Início ColunaNeurociências Pessoas de alto QI podem ter cegueira ideológica? 

Pessoas de alto QI podem ter cegueira ideológica? 

A investigação da relação com as mesmas regiões cerebrais em pessoas de alto QI, tem como intuito a definição sobre a interferência da inteligência neste sentido e, se é possível existirem pessoas de alto QI com cegueira ideológica. 

A cegueira ideológica, um fenômeno onde os indivíduos têm dificuldade em processar ou aceitar informações que contradizem suas crenças preestabelecidas, envolve várias áreas do cérebro associadas tanto ao processamento emocional quanto ao cognitivo. A investigação da relação com as mesmas regiões cerebrais em pessoas de alto QI, tem como intuito a definição sobre a interferência da inteligência neste sentido e, se é possível existirem pessoas de alto QI com cegueira ideológica. 

Córtex Pré-Frontal

Córtex Orbitofrontal: Participa no processamento emocional e na atribuição de valor às experiências, o que pode contribuir para a manutenção de crenças ideológicas quando as emoções superam a lógica (Agrela Rodrigues, F. de A., 2022).

O córtex orbitofrontal (COF), uma região cerebral crítica para a modulação da cognição e emoção, exibe uma associação significativa com os quocientes de inteligência elevados. Envolvido primordialmente na avaliação de recompensas e riscos, bem como na regulação das respostas emocionais, o COF é fundamental para a tomada de decisões complexas e o raciocínio abstrato. Indivíduos com maior coeficiente intelectual frequentemente apresentam uma conectividade aumentada e uma atividade mais robusta no COF, o que sugere uma capacidade superior de integrar informações e controlar impulsos emocionais em favor de escolhas mais racionais e objetivas. Essas características são cruciais não apenas na resolução de problemas complexos, mas também na capacidade de formular e ajustar crenças baseadas em lógica em vez de emoção, implicando um papel central do COF na mediação entre inteligência elevada e processos cognitivos avançados (Schnack et al., 2015).

Córtex Dorsolateral Pré-Frontal (DLPFC): Essencial para funções executivas como o pensamento crítico e o raciocínio. Uma função reduzida ou alterada nesta área pode diminuir a capacidade de questionar ou reavaliar crenças em face de novas informações (Agrela Rodrigues, F. de A., 2022). 

O córtex dorsolateral pré-frontal (DLPFC), um epicentro das funções executivas incluindo raciocínio e pensamento crítico, desempenha um papel crucial na modulação da inteligência e na suscetibilidade à cegueira ideológica. Investigações neurocientíficas indicam que uma alta capacidade cognitiva, muitas vezes medida como quociente de inteligência (QI), correlaciona-se com uma atividade intensificada e eficiente nesta região, facilitando o processamento analítico avançado e a reavaliação de crenças em resposta a novos dados. Paradoxalmente, alterações na funcionalidade do DLPFC, quer por disfunção neural ou por influências genéticas subjacentes, podem comprometer estas capacidades, resultando em uma aderência rígida a ideologias mesmo diante de evidências contraditórias. Este fenômeno ilustra a complexidade das interações entre capacidade cognitiva elevada e vulnerabilidades neuropsicológicas que podem coexistir, influenciando a maneira como as informações são processadas e as decisões são tomadas (Barbey, Colom, & Grafman, 2013).

Córtex Ventromedial Pré-Frontal: Envolvido na tomada de decisão e emoção, esta região ajuda a regular respostas emocionais a desafios às crenças pessoais, o que pode afetar a abertura à mudança de opinião (Agrela Rodrigues, F. de A., 2022).

O córtex ventromedial pré-frontal (vmPFC), uma região cerebral intrinsecamente ligada à integração de emoções na tomada de decisão, manifesta uma relação complexa com a capacidade intelectual elevada e a cegueira ideológica. Indivíduos com alto quociente de inteligência (QI) frequentemente apresentam uma atividade vmPFC otimizada, que teoricamente facilitaria a avaliação crítica e adaptativa das informações. Contudo, em contextos onde crenças profundamente arraigadas são desafiadas, a mesma região pode mediar respostas emocionais intensas que obstaculizam a revisão de convicções, propiciando a cegueira ideológica. Esta dinâmica sugere que, embora a capacidade de processamento racional no vmPFC possa ser amplificada em pessoas com alto QI, a regulação emocional que esta área cerebral também coordena pode, paradoxalmente, contribuir para a manutenção de perspectivas inflexíveis quando confrontada com evidências contrárias, sublinhando a dualidade funcional do vmPFC em contextos cognitivos e emocionais (Hiser & Koenigs, 2017).

