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Generalização do QI no Autismo: Um Padrão com Lógicas e Exceções

Essa projeção encontra respaldo na herdabilidade do QI, que estudos apontam estar entre 60% e 80% na idade adulta, com influência poligênica, ou seja, determinada por centenas de variantes genéticas de pequeno efeito somado.

Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

Quando projetamos o QI de um filho a partir da pontuação dos pais, estamos recorrendo a um modelo lógico e estatisticamente fundamentado. Por exemplo, considerando um pai com QI de 130 e uma mãe com QI de 115, a média esperada para o filho ou filha gira em torno de 120. Essa projeção encontra respaldo na herdabilidade do QI, que estudos apontam estar entre 60% e 80% na idade adulta, com influência poligênica, ou seja, determinada por centenas de variantes genéticas de pequeno efeito somado.

No entanto, ao introduzirmos a variável do autismo, mesmo em níveis funcionais, essa equação precisa de uma leitura mais refinada. No caso de uma criança autista nível 1, cuja funcionalidade é preservada e há presença de padrões cognitivos atípicos mas organizados, o QI pode ultrapassar a média estimada e chegar próximo ou até superar os 130 pontos. Em contrapartida, um indivíduo no nível 2 do espectro pode expressar a mesma herança genética, mas apresentar um desempenho na faixa de 100, devido a fatores neurodesenvolvimentais que afetam diretamente a comunicação, adaptação e flexibilidade cognitiva.

Essa diferença se explica pela forma como o cérebro autista expressa o potencial genético herdado. A mesma combinação de alelos favoráveis pode resultar em trajetórias cognitivas distintas, a depender da interação com o ambiente, da epigenética e da forma como o sistema nervoso central organiza suas conexões. A curva de desenvolvimento, nesse caso, não segue um padrão homogêneo. Há amplificações em determinadas áreas e restrições em outras, o que altera a manifestação prática da inteligência.

O título deste artigo se refere à ideia de “generalização” justamente porque, embora não possamos afirmar com precisão absoluta o QI de uma criança autista apenas com base nos pais, principalmente levando em consideração a neuroplasticidade e sistema compensatório no cérebro, o padrão médio ainda tem valor preditivo. É comum que filhos de pais com alto QI apresentem também pontuações elevadas, mesmo dentro do espectro. Mas é preciso considerar que o autismo introduz variáveis específicas de organização cerebral que podem modular essa expressão.

Logo, generalizar o QI é possível quando nos baseamos em tendências genéticas e estatísticas. Mas, ao lidarmos com o espectro autista, reconhecer as exceções à regra é uma demonstração de precisão lógica, não de contradição.

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