A orientação para diminuir a ingestão de alimentos ultraprocessados (AUPs) visa prevenir condições metabólicas adversas, como obesidade e diabetes tipo 2 (DM2). Tais doenças comprometem a função de órgãos, tecidos ou células, devido a falhas no processamento ou síntese de substâncias metabólicas.
A origem exata das patologias metabólicas ainda é incerta, mas é conhecido que fatores genéticos e ambientais, incluindo a dieta, desempenham um papel significativo na sua emergência.
Os AUPs são definidos pelo sistema NOVA como produtos de complexas formulações industriais, incluindo substâncias extraídas, aditivos e mínimos componentes naturais. Exemplos comuns são bolos, snacks, embutidos e refrigerantes.
Estudos recentes apontam para uma relação entre o consumo de AUPs e a prevalência de diversas condições metabólicas, embora haja debates sobre a precisão dessas associações devido a possíveis vieses.
Detalhes do estudo Esta investigação analisou revisões sistemáticas com meta-análises em uma revisão guarda-chuva (RU), visando verificar a solidez das evidências que ligam o consumo de AUPs a doenças metabólicas.
Foi feita uma busca abrangente nas bases de dados Web of Science, PubMed, Embase e Cochrane Library até 15 de julho de 2023, sem restrições de idioma e seguindo um processo de seleção rigoroso que excluiu estudos não focados em humanos ou dados específicos.
Resultados principais A análise detalhada de 13 meta-análises destacou uma conexão consistente entre altos níveis de ingestão de AUPs e o risco aumentado de obesidade e DM2.
Particularmente, o estudo identificou um risco 1,55 vezes maior de obesidade correlacionado ao consumo elevado de AUPs, baseado em dados de estudos transversais e coortes prospectivos, sublinhando a necessidade de considerar a redução de AUPs nas diretrizes dietéticas futuras.
Além disso, duas meta-análises apontaram para uma relação significativa entre AUPs e DM2, especialmente no que diz respeito ao consumo de carnes processadas e bebidas açucaradas, sugerindo uma dose-resposta na associação.
No entanto, a ligação entre AUPs e outras doenças metabólicas como doença hepática gordurosa não alcoólica, hipertensão e síndrome metabólica requer investigações adicionais para confirmação.
Conclusões Os achados reforçam a noção de que dietas ricas em AUPs estão relacionadas a um risco elevado de desenvolver doenças metabólicas, principalmente obesidade e DM2, enquanto as conexões com outras condições metabólicas necessitam de mais estudo.
Este trabalho é notável pela sua análise meticulosa da credibilidade de evidências existentes, marcando a primeira RU a compilar de forma abrangente a relação entre consumo de AUPs e riscos metabólicos.
Contudo, limitações decorrentes de dados incompletos e a exclusão de certos estudos em análises prévias, além da inconsistência na aplicação do sistema NOVA, podem afetar a precisão dos resultados, indicando a necessidade de pesquisas futuras mais inclusivas e detalhadas.
A aplicabilidade global dos resultados também é questionável devido à concentração de estudos em regiões específicas, como os Estados Unidos, Europa e Brasil.
Referência da publicação: Lv, J., Wei, Y., Sun, J., et al. (2024) “Relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de doenças metabólicas: Uma revisão abrangente de revisões sistemáticas com meta-análises de estudos observacionais.” Fronteiras na Nutrição 11. doi:10.3389/fnut.2024.1306310.