Antes de entrarmos na questão principal vamos resumir primeiro o que é o complexo de castração. Segundo Freud, é uma fase do desenvolvimento psíquico que ocorre na infância, geralmente entre 5 e 8 anos de idade, podendo variar dependendo do desenvolvimento psíquico da criança, Ele faz parte do processo de desenvolvimento da libido e da personalidade, envolvendo conflitos relacionados ao medo de perda ou punição, especialmente em relação ao pai.
Principais pontos do complexo da castração:
· Medo do castigo: A criança tem medo de que seu pai possa castrá-la, ou seja, privá-la de poder ou de partes do corpo, como símbolo de punição por desejos ou comportamentos considerados inadequados.
· Conflito de autoridade: A criança percebe seu pai como uma figura de autoridade, e a relação com ele envolve questões de poder, controle e medo de perda de segurança.
· Repressão de desejos: Essa fase leva a criança a reprimir desejos considerados proibidos, formando a base para aspectos do desenvolvimento emocional e moral.
· Impulso de identificação: Para lidar com o medo, a criança pode se identificar com o pai, internalizando valores e regras sociais, importantes na formação do superego.
Freud considerava esse complexo uma fase natural e fundamental para o desenvolvimento psicológico, que molda a personalidade adulta, sobretudo na formação do senso de moralidade, da autoestima e das dinâmicas de poder nas relações.
A compreensão do complexo de castração de Freud relacionado a uma criança com autismo, especialmente na fase de 7 a 8 anos, pode ser bastante diferente do desenvolvimento típico. Em crianças autistas, o processamento de conceitos emocionais, simbólicos e sociais costuma ser diferente, muitas vezes mais concreto e menos baseado na compreensão narrativa ou simbólica que Freud pressupõe.
Para uma criança neurotípica (não autista), o complexo de castração está ligado a um entendimento gradativo de diferenças de gênero, poder e medo de perda ou punição, geralmente desenvolvido ao longo do desenvolvimento psíquico, com maior compreensão simbólica na fase de latência (que inclui essa idade).
Para uma criança com autismo, essa fase de entendimento pode ser mais literal, com menos acesso a simbolismos abstratos ou a interpretações emocionais complexas. Assim, ela provavelmente não conceberá o “complexo de castração” como Freud descreve, no sentido simbólico de medo do pai, perda de poder, ou punição imaginada. Em vez disso, ela pode reagir de formas mais concretas ou diferenciadas, talvez focando em aspectos sensoriais ou de rotina, com pouco envolvimento com a dimensão inconsciente do conflito.
Em resumo, o que Freud descreve como complexo de castração é uma construção psíquica que, na criança autista, ocorre, (se ocorre), de forma diferente, muitas vezes de modo mais literal ou superficial, devido às diferenças na forma de processamento psíquico e social. É importante lembrar que o desenvolvimento emocional e psíquico de crianças autistas é bastante heterogêneo, e não há uma resposta única aplicável a todos.
Em síntese, a análise do complexo de castração à luz da teoria de Freud, especialmente ao considerar o autismo, revela que as experiências psíquicas e a compreensão de conceitos simbólicos variam significativamente entre crianças neurotípicas e autistas. Enquanto para as primeiras esse complexo se manifesta através de conflitos internos ligados a simbolismos de poder, medo e punição, nas crianças autistas, essas representações tendem a ser mais concretas e menos simbólicas, refletindo diferenças no processamento emocional e social.
Assim, compreender o desenvolvimento psíquico além da linha do neurotípico exige uma abordagem que considere essas diversidades, reconhecendo que os modos de expressão do conflito, ou de sua ausência, podem ser bastante distintos, mas igualmente essenciais para uma compreensão mais inclusiva e aprofundada da experiência psíquica.