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Internet e o cérebro das crianças: estudo alerta para impactos no desenvolvimento e dá dicas para pais

por Redação CPAH

Um estudo publicado na Brazilian Journal of Development sugere que o uso excessivo da internet pode estar a prejudicar a inteligência e o desenvolvimento emocional das crianças. Liderado por Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, doutor em Psicologia da Saúde e Neurociências, o trabalho analisa como a dependência tecnológica afeta o cérebro, a memória e a atenção. Sem coautores, a pesquisa combina neurociência e genômica comportamental para explicar os desafios que os pais enfrentam ao educar filhos num mundo digital.

Por que este estudo foi feito?

Com crianças cada vez mais conectadas desde cedo, Fabiano Rodrigues quis entender como a exposição constante a telas e redes sociais impacta o cérebro em desenvolvimento. O estudo foca nos efeitos da dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer, e do cortisol, relacionado ao stress, para explicar por que o uso excessivo da internet pode levar a problemas como ansiedade, défice de atenção e dificuldades de memorização. A pesquisa também responde a questões práticas dos pais, como equilibrar o uso da tecnologia e identificar sinais de alerta.

Como foi conduzido o estudo?

O trabalho é uma revisão bibliográfica, analisando estudos anteriores sobre neuroplasticidade, comportamento e dependência digital. Rodrigues examinou pesquisas como as de James Flynn, que mostram uma estagnação no QI após os anos 1970, e estudos de neuroimagem, como os de Kühn, que indicam mudanças no cérebro de adolescentes viciados em jogos online. A análise incluiu dados sobre o impacto de neurotransmissores, como a dopamina, e genes, como o COMT, que influenciam a regulação emocional e a atenção.

O que foi descoberto?

O estudo aponta que o uso excessivo da internet cria um ciclo vicioso no cérebro das crianças:

  • Busca por dopamina: Redes sociais e jogos online estimulam a liberação de dopamina, criando uma necessidade constante de recompensas rápidas. Isso reduz a capacidade de manter a atenção em tarefas que exigem esforço, como estudar.
  • Stress e cansaço: O excesso de estímulos aumenta o cortisol, levando a ansiedade e fadiga mental. Crianças expostas a telas por mais de 5 horas por dia, como em estudos citados, mostram alterações no córtex pré-frontal, área ligada ao controlo cognitivo.
  • Memória enfraquecida: A sobrecarga de informações fúteis, como posts em redes sociais, dificulta a formação de memórias significativas. O cérebro prioriza emoções fortes, mas o conteúdo digital raramente oferece estímulos profundos.
  • Défice de atenção: O estudo cita que o Transtorno de Défice de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está presente em 7% das crianças no Brasil, sendo o uso excessivo de telas um fator de risco.

Do ponto de vista neurocientífico, o cérebro das crianças é altamente plástico, ou seja, molda-se com base nos estímulos recebidos. A exposição constante a telas pode enfraquecer sinapses ligadas à concentração e fortalecer as ligadas à gratificação instantânea. A nível genômico, variações no gene COMT podem tornar algumas crianças mais suscetíveis a comportamentos impulsivos, agravados pelo digital.

Respostas às perguntas dos pais

  1. Desafios na educação digital: Os pais enfrentam a dificuldade de limitar o tempo de ecrã num mundo onde a tecnologia é omnipresente. A pressão social para as crianças estarem conectadas e o acesso precoce a smartphones complicam a criação de rotinas saudáveis.
  2. Qualidade do tempo com os filhos: Telas reduzem interações cara a cara, diminuindo laços emocionais. Para equilibrar, os pais devem reservar momentos sem tecnologia, como refeições em família ou passeios ao ar livre.
  3. Atenção e disciplina escolar: O excesso de estímulos digitais fragmenta a atenção, dificultando o foco nos estudos. Os pais podem intervir com horários fixos para telas e incentivando atividades como leitura ou desporto.
  4. Participação ativa dos pais: Conhecer os conteúdos que os filhos consomem ajuda a identificar influências negativas, como jogos violentos ou redes sociais que promovem ansiedade. Monitorizar sem invadir a privacidade é a chave.
  5. Sinais de alerta: Mudanças como irritabilidade, insónia, queda no desempenho escolar ou isolamento social indicam que a tecnologia está a prejudicar. Observar o tempo de uso (acima de 2-3 horas diárias) é um bom indicador.
  6. Estabelecer limites sem conflitos: Regras claras, como “nada de telas antes da lição de casa”, e explicar os motivos ajudam a evitar discussões. Envolver as crianças na criação dessas regras também funciona.
  7. Idade ideal para telas: Não há uma idade fixa, mas a Academia Americana de Pediatria sugere evitar telas antes dos 2 anos e limitar a 1 hora por dia até aos 5 anos. Para redes sociais, esperar até aos 13 anos, com supervisão.
  8. Exemplo paterno: Pais que usam o telemóvel com moderação mostram às crianças como equilibrar a tecnologia. Por exemplo, evitar o telemóvel durante conversas familiares é um modelo positivo.
  9. Diferença geracional: Pais que cresceram sem internet devem aprender sobre as plataformas dos filhos, como TikTok ou jogos online, para orientá-los. Diálogo aberto e interesse genuíno ajudam a superar a barreira.

Resultados e impacto

O estudo alerta que a dependência digital pode levar a uma geração com menor capacidade de concentração e memória, além de problemas emocionais. Para os pais, a mensagem é clara: o uso descontrolado de telas molda o cérebro das crianças de forma negativa, mas limites e envolvimento ativo podem mudar isso. Do ponto de vista neurocientífico, reduzir estímulos digitais preserva a plasticidade cerebral, permitindo que as crianças desenvolvam atenção e criatividade.

Qual o próximo passo?

Rodrigues sugere que os pais, escolas e profissionais de saúde trabalhem juntos para criar diretrizes sobre o uso de tecnologia. Estudos futuros devem explorar como equilibrar os benefícios da internet, como o acesso à informação, com os riscos ao desenvolvimento cerebral. Programas educativos que ensinem crianças a usar a tecnologia de forma consciente também são recomendados.

Publicado na Brazilian Journal of Development em dezembro de 2018, este estudo é um alerta para pais e educadores: a tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas sem equilíbrio, pode limitar o potencial das crianças. Como diz o autor, “o cérebro precisa de espaço para criar, não apenas para consumir”.

Alguns destaques

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