Início ColunaNeurobusiness Resumo do Artigo: “Você precisa ser inteligente para ser rico? O impacto do QI na riqueza, renda e dificuldades financeiras”

Resumo do Artigo: “Você precisa ser inteligente para ser rico? O impacto do QI na riqueza, renda e dificuldades financeiras”

Diferentemente de estudos anteriores focados na relação entre QI e renda, esta pesquisa expande a análise para incluir riqueza (patrimônio líquido) e dificuldades financeiras, como atrasos em pagamentos, falência e uso máximo de cartões de crédito.

por Redação CPAH

Autor: Jay L. Zagorsky
Publicado em: Intelligence 35 (2007) 489-501
Fonte: National Longitudinal Survey of Youth 1979 (NLSY79)

Introdução

O artigo de Jay L. Zagorsky analisa a relação entre inteligência, medida por escores de QI, e três dimensões do sucesso financeiro: renda, riqueza e dificuldades financeiras. Utilizando dados do National Longitudinal Survey of Youth 1979 (NLSY79), que acompanha jovens baby boomers norte-americanos nascidos entre 1957 e 1964, o estudo busca determinar se a inteligência é essencial para acumular riqueza, obter maior renda e evitar problemas financeiros. Diferentemente de estudos anteriores focados na relação entre QI e renda, esta pesquisa expande a análise para incluir riqueza (patrimônio líquido) e dificuldades financeiras, como atrasos em pagamentos, falência e uso máximo de cartões de crédito.

Metodologia

Dados e Participantes

O estudo utilizou dados de 7.403 respondentes do NLSY79 que participaram da pesquisa de 2004 (com idades entre 33 e 41 anos) e tinham escores de QI disponíveis. A amostra era representativa da população dos EUA, composta por 79,5% de brancos, 14,2% de afro-americanos e 6,3% de hispânicos, com divisão quase igual entre homens (50,7%) e mulheres (49,3%).

Medidas

1. QI: Calculado com base no Armed Forces Qualification Test (AFQT), parte do Armed Services Vocational Aptitude Battery (ASVAB), ajustado por idade para padronizar os escores (média 100, desvio-padrão 15).
2. Renda: Soma de todas as fontes de renda per capita em 2004, incluindo salários, benefícios governamentais, transferências privadas e outros.
3. Riqueza: Patrimônio líquido per capita, calculado como a diferença entre ativos (casa, veículos, investimentos) e passivos (hipotecas, dívidas).
4. Dificuldade Financeira: Três indicadores booleanos: (1) cartão de crédito no limite máximo (9% dos respondentes), (2) atraso de dois meses ou mais em contas nos últimos cinco anos (18,2%) e (3) falência declarada (13,4%).

Análise

O estudo combinou análise gráfica, estatísticas descritivas, regressões (Ordinary Least Squares, Robust Regression, Trimmed OLS, Two-Stage Least Squares) e regressões logísticas. Variáveis explicativas incluíram idade, raça, educação, estado civil, heranças, gastos com alimentação e fatores psicológicos, como locus de controle, autoestima e escala de maestria.

Resultados

Renda e QI

Os resultados confirmam uma relação positiva e significativa entre QI e renda. Cada ponto adicional no escore de QI está associado a um aumento anual de renda entre US$ 202 e US$ 616, dependendo da técnica de regressão. Por exemplo, uma diferença de 30 pontos no QI (de 100 para 130) resulta em uma diferença de renda anual entre US$ 6.000 e US$ 18.500. A correlação entre QI e renda foi de 0,297 (p<0,01).

Riqueza e QI

Diferentemente da renda, não foi encontrada uma relação significativa entre QI e riqueza. As regressões mostraram coeficientes próximos de zero, variando de negativos (-US$ 435) a positivos (US$ 83), mas geralmente não distinguíveis de zero. A correlação entre QI e patrimônio líquido foi mais fraca (0,156, p<0,01). Isso indica que a inteligência não é um fator determinante para acumular riqueza, apoiando a visão de Stanley e Danko (1996) em The Millionaire Next Door, que afirmam que riqueza não depende de inteligência.

Dificuldade Financeira e QI

A relação entre QI e dificuldades financeiras não é linear, mas quadrática. Indivíduos com QIs abaixo da média (menores que 100) e muito acima da média (acima de 120) têm maior probabilidade de enfrentar dificuldades financeiras, como inadimplência ou falência. Por exemplo, a probabilidade de atingir o limite do cartão de crédito sobe de 7,7% para indivíduos com QI ≤ 75 para 12,1% com QI de 90, mas cai para 5,4% com QI de 115, antes de aumentar novamente. Regressões logísticas com termos cúbicos de QI confirmaram essa relação não linear. Explicações possíveis incluem maior distração de pessoas com QI elevado ou uma tendência a viverem no limite financeiro, confiando em sua capacidade de gerenciar riscos.

Outros Fatores

Fatores como educação, heranças e estado civil (divórcio) influenciaram significativamente renda e riqueza. Variáveis psicológicas, como locus de controle interno, autoestima e maestria, mostraram relações positivas com riqueza e, em menor grau, com renda. Raça também teve impacto: afro-americanos e hispânicos tinham, em média, menos riqueza que brancos.

Discussão

O estudo conclui que, embora a inteligência (medida por QI) seja um preditor importante de renda, ela não explica a acumulação de riqueza. Isso sugere que pessoas com QIs mais baixos não estão em desvantagem para alcançar riqueza, e aquelas com QIs altos não têm uma vantagem inerente. A relação quadrática com dificuldades financeiras indica que tanto indivíduos menos inteligentes quanto muito inteligentes podem enfrentar desafios financeiros, possivelmente por razões distintas (falta de recursos versus excesso de confiança).

Limitações

– Os resultados aplicam-se a uma coorte específica (baby boomers jovens dos EUA em 2004) e podem não ser generalizáveis para outros períodos, coortes ou países com diferentes estruturas econômicas.
– Escores de QI, embora correlacionados com inteligência geral, podem ser influenciados por fatores como saúde, motivação e contexto do teste.
– O estudo não estabelece causalidade, apenas associações, e outros fatores, como sorte, escolha de cônjuge ou timing, não foram controlados.

Implicações para Pesquisa Futura

O autor recomenda explorar outros fatores psicológicos, como tolerância ao risco, preferência por gratificação imediata versus diferida e influência social, que podem influenciar a acumulação de riqueza. Estudos em outros países ou coortes poderiam verificar se os resultados são amplamente aplicáveis.

Conclusão

O artigo responde à pergunta do título — “Você precisa ser inteligente para ser rico?” — com um “não”. Embora a inteligência esteja associada a maior renda, ela não é um fator determinante para riqueza ou proteção contra dificuldades financeiras. Esses achados desafiam a ideia de que inteligência é a chave para o sucesso financeiro e destacam a relevância de outros fatores, como comportamento financeiro e contexto socioeconômico.

Alguns destaques

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