Por Dr. Luiz Felipe Carvalho – Médico ortopedista, pesquisador em terapias celulares no CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Nas últimas décadas, a ciência médica tem vivenciado um avanço notável no entendimento das células-tronco e seu uso potencial em diversas doenças degenerativas. Entre os tipos mais estudados, as células-tronco mesenquimais (ou MSCs, do inglês mesenchymal stem cells) se destacam por sua versatilidade e perfil de segurança relativamente favorável.
As MSCs são células-tronco adultas multipotentes, ou seja, possuem a capacidade de se diferenciar em diferentes tipos de tecidos do corpo humano, especialmente aqueles originados do mesênquima, como osso, cartilagem, músculo, gordura e até tecido hematopoiético. Isso as torna alvos promissores em áreas como ortopedia, neurologia, reabilitação e até na medicina regenerativa experimental aplicada a doenças neurodegenerativas.
Ao contrário do que muitas vezes é divulgado de maneira superficial, não estamos falando de “curas milagrosas”, mas de biologia celular aplicada com responsabilidade científica. Ainda estamos numa fase em que os protocolos precisam ser cuidadosamente estudados, validados e regulamentados. A maior parte das indicações clínicas com uso de MSCs ainda se encontra no campo da pesquisa, por meio de ensaios clínicos autorizados e supervisionados por comitês de ética e agências reguladoras.
Um dos mecanismos mais fascinantes dessas células é sua capacidade de quimiotaxia – ou seja, a habilidade de se moverem em direção a sinais químicos produzidos por tecidos lesionados ou inflamados. Quando administradas por via intravenosa, por exemplo, muitas dessas células “enxergam” o ambiente inflamatório e são recrutadas para o local da lesão, seja ele um joelho com artrose, uma medula espinhal danificada ou um pulmão em processo fibrótico.
Além da diferenciação celular, as MSCs exercem funções importantes de modulação imunológica e secreção de fatores tróficos (como citocinas e exossomos) que favorecem a regeneração tecidual e reduzem processos inflamatórios crônicos. É esse aspecto “paracrino” — mais do que sua diferenciação em si — que hoje desperta grande interesse terapêutico.
Claro, existem desafios. A padronização da fonte celular (medula óssea, tecido adiposo, cordão umbilical), as técnicas de expansão em laboratório, as doses ideais, as vias de administração e o tempo de resposta ainda estão sendo intensamente estudados. Sem falar nos marcos éticos e regulatórios que precisam acompanhar esse avanço com rigor e transparência.
No nosso centro de pesquisa, adotamos uma postura científica e cautelosa. Trabalhamos com protocolos aprovados por Comitês de Ética, em conformidade com as normativas da CONEP e da legislação sanitária vigente. Nosso objetivo é gerar conhecimento seguro, confiável e reprodutível — não prometer o que a ciência ainda não comprovou.
> Vi ao longo dos últimos anos muitos pacientes recuperarem mobilidade, reduzir dor ou acelerar sua reabilitação funcional com abordagens baseadas em terapias celulares. Mas o mais importante é compreender que cada resultado é parte de uma construção coletiva de evidência, e não um fim em si mesmo.
É nossa responsabilidade como médicos e cientistas manter a integridade da prática clínica, respeitar os limites do conhecimento atual e, ao mesmo tempo, continuar investigando novas possibilidades com seriedade.
As células-tronco mesenquimais são, sim, uma das promessas mais concretas da medicina regenerativa. Mas seu uso só será legítimo e duradouro se continuar ancorado na ética, na ciência e no compromisso com o bem do paciente — sem atalhos.
Células-Tronco Mesenquimais: um olhar científico sobre seu potencial regenerativo
Entre os tipos mais estudados, as *células-tronco mesenquimais* (ou MSCs, do inglês mesenchymal stem cells) se destacam por sua versatilidade e perfil de segurança relativamente favorável.
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