Princípios
- Pacientes com transtorno do espectro de neuromielite óptica têm maior probabilidade de necessitar de hospitalização e cuidados intensivos após infecção por síndrome respiratória aguda grave (severe acute respiratory syndrome, SARS-CoV2) do que a população geral, mas não apresentam maior risco de morte.
Por que isso importa
- O Brasil tem sido um dos principais epicentros da pandemia da doença do coronavírus 2019 (COVID-19).
- Embora algumas pesquisas tenham sido realizadas sobre o efeito da COVID-19 em pacientes com doenças neuroimunológicas, particularmente esclerose múltipla, dados mínimos estão disponíveis em pacientes com transtorno do espectro de neuromielite óptica (NMOSD).
- Pacientes com NMOSD são tratados com terapia modificadora da doença, principalmente imunossupressores, que podem aumentar o risco de infecções virais e bacterianas. Assim, é importante compreender o efeito da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV2) em indivíduos com NMOSD.
Desenho do estudo
- Objetivo: Descrever as características clínicas e os desfechos da COVID-19 em pacientes com NMOSD.
- Essa coorte observacional prospectiva incluiu 34 pacientes com NMOSD que apresentaram uma infecção por SARS-CoV2 confirmada (conforme determinado pela reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa [RT]-PCR ou imunoglobulina [Ig]A/IgM ou soropositividade de IgG; n = 18); ou uma suspeita clínica de COVID-19, de acordo com as definições de caso do Centro de controle de doenças/Conselho de estado e epidemiologistas territoriais (n = 16).
- O resultado clínico e a gravidade da doença por COVID-19 foram categorizados como:
- Casos leves (tratamento domiciliar)
- Casos moderados (tratamento em um hospital)
- Casos graves (desenvolvimento de condições críticas, incluindo sepse, choque séptico, síndrome respiratória aguda ou necessidade de suporte ventilatório)
Principais resultados
- A idade média da coorte foi de 37 (faixa de 8 a 77) anos, com somente três pacientes acima de 50 anos. A maioria dos pacientes (56%) não apresentava comorbidade; 24% tinham mais de uma comorbidade, sendo a hipertensão (21%) e a obesidade (24%) as mais prevalentes.
- Nove pacientes apresentaram linfopenia, incluindo dois pacientes com linfopenia grave (364 e 600/mm3); nenhum deles precisou de hospitalização por COVID-19.
- A maioria dos pacientes (77%) teve casos leves de COVID-19. Os oito pacientes restantes necessitaram de hospitalização. Dos pacientes hospitalizados:
- Seis exibiram opacidade em vidro fosco
- Quatro apresentaram pelo menos uma comorbidade e usaram medicamentos imunossupressores
- Quatro pacientes necessitaram de suporte de terapia intensiva, incluindo três pacientes que necessitaram de ventilação mecânica: duas mulheres sem comorbidades (de 16 anos de idade, Escala expandida do estado de incapacidade [Expanded Disability Status Scale, EDSS] 3.5, com rituximabe; de 32 anos de idade, EDSS 4.0, com azatioprina) e um paciente com dislipidemia (de 46 anos de idade, EDSS 7.0, com azatioprina e prednisona)
- O paciente com dislipidemia morreu após a evolução da SARS, sepse e choque séptico.
- Cinco dos pacientes da coorte apresentaram manifestações neurológicas durante ou após a infecção por SARS-CoV2. Destes, três tiveram uma recuperação completa ou boa após o tratamento com corticosteroides, e dois tiveram recuperação insatisfatória ou piora dos sintomas de NMOSD.
- A EDSS (≤ 4,0 versus > 4,0), o tipo de tratamento modificador da doença e as comorbidades não foram associados à duração da COVID-19 (≤ 17 versus > 17 dias) ou aos resultados (todos p > 0,05).
- Em comparação com a população brasileira em geral, os pacientes com NMOSD tiveram uma frequência maior de hospitalização (11% versus 33%, respectivamente; razão de chances [odds ratio, OR] 4,6, IC de 95% 1,6, 12,0, p = 0,01) e tratamento na UTI (3% versus 22%, respectivamente; OR 9,2, IC de 95% 2,6, 26,8, p = 0,002), mas não um aumento do risco de morte (4% versus 6%, respectivamente; OR 1,6, IC de 95% 0,1, 8,7, p = 0,62).
- Os autores concluíram que a maioria dos pacientes com NMOSD e COVID-19 apresentou doença leve, mas maior risco de hospitalização e internação na UTI do que a população brasileira em geral.
Limitações
- Baixa taxa de testes para diagnóstico de COVID-19 no momento do estudo.
- Comunicação eletrônica entre pacientes e seus neurologistas.
Fonte: Neurodiem