Início ColunaNeurociências Diferença entre Superdotação (2DP) e Superdotação Profunda (3DP)

Diferença entre Superdotação (2DP) e Superdotação Profunda (3DP)

Os estudos existentes, porém, revelam uma complexidade notável e uma grande heterogeneidade nas experiências de pessoas superdotadas.

por

A literatura científica sobre superdotação é extensa, mas apresenta uma carência de estudos sobre indivíduos com QI extremamente alto, classificados como 3 desvios-padrão acima da média (3DP), também conhecidos como superdotação profunda. Essa escassez de dados decorre tanto da raridade dessa população quanto dos desafios metodológicos de estudar um grupo tão único. Os estudos existentes, porém, revelam uma complexidade notável e uma grande heterogeneidade nas experiências de pessoas superdotadas.

Aspectos Comportamentais e Educacionais:

Estudos indicam que, ao contrário do esperado, um QI extremamente alto (3DP) não necessariamente garante maior sucesso acadêmico. Indivíduos 3DP enfrentam desafios educacionais mais acentuados que seus pares com QI classificado como 2 desvios-padrão acima da média (2DP). Essa diferença é atribuída às intensas características comportamentais e emocionais dos superdotados profundos, como variações de humor e problemas de adaptação em ambientes escolares convencionais. Curiosamente, estudos mostram que mães de crianças 3DP tendem a fomentar mais autonomia e exercem menos pressão para o desempenho acadêmico, potencializando menor envolvimento escolar, enquanto crianças 2DP geralmente experimentam uma pressão maior para atingir bons resultados acadêmicos, o que pode impulsionar seus desempenhos, mas também causar ansiedade e estresse.

Criatividade e Expressão:

A manifestação de criatividade varia significativamente entre esses dois grupos. Indivíduos 2DP geralmente exibem uma criatividade mais aplicada, usando conhecimento adquirido para desenvolver soluções inovadoras em áreas específicas. Por outro lado, os indivíduos 3DP possuem uma abordagem mais divergente, explorando ideias inovadoras e pouco convencionais frequentemente em campos que não foram formalmente aprendidos.

Inteligência Emocional e Social:

A inteligência emocional e social, não avaliada por testes de QI convencionais, é notoriamente mais refinada em indivíduos 3DP. Eles possuem uma capacidade aprimorada de entender e gerir emoções, e uma percepção mais profunda das nuances sociais, o que pode melhorar significativamente suas interações sociais e adaptação a diversos contextos.

Aspectos Clínicos:

Embora a superdotação não seja classificada como uma patologia, a intensidade emocional e a hipersensibilidade, comuns entre os superdotados, podem aumentar a susceptibilidade a transtornos mentais como depressão e ansiedade. Contudo, a elevada inteligência emocional observada em indivíduos 3DP pode servir como um fator protetor, ajudando na regulação emocional e no desenvolvimento de estratégias adaptativas de enfrentamento.

Conclusão:

Compreender as nuances e a heterogeneidade da experiência da superdotação é essencial para desenvolver intervenções educacionais e clínicas efetivas que promovam o desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos. Pesquisas futuras devem aprofundar o entendimento das bases neurobiológicas da superdotação, examinar a interação entre fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento da inteligência e da criatividade, e avaliar o impacto de diferentes abordagens educacionais e terapêuticas no bem-estar e sucesso desses talentos excepcionais.

Referências

BRODY, Linda E. The study of exceptional talent. High Ability Studies, v. 16, n. 1, p. 87-96, 2005.

CHIANG, H.-M.; TSAI, L.; CHEUNG, Y.; BROWN, A.; LI, H. A meta-analysis of differences in IQ profiles between individuals with Asperger’s disorder and high-functioning autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, 44, p. 1577-1596, 2014.

DEARY, I. J.; CARYL, P. G. Neuroscience and human intelligence differences. Trends in Neurosciences, 1997.

DIAZ-ASPER, C.; SCHRETLEN, D.; PEARLSON, G. How well does IQ predict neuropsychological test performance in normal adults? Journal of the International Neuropsychological Society, 10, p. 82-90, 2004.

GUÉNOLÉ, Fabian et al. Behavioral profiles of clinically referred children with intellectual giftedness. BioMed Research International, v. 2013, 2013.

JAUŠOVEC, Norbert. Are gifted individuals less chaotic thinkers?. Personality and Individual Differences, v. 25, n. 2, p. 253-267, 1998.

LACOUR, A.-G.; ZDANOWICZ, N. IQ over 130 and phobia: correlation, consequences and other psychopathologies. Psychiatria Danubina, 31 Suppl 3, p. 386-389, 2019.

MACDONALD, Hope et al. Recognition and expression of emotional cues by autistic and normal adults. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 30, n. 6, p. 865-877, 1989.

PERSSON, Roland S. Experiences of Intellectually Gifted Students in an Egalitarian and Inclusive Educational System: A Survey Study. Journal for the Education of the Gifted, v. 33, n. 4, p. 536–569, 2010.

RABIEE, A.; SAMADI, S. A.; VASAGHI-GHARAMALEKI, B.; HOSSEINI, S.; SEYEDIN, S.; KEYHANI, M.; MAHMOODIZADEH, A. The cognitive profile of people with high-functioning autism spectrum disorders. Behavioral Sciences, 9, 2019.

RUNCO, Mark A. A longitudinal study of exceptional giftedness and creativity. Creativity Research Journal, v. 12, n. 2, p. 161-164, 1999.

SCHULTZ, R. A. Recognizing the Outliers: Behaviors and Tendencies of the Profoundly Gifted Learner in Mixed-Ability Classrooms. Roeper Review, v. 40, n. 3, p. 191–196, 2018.

SHAYWITZ, Sally E. et al. Heterogeneity within the gifted: Higher IQ boys exhibit behaviors resembling boys with learning disabilities. Journal of Learning Disabilities, v. 34, n. 1, p. 26-39, 2001.

SHIH, S.-S. Perfectionism, Implicit Theories of Intelligence, and Taiwanese Eighth-Grade Students’ Academic Engagement. The Journal of Educational Research, v. 104, n. 2, p. 131–142, 2011.

THALER, N. S.; BELLO, D. T.; RANDALL, C.; GOLDSTEIN, G.; MAYFIELD, J.; ALLEN, D. IQ profiles are associated with differences in behavioral functioning following pediatric traumatic brain injury. Archives of Clinical Neuropsychology, 25(8), p. 781-790, 2010.

TUCKER, Brooke; HAFERSTEIN, Norma Lu. Psychological intensities in young gifted children. Gifted Child Quarterly, v. 41, n. 1, p. 66-75, 1997.

© Foto de ThisisEngineering na Unsplash

Alguns destaques

Deixe um comentário

15 − 4 =

Translate »