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A Autonomia dos Filhos e a Falta de Atenção Parental: Uma Análise Crítica

A sociedade atual, marcada pela correria e pelas múltiplas responsabilidades, tem levado muitas famílias a um cenário de distanciamento emocional.

por Redação CPAH

Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

A busca pela autonomia e independência é um marco importante no desenvolvimento de qualquer criança. No entanto, quando essa busca se manifesta de forma excessiva e precoce, muitas vezes pode ser um sinal de alerta para uma questão mais profunda: a falta de atenção dos pais.

A sociedade atual, marcada pela correria e pelas múltiplas responsabilidades, tem levado muitas famílias a um cenário de distanciamento emocional. Os pais, pressionados pelo trabalho e pelas demandas do dia a dia, acabam relegando o acompanhamento afetivo e o contato próximo com os filhos a segundo plano. Isso cria um vazio que as crianças, em sua resiliência, tentam preencher desenvolvendo uma independência forçada.

Estudos reforçam essa percepção. A pesquisa de Saraiva e Wagner (2014) destaca como a falta de comunicação entre a escola e os pais contribui para que os filhos desenvolvam uma autonomia exagerada. Quando os pais não se envolvem ativamente na vida escolar e nas avaliações das crianças, estas podem buscar a independência como uma forma de lidar com a ausência de apoio emocional e orientação.

O abandono afetivo ou distanciamento afetivo, analisado por Braga e Fuks (2013), mostra que a ausência de interesse e convivência afetiva pode levar as crianças a internalizarem a mensagem de que precisam ser autossuficientes desde cedo. Essa autonomia precoce, ao contrário do que pode parecer, não é um sinal positivo de maturidade, mas sim uma resposta à falta de um ambiente seguro e acolhedor.

Outro ponto relevante é o impacto dos estilos parentais no comportamento das crianças. O estudo conduzido por Souza, Rocha e Bergamini (2019) aponta que a carência afetiva, o excesso de críticas e a alta cobrança podem empurrar os filhos para uma independência forçada. Sem o apoio necessário, as crianças acabam desenvolvendo comportamentos que refletem uma tentativa de suprir sozinhas suas necessidades emocionais.

Portanto, é fundamental que os pais compreendam que a verdadeira autonomia saudável se constrói a partir de uma base sólida de apoio, diálogo e atenção. A independência natural e benéfica surge quando a criança se sente segura, amparada e valorizada. Quando essa segurança falta, a independência pode se tornar uma armadura, uma forma de autoproteção contra a sensação de abandono.

Mais do que nunca, é preciso resgatar o papel dos pais como guias e apoiadores, oferecendo não apenas as condições materiais, mas, sobretudo, o afeto e a presença ativa no desenvolvimento de seus filhos. Afinal, a autonomia verdadeira não se traduz em afastamento, mas em confiança para explorar o mundo sabendo que sempre haverá um porto seguro para voltar.

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