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Superdotados, Cognição e Diabetes: Um Enigma Biológico

Essa alta performance exige maior consumo de energia, o que coloca a glicose, principal combustível cerebral, no centro dessa equação.

por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

Superdotados são conhecidos por possuírem cérebros com alta velocidade de processamento e uma capacidade cognitiva notável. Essa alta performance exige maior consumo de energia, o que coloca a glicose, principal combustível cerebral, no centro dessa equação. Com um metabolismo acelerado, esses indivíduos podem consumir glicose em um ritmo superior ao da média. No entanto, essa característica levanta uma pergunta intrigante: esse consumo elevado de glicose aumenta o risco de diabetes devido ao desgaste metabólico, ou existem fatores que protegem os superdotados contra essa condição?

O Papel do Consumo de Glicose

De fato, a alta atividade cerebral de superdotados requer uma maior oferta de glicose. Estudos mostram que a insulina desempenha um papel vital nesse processo, ajudando o cérebro a captar glicose para sustentar suas funções. Contudo, um consumo energético prolongado e intenso pode sobrecarregar o sistema de regulação da insulina. Isso, a longo prazo, pode levar à resistência à insulina cerebral e ao aumento do risco de diabetes tipo 2, como observado em outras condições de desgaste metabólico.

Por outro lado, o estilo de vida de muitos superdotados frequentemente inclui hábitos mais saudáveis, como dieta equilibrada, prática de exercícios físicos e maior consciência sobre saúde. Esses fatores podem contrabalançar o consumo energético elevado e ajudar a proteger contra o risco de diabetes.

Genes que Conectam Cognição e Insulina

Os genes relacionados à insulina e aos fatores de crescimento similares à insulina também desempenham um papel importante na cognição, o que pode ser um fator determinante para entender a relação entre superdotação e diabetes. Alguns dos genes mais relevantes incluem:

  1. IGF2R (Receptor do Fator de Crescimento Semelhante à Insulina Tipo 2):
  2. IGF2 (Fator de Crescimento Semelhante à Insulina Tipo 2):
    • Ligado à memória e à atenção seletiva, indicando que ele pode regular tanto o metabolismo cerebral quanto a função cognitiva (Alfimova et al., 2012).
  3. IDE (Enzima Degradadora de Insulina):
    • Responsável pela regulação de insulina e amiloides no cérebro, sendo um potencial protetor contra doenças neurodegenerativas e disfunções cognitivas (Mueller et al., 2007).
  4. IRS1 e IRS2 (Substratos do Receptor de Insulina):
    • Cruciais na sinalização da insulina, conectam a eficiência metabólica e a cognição. Disfunções nesses genes podem contribuir para resistência à insulina cerebral e déficits cognitivos (Tanokashira et al., 2019).

O Veredito: Risco Maior ou Menor de Diabetes?

A resposta não é simples e depende de múltiplos fatores:

  1. Metabolismo acelerado e alta demanda energética podem aumentar o risco de desgaste metabólico e resistência à insulina em superdotados, especialmente se associados a hábitos alimentares desequilibrados.
  2. Fatores genéticos protetores, como variantes mais eficientes de genes relacionados à insulina e ao IGF, podem neutralizar ou reduzir os riscos metabólicos.
  3. Estilo de vida saudável, muitas vezes presente entre superdotados, pode ser um fator-chave na prevenção de condições metabólicas como o diabetes.

Portanto, embora os superdotados possam apresentar características que, teoricamente, aumentam o risco de diabetes, o equilíbrio entre genética, hábitos de vida e demanda metabólica pode fazer com que muitos deles não estejam mais propensos à condição. Estudos longitudinais que integrem genética, metabolismo e cognição são fundamentais para esclarecer definitivamente essa relação.

Alguns destaques

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