A relação entre inteligência e desempenho acadêmico tem sido objeto de investigações contínuas na psicologia e na educação. No estudo conduzido por Kpolovie (2016), publicado no International Journal of Recent Scientific Research, essa relação foi examinada de maneira sistemática ao longo de quatro anos com uma amostra de 637 estudantes nigerianos acompanhados desde os 14 até os 17 anos de idade. O desenho metodológico adotado foi o de pesquisa longitudinal, utilizando o Culture Fair Intelligence Test (CFIT) para mensurar a inteligência, e os exames JSCE e SSCE como indicadores de desempenho acadêmico em Matemática e Língua Inglesa. A análise estatística aplicou correlação parcial para isolar os efeitos das variáveis.
O estudo revela uma forte relação entre quociente de inteligência (QI) e desempenho acadêmico, particularmente em Matemática. Quando controlado o efeito da Língua Inglesa, a correlação entre QI e desempenho matemático foi de 0.499 no ensino júnior e de 0.495 no ensino sênior. Isso significa que a inteligência explica cerca de 24,9% e 24,5% da variância no desempenho matemático, respectivamente. Para a Língua Inglesa, quando controlado o efeito da Matemática, as correlações foram de 0.411 e 0.346, indicando que o QI respondeu por 16,89% e 11,97% da variação no desempenho em inglês, respectivamente nos dois níveis de ensino analisados (Kpolovie, 2016, p. 11429-11433).
Um ponto particularmente notável do estudo foi a evidência de estabilidade da inteligência ao longo dos quatro anos: a correlação entre os escores de QI nos dois momentos foi de 0.702, reforçando a robustez teórica da diferenciação entre inteligência fluida (gf) e cristalizada (gc), como proposto por Cattell. De acordo com essa teoria, a inteligência fluida se estabiliza após os 14 anos — exatamente a idade inicial da amostra investigada — enquanto a cristalizada continua a se desenvolver com base em experiências escolares e culturais (Kpolovie, 2016, p. 11433-11434).
O estudo também apresenta um dado conceitualmente relevante: quando o efeito da inteligência foi controlado, a correlação entre o desempenho em Matemática e em Inglês caiu drasticamente e deixou de ser estatisticamente significativa. Isso sugere que a aparente relação entre essas disciplinas deriva, em grande parte, de um fator latente comum — a inteligência geral —, e não de um impacto direto entre uma disciplina e outra. Essa observação evidencia que a inteligência atua como um construto integrador que influencia múltiplas esferas do desempenho escolar, reforçando sua centralidade nas teorias cognitivas (Kpolovie, 2016, p. 11431-11433).
Adicionalmente, o autor aponta que, embora fatores como ambiente escolar, métodos pedagógicos e motivação também afetem o desempenho acadêmico, é a inteligência — entendida como a capacidade mental geral de aprender rapidamente, resolver problemas, pensar racionalmente e adaptar-se de modo eficiente — que exerce papel preponderante e frequentemente negligenciado nas políticas educacionais de países em desenvolvimento como a Nigéria (Kpolovie, 2016, p. 11427-11428).
Conclui-se que o estudo apresenta evidências empíricas robustas de que a inteligência, especialmente em sua dimensão fluida, está fortemente associada ao desempenho acadêmico em contextos formais de ensino. Políticas públicas e práticas pedagógicas que desconsiderem essa variável correm o risco de obscurecer um dos principais determinantes do sucesso escolar. Tal como o próprio autor defende, é urgente incorporar avaliações de inteligência como ferramenta diagnóstica e preditiva no sistema educacional, não com o intuito de rotular, mas de personalizar intervenções e maximizar o desenvolvimento cognitivo dos alunos.
Referência:
KPOLOVIE, P. J. Intelligence and academic achievement: a longitudinal survey. International Journal of Recent Scientific Research, v. 7, n. 5, p. 11423–11439, 2016.