Sistema Límbico

Amígdala: Central para o processamento de emoções, especialmente medo e raiva, que podem ser intensamente provocados quando crenças fundamentais são desafiadas.

A amígdala, um núcleo neural crucial no processamento de emoções como medo e raiva, desempenha um papel significativo nas respostas emocionais de indivíduos com alto quociente de inteligência (QI) confrontados com desafios às suas crenças fundamentais. A intensidade das reações emocionais mediadas pela amígdala pode, paradoxalmente, contribuir para a cegueira ideológica em pessoas com alta capacidade cognitiva. Embora indivíduos com alto QI possam exibir uma capacidade superior de raciocínio lógico, a ativação acentuada da amígdala em situações de conflito ideológico pode suprimir essa racionalidade, favorecendo reações emocionais que impedem a reconsideração de crenças arraigadas. Esse fenômeno ilustra uma interação complexa entre capacidades cognitivas elevadas e mecanismos emocionais inatos, onde a predisposição genética e a configuração neural específica da amígdala influenciam como as informações contrárias são processadas e aceitas (Li, Y., Xue, Y., Zhao, W.-t., Li, S.-s., Li, J., & Xu, Y., 2020).

Hipocampo: Embora principal na formação de memórias, o hipocampo também está envolvido na recuperação de memórias que podem reforçar ou contestar crenças ideológicas.

O hipocampo, uma estrutura neural pivotal na codificação e recuperação de memórias, exerce um papel significativo no processamento cognitivo associado a indivíduos de alto quociente de inteligência (QI) e na manifestação da cegueira ideológica. A integridade funcional e estrutural do hipocampo facilita a gestão de informações complexas e a resolução de problemas, características comuns em pessoas com alto QI. Contudo, sua função na recuperação de memórias pode igualmente contribuir para a reafirmação de crenças preexistentes, potencializando a resistência à aceitação de novas perspectivas que contrariam convicções ideológicas arraigadas. Assim, enquanto o hipocampo suporta capacidades cognitivas avançadas essenciais para o raciocínio analítico, também pode reforçar viés de confirmação, um componente chave na cegueira ideológica, através da seleção preferencial e recuperação de informações que corroboram com as crenças do indivíduo, demonstrando a complexidade de suas funções no espectro cognitivo-emocional (Dalton et al., 2017).

Cíngulo Anterior: Uma parte do cíngulo que está envolvida na resolução de conflitos e regulação emocional. Problemas aqui podem levar a uma maior rigidez ideológica, pois o indivíduo pode ter dificuldade em gerenciar o desconforto emocional causado por discrepâncias cognitivas.

O cíngulo anterior, componente neural crítico para a resolução de conflitos e regulação emocional, desempenha uma função dual ao interagir com altos níveis de quociente de inteligência (QI) e a cegueira ideológica. Esta região cerebral é instrumental na modulação de respostas a dissonâncias cognitivas, facilitando a flexibilidade de pensamento em indivíduos com alta capacidade intelectual ao avaliar e integrar informações contraditórias. Contudo, anomalias na funcionalidade do cíngulo anterior podem comprometer este mecanismo, conduzindo a uma rigidez ideológica acentuada. Em contextos onde ocorrem desafios às crenças estabelecidas, falhas na capacidade do cíngulo anterior de mediar o desconforto emocional podem resultar na manutenção de perspectivas inflexíveis, apesar de evidências em contrário, destacando sua relevância na intersecção entre capacidades cognitivas avançadas e susceptibilidade a distorções ideológicas (Botvinick, Cohen, & Carter, 2004). 

Conclui-se então que o alto QI não garante imunidade à cegueira ideológica. A capacidade intelectual elevada precisa ser acompanhada da habilidade de gerenciar emoções, ou seja, da inteligência emocional. Questionar crenças e manter a mente aberta a novas perspectivas para evitar a rigidez ideológica e promover o pensamento crítico e a busca pela verdade. O teste de QI mede a inteligência g, mas não mede a inteligência emocional e social. Portanto, pessoas de alto QI podem apresentar cegueira emocional, exceto aqueles com alta inteligência emocional. 

Alguns destaques

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