O bullying, definido como agressões intencionais e repetidas, perpetradas por indivíduos em posição de poder (seja física ou psicológica), é um problema sério que afeta crianças e adolescentes em todo o mundo. Indivíduos com superdotação, apesar de suas habilidades intelectuais acima da média, não estão imunes a essa forma de violência.
A camuflagem social, ou “masking”, é uma estratégia adaptativa utilizada por pessoas, frequentemente dentro do espectro autista, para se adequarem a normas sociais e evitar o isolamento. Embora menos discutida no contexto da superdotação, essa estratégia também pode ser utilizada por indivíduos superdotados que buscam se proteger do bullying e se integrar socialmente.
Estudos revelam que crianças e adolescentes com superdotação são mais propensos a vivenciar o bullying em comparação com seus pares não superdotados. Essa vulnerabilidade pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo a assincronia entre o desenvolvimento cognitivo, físico e emocional, que pode levar à hipersensibilidade emocional e à percepção de serem “diferentes”.
A pesquisa também aponta para a influência de estereótipos de gênero e normas sociais tóxicas na experiência de bullying de indivíduos superdotados. A pressão para se conformar a padrões de masculinidade ou feminilidade pode gerar sofrimento e dificultar a busca por apoio emocional adequado.
A falta de apoio emocional e social pode ter consequências negativas a longo prazo para indivíduos superdotados que sofrem bullying, como o desenvolvimento de comorbidades como depressão e ansiedade. É crucial que a sociedade, as escolas e as famílias estejam atentas a essa problemática e ofereçam suporte adequado a esses indivíduos.
A superdotação, por si só, não é um fator de risco para o bullying. No entanto, a combinação de altas habilidades intelectuais com a necessidade de adaptação social e a vulnerabilidade emocional pode tornar alguns indivíduos superdotados mais suscetíveis a essa forma de violência.
É importante ressaltar que indivíduos superdotados também podem desenvolver mecanismos adaptativos para lidar com o bullying, como a resiliência, a busca por apoio social e o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento. A forma como cada indivíduo lida com o bullying é única e depende de uma variedade de fatores, incluindo suas características pessoais, o apoio social disponível e o contexto em que o bullying ocorre.
A necessidade de políticas sociais e educacionais que abordem a questão do bullying em relação a indivíduos superdotados é evidente. Intervenções que considerem a superdotação como parte da diversidade humana e que promovam a inclusão e o respeito às diferenças são essenciais para garantir o desenvolvimento saudável e o bem-estar de crianças e adolescentes superdotados.
A relação entre superdotação e bullying é complexa e multifacetada. Cada indivíduo é único e reage de maneira diferente ao bullying. A compreensão dessa relação e o apoio adequado são fundamentais para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes superdotados.
Referências:
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