O cérebro humano possui uma capacidade impressionante de reconhecer rostos, um tema amplamente estudado na neurociência cognitiva. Uma das formas de investigar esse fenômeno é por meio da eletroencefalografia (EEG), que registra a atividade elétrica do cérebro em resposta a estímulos visuais. Duas abordagens populares para estudar a categorização facial são os Potenciais Relacionados a Eventos (ERPs) e os Potenciais Evocados Visuais em Estado Estacionário (SSVEPs). O componente N170 dos ERPs, uma deflexão negativa que ocorre entre 130 e 200 ms após a apresentação de um rosto, é amplamente aceito como um marcador da categorização facial precoce. Já os SSVEPs são respostas neurais contínuas geradas em paradigmas de estimulação visual periódica rápida (FPVS), que envolvem a apresentação repetida de estímulos visuais em alta frequência.
Apesar de ambas as abordagens capturarem aspectos importantes do processamento neural de rostos, não está claro se as respostas de frequência SSVEP podem ser consideradas equivalentes ao N170. Para investigar essa questão, pesquisadores registraram sinais eletrofisiológicos de observadores visualizando imagens de rostos e objetos, comparando diretamente os padrões neurais evocados pelos paradigmas FPVS e ERP.
Os resultados mostraram que não houve uma correspondência direta entre os SSVEPs e o componente N170 dos ERPs. A resposta de frequência do FPVS não pôde ser explicada por um único componente ERP, como o N170, mas foi melhor relacionada à diferença entre os componentes N170 e P2. Isso sugere que a resposta do FPVS reflete uma integração neural complexa posterior, em vez de corresponder a qualquer componente ERP isolado.
Essa descoberta tem implicações importantes para a compreensão dos processos cognitivos envolvidos na categorização facial. Embora tanto os SSVEPs quanto os ERPs sejam indicativos da percepção facial, eles parecem capturar diferentes estágios desse processo. Os SSVEPs podem estar mais associados a uma integração neural contínua, enquanto os ERPs refletem respostas transitórias a estímulos específicos.
O estudo contribui para uma melhor compreensão das bases neurais da percepção facial e destaca a importância de abordagens integradas para investigar os mecanismos cognitivos envolvidos nesse fenômeno complexo.