Shaywitz et al. (2001) investigaram a heterogeneidade dentro da população superdotada, comparando meninos com alto QI (140-154), baixo QI (124-139), com dificuldades de aprendizagem e um grupo controle normal. Os resultados indicaram que meninos com alto QI exibiam níveis de problemas comportamentais semelhantes aos meninos com dificuldades de aprendizagem, enquanto meninos com baixo QI demonstravam níveis significativamente menores de problemas comportamentais em comparação com o grupo com dificuldades de aprendizagem.
Os autores utilizaram diversas medidas para avaliar os participantes, incluindo testes de inteligência (WISC-R), testes de desempenho (Woodcock-Johnson Psychoeducational Battery), escalas de avaliação de professores (Abbreviated Conners Teacher Rating Scale) e questionários preenchidos pelos pais (Yale Children’s Inventory – YCI). O YCI avalia dimensões de dificuldades de aprendizagem, com ênfase em déficits de atenção, e fornece escalas que refletem características comportamentais, atencionais e cognitivas.
A análise dos dados revelou que os grupos diferiram significativamente em termos de status socioeconômico, mas não em idade ou etnia. As pontuações médias no YCI para o grupo com dificuldades de aprendizagem foram sistematicamente mais altas (indicando pior desempenho) do que as médias dos outros três grupos, especialmente nas escalas de Habituação, Linguagem, Atenção e Acadêmicas. As médias para o grupo normal geralmente estavam na faixa média em todas as medidas.
As médias para o grupo com baixo QI foram as mais baixas de todos os grupos (indicando melhor desempenho), com exceção das escalas de Afeto Negativo e Acadêmicas. Já as médias para o grupo com alto QI foram geralmente mais altas do que as médias correspondentes para os grupos normal e baixo QI, com a escala de Tratabilidade apresentando uma média particularmente alta.
Os autores concluem que a população superdotada é heterogênea, com os meninos de alto QI exibindo mais problemas comportamentais do que os meninos de baixo QI. Essa heterogeneidade pode explicar os resultados inconsistentes de estudos anteriores sobre crianças superdotadas. Os autores também sugerem que as características comportamentais dos meninos com alto QI podem assemelhar-se às encontradas em crianças com dificuldades de aprendizagem, e que a alta inteligência pode ser um fator de vulnerabilidade para dificuldades sociais e emocionais.
Referência:
SHAYWITZ, Sally E. et al. Heterogeneity within the gifted: Higher IQ boys exhibit behaviors resembling boys with learning disabilities. Journal of learning disabilities, v. 34, n. 1, p. 26-39, 2001.
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