Início ColunaNeurociências Acesso Preferencial de Imagens Tripofóbicas à Consciência Visual: Evidências e Implicações Neuropsicológicas

Acesso Preferencial de Imagens Tripofóbicas à Consciência Visual: Evidências e Implicações Neuropsicológicas

Esse método permite avaliar o tempo que uma imagem leva para atingir a consciência quando apresentada em um olho e suprimida por padrões dinâmicos no outro.

por Redação CPAH

Imagens tripofóbicas — geralmente compostas por agrupamentos de pequenos buracos ou protuberâncias — são capazes de provocar desconforto e aversão em uma parcela significativa da população, mesmo quando não apresentam conteúdo ameaçador direto. No estudo conduzido por Shirai e Ogawa (2019), os autores investigaram experimentalmente se essas imagens têm um acesso privilegiado à consciência visual em comparação com outros tipos de estímulos visuais, utilizando o paradigma do “breaking continuous flash suppression” (b-CFS). Esse método permite avaliar o tempo que uma imagem leva para atingir a consciência quando apresentada em um olho e suprimida por padrões dinâmicos no outro.

Os resultados demonstraram que imagens tripofóbicas emergem para a consciência significativamente mais rápido do que imagens neutras, relacionadas ao medo (como predadores) ou meramente com padrão de aglomeração (sem evocação emocional clara). Isso sugere que há uma vantagem perceptiva específica associada à tripofobia. No entanto, essa vantagem desapareceu quando as imagens foram embaralhadas em fase (preservando apenas o espectro de potência espacial), o que indica que os atributos físicos por si só — especificamente a distribuição de energia em frequências espaciais médias — não são suficientes para explicar o efeito.

Este achado é relevante por duas razões. Primeiro, ele contradiz parcialmente a hipótese de que o espectro de potência anômalo (alto contraste em frequências espaciais médias), frequentemente observado em imagens tripofóbicas, seria o fator determinante do desconforto e do rápido acesso à consciência. Segundo, ele reforça a ideia de que fatores emocionais ou cognitivos — como a associação inconsciente com sinais de doenças contagiosas — interagem com aspectos visuais para facilitar a detecção consciente. A ausência de diferenças em arousal (excitação emocional) entre imagens tripofóbicas e as demais após embaralhamento de fase também reforça essa interpretação, sugerindo que a valência emocional negativa pode emergir de componentes estruturais mais complexos do que o espectro de potência isolado.

Do ponto de vista neuropsicológico, a sensibilidade a padrões tripofóbicos pode estar enraizada em mecanismos evolutivos de detecção de ameaças biológicas sutis, como infecções cutâneas ou organismos venenosos. Esse viés atencional automatizado poderia ter sido vantajoso do ponto de vista adaptativo, conferindo uma vantagem em termos de sobrevivência — uma hipótese alinhada com a chamada “teoria do sistema imunológico comportamental”. Curiosamente, mesmo sob condições de supressão interocular, imagens tripofóbicas demonstraram romper a barreira da consciência mais rapidamente do que outras, apontando para a possibilidade de processamento emocional implícito em estágios pré-conscientes.

Em termos metodológicos, a inclusão de uma condição de não-supressão permitiu aos autores diferenciar entre efeitos puramente perceptivos e efeitos pós-perceptuais, como tempo de reação e decisão motora. O fato de que as diferenças foram mais marcantes sob CFS sugere que as imagens tripofóbicas não apenas provocam respostas emocionais negativas, mas também influenciam os estágios iniciais da percepção visual.

Em resumo, a pesquisa de Shirai e Ogawa (2019) fornece evidências empíricas robustas de que imagens tripofóbicas possuem um acesso privilegiado à consciência visual, efeito que não pode ser atribuído exclusivamente às suas propriedades visuais de baixa complexidade, como o espectro de potência. A interação entre padrões de repetição espacial e avaliação afetiva inconsciente parece ser o motor subjacente dessa priorização. Tais achados abrem caminho para investigações futuras que combinem medidas fisiológicas (como resposta galvânica da pele ou neuroimagem funcional) para explorar os correlatos neurais do processamento tripofóbico.

Referência:
SHIRAI, Risako; OGAWA, Hirokazu. Trypophobic images gain preferential access to early visual processes. Consciousness and Cognition, v. 67, p. 56–68, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.11.009. Acesso em: 17 jun. 2025.

Alguns destaques

Deixe um comentário

12 − um =

Translate »