposição alta para o autismo em relatório genético de pessoas de alto QI. Mesmo que o indivíduo não apresente todos os sintomas de autismo, mas sim, algumas singularidades comuns, também deve-se determinar se é uma forma mais leve como Síndrome de Asperger, ou intermediário como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou o Autismo em si, denominado TEA.
Por isso, a complexidade do autismo ainda é uma das características que dificultam a sua total compreensão, mas com a complementação de conhecimentos de diversas áreas, como neurociência, genética, biologia, psicologia, entre outras, possibilita um conhecimento mais amplo acerca da multifatoriedade e complexidade do TEA.
ISSN: 2763-6895
Prefixo DOI: 10.56238/cpahciencia-011