Introdução
O perfeccionismo em estudantes superdotados tem sido amplamente estudado como uma aparência que reflete tanto o potencial excepcional quanto aos desafios psicológicos associados ao alto desempenho. A literatura sugere que indivíduos superdotados frequentemente estabelecem padrões extremamente elevados, podendo apresentar dificuldades emocionais e sociais decorrentes da autocrítica excessiva e das expectativas externas. Este estudo tem como objetivo identificar os fatores determinantes do perfecionismo em alunos superdotados do ensino médio na cidade de Sorong, na Indonésia, analisando suas manifestações em três dimensões: perfecionismo orientado para o eu, perfecionismo orientado para os outros e perfecionismo socialmente prescrito.
Métodos
Foi utilizado um desenho de pesquisa qualitativa com abordagem naturalística e estudo de caso instrumental. A seleção dos participantes foi realizada a partir de um teste de inteligência aplicado a 50 alunos recomendados por seus professores, dos quais 10 obtiveram um QI acima de 120, sendo considerados superdotados conforme a escala IST. A coleta de dados foi conduzida por meio de observações sistemáticas e entrevistas semiestruturadas, com base nos critérios da Escala Multidimensional de Perfeccionismo (MPS) . A análise de dados progressivos o método de triangulação, combinando relatos qualitativos e indicadores de comportamento.
Resultados
Os dados revelaram que os fatores determinantes do perfeccionismo em estudantes superdotados podem ser classificados em dois grupos principais: fatores internos e externos.
1. Perfeccionismo Orientado para o Self (Perfeccionismo Auto-Orientado – SOP)
Indivíduos desse grupo apresentaram um nível elevado de autoexigência e necessidade de controle sobre suas atividades acadêmicas e pessoais. Entre os comportamentos observados, destacam-se:
Insatisfação persistente com o próprio desempenho, revisando repetidamente trabalhos até atingir um nível de perfeição subjetiva;
Dificuldade em relaxar enquanto as tarefas não são concluídas com excelência;
Priorização excessiva do desempenho acadêmico em detrimento da vida social;
Medo intenso de cometer erros, resultando em procrastinação e ansiedade.
2. Perfeccionismo Orientado para os Outros (OOP)
Esta dimensão do perfeccionismo foi caracterizada pela tendência dos alunos a projetar padrões elevados sobre terceiros. Os comportamentos incluem:
Expectativas e críticas sobre o desempenho de colegas em atividades acadêmicas;
Dificuldade em delegar tarefas dentro de trabalhos em grupo, preferindo realizar tudo individualmente para garantir a qualidade desejada;
Frustração com o que percebem como “falhas” dos outros em corresponder aos seus preços elevados.
3. Perfeccionismo Socialmente Prescrito (Socially Prescribed Perfectionism – SPP)
Nesta categoria, os alunos dizem sentir uma pressão significativa imposta por pais, professores e pela sociedade para que atingissem um desempenho excepcional. Os principais aspectos observados foram:
Expectativa parental elevada, exigindo desempenho impecável e escolha profissional altamente qualificada;
Medo de decepcionar familiares e mentores, levando a sintomas de ansiedade e estresse;
Comparação constante com colegas e preocupação com a avaliação externa de seu desempenho.
Além dessas categorias, foram identificados dois grandes eixos de influência sobre o desenvolvimento do perfeccionismo:
Fatores Internos:
Alto nível de ambição e motivação intrínseca para alcançar a excelência;
Medo de falha e exclusão de erros como parte do processo de aprendizagem;
Tendência ao pensamento crítico exacerbado, resultando em autodepreciação;
Dificuldade em aceitar elogios ou considerar seus próprios sucessos.
Fatores Externos:
Pressão familiar para atingir padrões elevados e demonstrar competência superior;
Ambiente acadêmico competitivo que reforça a necessidade de se destacar constantemente;
Influência cultural e midiática que promove a ideia de sucesso absoluto e minimiza a facilidade de uso.
Discussão
Os resultados deste estudo reforçam a visão de que o perfeccionismo em estudantes superdotados não é um traço unidimensional, mas sim uma construção multifacetada influenciada por fatores individuais e ambientais. A presença de perfeccionismo pode ser tanto adaptativa quanto desadaptativa, dependendo do nível de dificuldade dos padrões estabelecidos e da capacidade do indivíduo de lidar com suas próprias expectativas. Os estudantes que internalizam padrões excessivos sem flexibilidade tendem a apresentar níveis elevados de estresse, enquanto aqueles que canalizam o perfeccionismo de maneira construtiva demonstram maior resiliência.
A literatura sobre o tema já demonstrou que o perfeccionismo em estudantes superdotados pode ser um fator de risco para transtornos psicológicos, incluindo ansiedade, depressão e burnout acadêmico (MARGOT; RINN, 2016). As descobertas deste estudo corroboram essas preocupações, indicando que a pressão interna e externa pode levar a um ciclo de insatisfação constante e esgotamento emocional.
Conclusão
O perfeccionismo em alunos superdotados é um fenômeno complexo, resultante da interação entre fatores internos (autoexigência, padrões elevados, medo do fracasso) e fatores externos (pressão parental, ambiente acadêmico competitivo, influência cultural). Este estudo evidencia a necessidade de programas educacionais que promovam um equilíbrio entre alto desempenho e bem-estar emocional, oferecendo suporte psicológico e estratégias de manejo do perfeccionismo. Além disso, os resultados sugerem a importância do treinamento de professores e pais para considerar e moderar as expectativas colocadas sobre esses alunos, permitindo um desenvolvimento acadêmico e emocional mais saudável.
Referência:
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