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Desafios e barreiras no diagnóstico de superdotação em mulheres: Uma análise crítica

Embora a prevalência de superdotação seja similar entre os gêneros, estudos indicam uma subnotificação significativa entre mulheres, provocada por múltiplos fatores que merecem uma investigação detalhada.

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A superdotação, tradicionalmente definida pela psicometria como um quociente de inteligência significativamente superior à média, é um fenômeno cuja detecção e reconhecimento são frequentemente influenciados por fatores culturais, sociais e de gênero. Embora a prevalência de superdotação seja similar entre os gêneros, estudos indicam uma subnotificação significativa entre mulheres, provocada por múltiplos fatores que merecem uma investigação detalhada.

  1. Diferenças na Manifestação dos Sintomas: A literatura sugere que as meninas superdotadas frequentemente exibem características como perfeccionismo, ansiedade e compulsividade, contrastando com os traços de hiperatividade e impulsividade mais observados em meninos (Kerr, B. A., & McKay, R., 2014). Essas diferenças comportamentais podem mascarar a superdotação em meninas, dificultando sua identificação e o encaminhamento para programas de enriquecimento educacional apropriados.
  2. Expectativas Sociais e de Gênero: Normas sociais e expectativas de gênero desempenham um papel crucial na forma como meninas superdotadas percebem a si mesmas e escolhem se expressar. O conformismo às expectativas de feminilidade tradicionalmente associadas à passividade e submissão pode levar meninas superdotadas a ocultar suas capacidades intelectuais para se alinharem às normas sociais, um fenômeno amplamente discutido na psicologia do desenvolvimento (Reis, S. M., 1998).
  3. Falta de Identificação com Modelos: A representação cultural de indivíduos superdotados é predominantemente masculina, como evidenciado em personagens de filmes e literatura. Essa falta de modelos femininos de superdotação contribui para um fenômeno de desidentificação entre meninas superdotadas, que podem não ver suas próprias capacidades refletidas nos exemplos disponíveis (Silverman, L. K., 1993).
  4. Viés Diagnóstico: Profissionais da educação e da saúde frequentemente possuem viés inconsciente que pode influenciar a avaliação da superdotação. Estudos mostram que há uma tendência à subestimação do potencial intelectual de meninas, com atribuições frequentes de seus comportamentos a fatores emocionais ou relacionais, em detrimento de suas habilidades cognitivas (Jacobs, J. E., 2005).

Este panorama evidencia a necessidade de uma revisão das práticas diagnósticas e de um questionamento das normas culturais e sociais que permeiam a identificação de talentos excepcionais em mulheres. É imperativo que sistemas educacionais e profissionais de saúde estejam atentos a essas discrepâncias e trabalhem ativamente para mitigar os efeitos do gênero nas avaliações de superdotação.

Referências

Jacobs, J. E. (2005). Gender and the stratified curriculum: Our complicity in the sorting machine. In A. Hargreaves (Ed.), Extending educational change: International handbook of educational change. Kluwer Academic Publishers.

Kerr, B. A., & McKay, R. (2014). Smart girls in the 21st century: Understanding talented girls and women. Great Potential Press.

Reis, S. M. (1998). Work left undone: Choices and compromises of talented females. Creative Learning Press.

Silverman, L. K. (1993). Counseling the gifted and talented. Love Publishing Co..

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