Início ColunaNeurociências Traços comportamentais de pessoas superdotadas com TDAH e TAG: Uma perspectiva neurogenética e comportamental

Traços comportamentais de pessoas superdotadas com TDAH e TAG: Uma perspectiva neurogenética e comportamental

Esta revisão visa elucidar os traços comportamentais e as bases neurogenéticas que definem a coexistência desses três vetores, explorando como eles se manifestam e interagem no comportamento do indivíduo.

A intersecção entre superdotação, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um domínio de crescente interesse no campo da neurociência comportamental e genética. Esta revisão visa elucidar os traços comportamentais e as bases neurogenéticas que definem a coexistência desses três vetores, explorando como eles se manifestam e interagem no comportamento do indivíduo.

1. Perfil Comportamental e Cognitivo

Indivíduos superdotados são frequentemente caracterizados por um quociente de inteligência significativamente acima da média, habilidades superiores de resolução de problemas e um alto nível de criatividade. Contudo, quando essa superdotação coexiste com TDAH, surgem desafios adicionais, tais como dificuldades em manter a atenção e uma predisposição à impulsividade, que podem mascarar as habilidades intelectuais do indivíduo (Webb & Latimer, 1993). Adicionalmente, o TAG pode exacerbá-los com uma camada de ansiedade persistente e preocupação excessiva, levando a um estado de alerta contínuo e dificuldade em relaxar, o que complica ainda mais o desempenho cognitivo e comportamental (Kessler et al., 2005).

2. Fundamentos Genéticos e Neurobiológicos

A genética desempenha um papel crucial na manifestação dessas condições. Estudos de associação genômica ampla (GWAS) identificaram loci específicos que influenciam a superdotação, enquanto variantes genéticas relacionadas ao TDAH e ao TAG impactam principalmente nos sistemas de neurotransmissão dopaminérgicos e na regulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), respectivamente (Faraone et al., 2015; Kessler et al., 2012).

3. Interseção Neurofuncional e Implicações Clínicas

Neuroimagem funcional revela que a superdotação está associada a uma conectividade aumentada em redes neurais pré-frontais e parietais. No entanto, o TDAH introduz disfunções na rede de modo padrão (default mode network – DMN), essencial para a manutenção da atenção. O TAG é caracterizado por uma hiperatividade da amígdala e uma desregulação da conectividade amígdala-córtex pré-frontal, complicando ainda mais a regulação emocional e a ansiedade (Castellanos et al., 2006; Phan et al., 2009).

Essa complexa interação entre superdotação, TDAH e TAG pode tornar desafiadora a identificação e diferenciação dessas condições. Frequentemente, a superdotação pode ser subestimada ou mal interpretada devido às manifestações comportamentais do TDAH e TAG, levando a diagnósticos e intervenções inapropriadas. Assim, é imperativo que as avaliações diagnósticas sejam holísticas e multidimensionais, considerando a possibilidade de coocorrência dessas condições e utilizando abordagens terapêuticas que sejam sensíveis às necessidades individuais do paciente.

Conclusão

A integração de insights da genética, neuroimagem e psicologia clínica é vital para uma compreensão abrangente e eficaz das implicações da coexistência de superdotação, TDAH e TAG. Avaliações cuidadosas e abordagens terapêuticas personalizadas são cruciais para maximizar o potencial desses indivíduos e minimizar as barreiras ao seu desempenho e bem-estar.

Referências

  • Castellanos, F. X., et al. (2006). Large-scale brain systems in ADHD: Beyond the prefrontal-striatal model. Trends in Cognitive Sciences, 16(1), 17-26.
  • Faraone, S. V., et al. (2015). Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nature Reviews Disease Primers, 1, 15020.
  • Kessler, R. C., et al. (2012). The genetics of major depression. *Review of

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