Início ColunaNeurociências O que o queixo revela sobre o cérebro: uma análise técnico-morfológica da cognição humana

O que o queixo revela sobre o cérebro: uma análise técnico-morfológica da cognição humana

Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Especialista em Genômica e Neurocientista

A morfologia craniofacial, frequentemente relegada à estética, tem valor informativo para a compreensão do neurodesenvolvimento. No estudo técnico da evolução e da formação do cérebro humano, o queixo retraído — quando inserido em um conjunto anatômico que inclui testa alta, face verticalizada e olhos proporcionalmente grandes — adquire papel indicativo de um perfil neurofuncional que se organiza de forma distinta.

Esse padrão não é especulativo. A neotenia humana, definida pela preservação prolongada de características juvenis, como o encurtamento mandibular e a globularização do crânio, tem implicações diretas na expansão cortical anterior. A flexão da base do crânio, impulsionada por alterações no osso esfenóide, foi determinante para acomodar o aumento dos lobos frontais e temporais, viabilizando funções complexas como a linguagem, a autorregulação emocional e a simulação social.

Nesse cenário, o queixo retraído não é um traço isolado: é parte de uma reorganização estrutural que favoreceu a projeção cerebral sobre a base craniana. Essa adaptação osteoneurológica não apenas permitiu a especialização do córtex pré-frontal, como prolongou os períodos de plasticidade sináptica, típicos da infância, até a idade adulta. Com isso, a mente humana ganhou tempo de reorganização e sofisticação funcional.

A leitura genômica reforça essa perspectiva. O fenótipo infantilizado, em certos contextos, reflete a ativação de marcadores associados à aprendizagem estendida, sensibilidade sensorial e metacognição. Crianças com esse perfil anatômico, quando observadas em conjunto com comportamentos como imitação precoce, foco seletivo e empatia estruturada, expressam padrões de organização neural que não são visíveis de forma convencional, mas que se manifestam com clareza quando analisados sob lentes interdisciplinares.

Portanto, não se trata de extrair diagnósticos de rostos, mas de entender como o corpo comunica as escolhas evolutivas da mente. A forma não é sentença — é código. Um código que, se interpretado com rigor, revela a arquitetura oculta de um cérebro que prioriza adaptação, interação e aprendizado acumulativo.

É tempo de reconhecer que o rosto também fala — e, em muitos casos, fala antes mesmo da fala surgir.

Referências científicas utilizadas:
PETANJEK, Z. et al. Extraordinary neoteny of synaptic spines in the human prefrontal cortex. PNAS, 2011. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.1105108108
SOMEL, M. et al. Transcriptional neoteny in the human brain. PNAS, 2009. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.0900544106
LIEBERMAN, D. E. Sphenoid shortening and the evolution of modern human cranial shape. Nature, 1998. DOI: https://doi.org/10.1038/30314
LIEBERMAN, D. E. et al. The evolution and development of cranial form in Homo sapiens. PNAS, 2002. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.022440799
ABREU, F. de A. R. Psicoconstrução: Uma inovação no campo terapêutico. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, 2021. DOI: https://doi.org/10.51891/rease.v7i10.2546
ABREU, F. de A. R. Psicoconstrucción es innovación en el campo terapéutico. Ciencia Latina, 2022. DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v6i1.1735

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