A percepção da temperatura e da dor térmica é uma função sensorial complexa, mediada por fibras nervosas finamente mielinizadas (A-delta) e amielínicas (C), cujas respostas estão associadas a receptores cutâneos especializados. No estudo de Meh e Denílić (1994), conduzido com 150 voluntários saudáveis de ambos os sexos, foi realizada uma avaliação sistemática dos limiares de percepção térmica e de dor térmica em diferentes regiões corporais, utilizando o método Marstock, com notável rigor metodológico.
A investigação permitiu determinar valores normativos para três parâmetros principais: o limiar diferencial quente-frio (warm-cold difference limen), o limiar de dor ao frio e o limiar de dor ao calor. Um dos achados mais robustos do estudo foi a influência da idade sobre a sensibilidade térmica. Observou-se uma correlação linear significativa entre idade e aumento do limiar diferencial quente-frio — indicando declínio progressivo da sensibilidade à variação térmica com o envelhecimento, especialmente em regiões distais como pernas e dorso do pé. Esse achado está de acordo com a hipótese de neuropatia sensorial relacionada à idade, sugerindo deterioração funcional progressiva das fibras sensoriais finas ao longo do tempo (Meh & Denílić, 1994).
Outro resultado relevante diz respeito às diferenças entre os sexos. As mulheres apresentaram limiares mais baixos para o calor e para o frio, além de maior sensibilidade à dor térmica, com exceção da região torácica. A explicação para tais diferenças pode envolver tanto aspectos sensoriais fisiológicos quanto fatores psicossociais, como modulação da percepção pela expectativa ou pelo contexto emocional. A hipótese de que fatores emocionais influenciam a tolerância à dor foi inclusive discutida pelos autores, com base em estudos prévios (Nakahama & Yamamoto, 1979), sugerindo um componente modulatório central na experiência da dor térmica.
Adicionalmente, não foram encontradas diferenças significativas entre os lados direito e esquerdo do corpo, o que corrobora a simetria funcional do sistema somatossensorial nesse aspecto. A altura corporal também não demonstrou impacto relevante sobre os limiares sensoriais, desconsiderando uma possível interferência da distância axial nos tempos de condução aferente (Meh & Denílić, 1994).
No plano metodológico, o estudo se destaca pelo uso criterioso do termômetro Marstock, com controle preciso das variações de temperatura e da taxa de aquecimento/resfriamento. A estabilidade intraindividual dos dados, mesmo com medições repetidas após quatro dias ou quatro semanas, sugere alta reprodutibilidade da técnica — o que reforça sua aplicabilidade clínica e em estudos longitudinais de seguimento em neuropatias periféricas subclínicas.
Em uma perspectiva translacional, os achados de Meh e Denílić evidenciam a importância de se considerar fatores como idade, sexo e localização anatômica na interpretação de testes sensoriais térmicos. A variabilidade interindividual e a subjetividade inerente à percepção térmica, por sua vez, reforçam a necessidade de associação desses testes com outros métodos clínicos e laboratoriais, especialmente na investigação de neuropatias de fibras finas.
Em suma, este estudo fornece uma base normativa robusta e detalhada para a avaliação da sensibilidade térmica e à dor, sendo instrumental para o diagnóstico precoce de disfunções sensoriais. A aplicação do método Marstock revela-se eficaz, sensível e clinicamente viável, sobretudo quando aliada à análise crítica do contexto individual e à integração com achados clínicos mais amplos.
Referência:
MEH, Duška; DENIŠLIĆ, Miro. Quantitative assessment of thermal and pain sensitivity. Journal of the Neurological Sciences, Amsterdam, v. 127, p. 164–169, 1994. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0022-510X(94)90069-8. Acesso em: 20 jun. 2025.

