Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, Pós PhD em Neurociências
A recente manifestação de membros de sociedades de alto QI, que expressaram decepção ao encontrar entre seus pares pessoas que não corresponderam às suas expectativas de inteligência, evidencia uma distorção recorrente: a compreensão limitada do que, de fato, é inteligência.
O primeiro ponto necessário para essa análise é a definição técnica. O coeficiente intelectual, quando avaliado por testes supervisionados e cientificamente validados, como o Escala de Inteligência de Wechsler, é uma medida confiável da inteligência lógica, analítica, de processamento, de compreensão verbal, de raciocínio perceptual, de memória de trabalho, e de velocidade de processamento. Trata-se, até hoje, da ferramenta mais sólida para quantificar aspectos fundamentais da cognição, dentro dos parâmetros da inteligência de agir e resolver.
Entretanto, o QI não contempla a totalidade da inteligência humana. Ele não avalia com precisão a inteligência emocional, a capacidade criativa subjetiva ou as competências sociais complexas. A criatividade subjetiva, definida pela habilidade de gerar ideias não aprendidas formalmente, é um exemplo claro de uma dimensão intelectual que ultrapassa os limites dos testes tradicionais.
Foi com base nessa constatação que concebi o conceito de DWRI — Desenvolvimento de Amplas Regiões de Interferência Intelectual. A inteligência verdadeira, sob esta perspectiva, é o resultado da integração eficiente entre as regiões cerebrais que sustentam não apenas a lógica, foco atencional e a memória de trabalho, mas também a inteligência emocional, a adaptabilidade social e a criatividade original.
Dessa forma, o erro de percepção entre alguns membros de sociedades de alto QI reside na crença rígida de que inteligência se manifesta de maneira uniforme e previsível. Quando esperam encontrar apenas expressões de raciocínio lógico imediato ou habilidades técnicas evidentes, ignoram que a inteligência também se manifesta na capacidade de abstrair, de compreender emocionalmente, de criar novos referenciais e de interagir com o inesperado.
Outro aspecto relevante é a compreensão da dupla excepcionalidade. Indivíduos superdotados que apresentam condições como TDAH ou autismo podem expressar disfunções específicas, como dificuldades de atenção ou de processamento social, sem que isso anule suas capacidades intelectuais superiores. No caso do TDAH, déficits de atenção e memória de trabalho podem obscurecer a demonstração da inteligência plena. No autismo, rigidez de pensamento e dificuldade de interpretação emocional podem limitar a comunicação da inteligência para o meio social.
A inteligência, portanto, não é um atributo absoluto, nem linear. Exige avaliação técnica rigorosa e sensibilidade interpretativa. O teste de QI supervisionado é uma referência válida e necessária, mas não exclusiva. A inteligência integral deve ser avaliada também pelas expressões de criatividade espontânea, pela capacidade de abstração emocional e pelo entendimento subjetivo do mundo.
Testes rápidos, como o Raven e similares, avaliam apenas aspectos restritos da inteligência, como o raciocínio lógico-abstrato e a capacidade de identificar padrões visuais. Embora úteis para estimar o percentil de desempenho em comparação à média populacional, não revelam a pontuação de QI nem oferecem uma medida abrangente da inteligência total.
A inteligência, entendida como a integração entre lógica, processamento eficiente, memória operacional, compreensão verbal, criatividade subjetiva e inteligência emocional, ultrapassa amplamente o que tais instrumentos podem captar. Comportamentos como a perseguição a outras pessoas, o desejo consciente de prejudicar o próximo, o fanatismo e o julgamento rígido expõem, na realidade, déficits significativos em componentes fundamentais da inteligência. Estes comportamentos indicam descompensações nas dimensões emocionais, sociais e adaptativas, sugerindo que, apesar de possíveis habilidades específicas preservadas, a inteligência geral encontra-se comprometida em sua definição mais ampla e integrada.
Concluo que a verdadeira medida da inteligência inclui a capacidade de reconhecer suas múltiplas dimensões, inclusive nos outros. Uma percepção restrita ou rígida da inteligência revela, paradoxalmente, uma limitação cognitiva em quem a sustenta.
Inteligência: Um Conceito Mais Complexo do Que Se Pensa
O coeficiente intelectual, quando avaliado por testes supervisionados e cientificamente validados, como o Escala de Inteligência de Wechsler, é uma medida confiável da inteligência lógica, analítica, de processamento, de compreensão verbal, de raciocínio perceptual, de memória de trabalho, e de velocidade de processamento.
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