Introdução
A superdotação tem sido associada a uma maior prevalência de condições alérgicas, possivelmente devido a interações entre fatores neurobiológicos, imunológicos e ambientais. Estudos indicam que indivíduos superdotados apresentam maior sensibilidade física e emocional, o que pode estar relacionado a um risco aumentado de doenças autoimunes e alérgicas. O presente estudo investiga essa relação, analisando diferenças na incidência de alergias respiratórias e alimentares entre crianças superdotadas e neurotípicas.
Materiais e Métodos
O estudo caso-controle foi realizado em Adıyaman, Turquia, entre abril e maio de 2023, incluindo 75 crianças superdotadas (QI ≥ 130) e 190 neurotípicas (QI médio). Os participantes responderam a um questionário baseado no protocolo ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood) – Fase 3, ampliado com questões sobre fatores sociodemográficos e histórico clínico. Os dados foram analisados por testes do qui-quadrado e Mann-Whitney U, com significância estatística estabelecida em p<0,05.
Resultados
Os achados indicaram maior prevalência de otites recorrentes em crianças superdotadas (33,3%) em comparação ao grupo controle (20,5%) (p=0,028). Entre os superdotados com otite recorrente, 40% tinham asma, enquanto apenas 16% daqueles sem otite apresentavam a condição (p=0,022). Seletividade alimentar foi significativamente mais comum no grupo superdotado (21,3% vs. 8,4%, p=0,002), sendo associada a maior incidência de asma (50%, p=0,014) e rinite alérgica (37,5%, p=0,029). Crianças superdotadas expostas ao fumo passivo apresentaram risco aumentado para asma (40,9% vs. 17%, p=0,027), confirmando o impacto de poluentes ambientais na exacerbação de alergias.
Discussão
A maior prevalência de alergias em superdotados pode ser explicada por mecanismos psiconeuroimunológicos, onde hiperexcitabilidade emocional e cognitiva levam à ativação exacerbada do sistema nervoso simpático, influenciando negativamente a resposta imune. Além disso, a relação entre seletividade alimentar e alergias sugere que sensibilidades sensoriais e preferências alimentares poderiam ser indicativos de uma predisposição imunológica alterada. O impacto ambiental também se mostrou relevante, com a exposição ao fumo passivo e à poluição contribuindo para o aumento da incidência de asma e rinite alérgica em superdotados, reforçando a importância de fatores externos na manifestação dessas condições.
Conclusão
Este estudo demonstra uma associação significativa entre superdotação e maior predisposição a alergias, destacando a influência de fatores biológicos e ambientais na saúde dessa população. A compreensão desses achados pode orientar abordagens preventivas e terapêuticas personalizadas para crianças superdotadas. Pesquisas futuras devem explorar a interação entre genética e ambiente na modulação da resposta imunológica desses indivíduos.
Referência:
ASHER, M. I. et al. (1995) – Desenvolveu o protocolo ISAAC para avaliar a prevalência e severidade da asma e alergias em crianças.
FRIES, J. et al. (2022) – Investigou a relação entre inteligência elevada e maior sensibilidade fisiológica e emocional, sugerindo maior predisposição a distúrbios imunológicos.
KARPINSKI, R. I. et al. (2018) – Identificou a superdotação como um possível fator de risco para hiperexcitabilidade psicofisiológica e maior incidência de alergias e doenças autoimunes.
NUTTEN, S. (2015) – Descreveu a epidemiologia da dermatite atópica e sua relação com alergias alimentares, destacando sua relevância em crianças.
PÉNARD-MORAND, C. et al. (2005) – Relatou a conexão entre alergias alimentares, asma e rinite alérgica em escolares, sugerindo mecanismos imunológicos compartilhados.
SONG, M. et al. (2023) – Analisou a influência do ambiente urbano e rural na prevalência de asma e rinite alérgica, evidenciando o impacto de fatores ambientais.
TAN, R. A.; CORREN, J. (2011) – Explorou as interações imunológicas entre rinite, asma, sinusite, alergias alimentares e eczema, apontando para mecanismos fisiopatológicos comuns.