Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista britânico, propôs uma teoria do amadurecimento que se distanciava um pouco das ideias freudianas mais ortodoxas, focando na importância do ambiente e da relação inicial entre mãe e bebê. Um dos conceitos mais interessantes e complexos de sua obra é o da “mãe suficientemente boa”. Para Winnicott, a mãe não precisa ser perfeita, mas sim “suficientemente boa” para atender às necessidades do bebê e, gradualmente, frustrá-lo de forma tolerável, permitindo que ele se adapte à realidade e desenvolva sua capacidade de estar sozinho.
Imaginemos que o amadurecimento de uma criança é como o desenvolvimento de uma planta em um jardim. O bebê, ao nascer, é uma semente minúscula, cheia de potencial, mas totalmente dependente do solo e do jardineiro para poder germinar e crescer. Nesse cenário, a mãe suficientemente boa é como um jardineiro experiente e atencioso.
Nos primeiros dias, o jardineiro (a mãe) oferece um solo rico e fértil (o ambiente facilitador), fornecendo todos os nutrientes essenciais e a umidade necessária (o cuidado e a atenção irrestritos). A semente mal percebe que existe um jardineiro pois ela está sob o solo e se sente una com ele, imersa em uma simbiose perfeita onde todas as suas necessidades são imediatamente atendidas. O jardineiro antecipa a sede da semente e a rega suavemente; ele a protege de pragas e de ventos fortes, criando um casulo seguro e nutritivo. Esta fase corresponde ao que Winnicott chamou de dependência absoluta, onde o bebê não tem consciência de si mesmo como um ser separado da mãe.
No entanto, um bom jardineiro sabe que para a planta se fortalecer e florescer, ela precisa, em algum momento, sentir o sol em suas folhas e a brisa em seus caules. Ele não vai superproteger a planta indefinidamente, mantendo-a em uma estufa o tempo todo. Pelo contrário, ele começa a introduzir pequenas e graduais “falhas” no ambiente perfeito. Talvez a rega não seja tão imediata, ou a sombra não seja tão densa. A semente que agora se transformou em uma pequena muda, experimenta momentos de leve desconforto, de uma breve espera. É nesse exato ponto que a muda precisa “fazer um esforço” para buscar a luz, para estender suas raízes em busca de água. Essas pequenas frustrações, quando toleráveis e manejáveis, são cruciais para o seu desenvolvimento.
O jardineiro, contudo, não abandona a planta, mas permite que ela encontre seus próprios recursos internos. Se a planta começar a murchar, o jardineiro intervém, mas não antes que ela tenha tido a oportunidade de se esforçar um pouco. Ele observa atentamente, calibrando suas intervenções. Essa fase se assemelha à dependência relativa na teoria de Winnicott, onde o bebê começa a perceber a mãe como um ser separado e a desenvolver sua capacidade de tolerar a frustração e de adiar a satisfação.
A finalidade do jardineiro, assim como da mãe suficientemente boa, não é criar uma planta que nunca experimentou dificuldades, mas sim uma planta robusta e autônoma, capaz de suportar as intempéries e de encontrar sua própria maneira de prosperar, o que Winnicott chama de independência relativa. A planta, que antes era uma semente, agora se ergue, com raízes profundas e folhas verdes, pronta para enfrentar o mundo do jardim, sabendo que, embora as ajudas externas possam diminuir, ela desenvolveu a capacidade de estar sozinha e de lidar com os desafios.
Esta metáfora reside na ideia de que a “mãe suficientemente boa” não busca a perfeição, mas a adequação. Ela oferece o necessário, e não mais do que o necessário, para que a vida que ela nutre possa, eventualmente, florescer por si mesma, tornando-se um ser individual e capaz de habitar seu próprio “jardim” interior com confiança e vitalidade.