Início Produções CientíficasDocumento CientíficoINTERFERÊNCIAS NEUROPSIQUIÁTRICAS NA MENSURAÇÃO DO QI: MODELO QUANTITATIVO DE CORREÇÃO POR ANSIEDADE, TEA E TDAH

INTERFERÊNCIAS NEUROPSIQUIÁTRICAS NA MENSURAÇÃO DO QI: MODELO QUANTITATIVO DE CORREÇÃO POR ANSIEDADE, TEA E TDAH

por Redação CPAH

Autor: Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

RESUMO

Objetivo: Desenvolver um modelo operacional de correção quantitativa para estimativas de QI sob interferência de ansiedade situacional, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)Métodos: Análise integrativa de estudos neuropsicológicos e neurofuncionais sobre desempenho cognitivo em condições neuropsiquiátricas específicas, com foco na rede fronto-parietal e suas modulações. Resultados: Propõe-se ajuste quantitativo de 3-12 pontos para ansiedade (gradiente leve-severa), 8 pontos médios para TDAH por variabilidade executiva, 6 pontos para TEA por rigidez atencional, e 10 pontos para dupla excepcionalidade. Conclusão: O modelo oferece parâmetros operacionais clinicamente calibráveis para aproximar o potencial cognitivo real em contextos avaliativos padronizados.

Palavras-chave: inteligência, neuropsicologia, ansiedade, autismo, TDAH, avaliação cognitiva

INTRODUÇÃO

A mensuração psicométrica por baterias como WAIS e Stanford-Binet requer condições de testagem estáveis, pois variações afetivas e atencionais alteram a eficiência de redes executivas envolvidas no desempenho. Evidências sustentam a centralidade de circuitos frontoparietais e a modulação de componentes verbais, com efeitos experimentais de tDCS sobre desempenho verbal em subtestes de inteligência, reforçando a dependência do estado funcional desses sistemas (Huang et al., 2022).

A relação entre QI e problemas de saúde mental em jovens, incluindo maior vulnerabilidade para ansiedade em faixas limítrofes, indica que variáveis internalizantes podem interferir no desempenho observado e, portanto, devem ser consideradas na interpretação clínica do escore (Melby et al., 2020). Em neurodesenvolvimento, a heterogeneidade entre TEA e TDAH exige cautela psicométrica: o Stanford-Binet 5 apresenta invariância de medida entre esses diagnósticos, porém o scatter entre subtestes reduz a acurácia de estimativas abreviadas e pode superestimar o QI total quando a heterogeneidade é alta, o que reforça a análise do perfil além do escore global (Stephenson et al., 2023).

Por fim, a literatura descreve uma interação complexa entre TEA e QI, com mudanças históricas na distribuição de QI em amostras clínicas e epidemiológicas e limitações conhecidas na validade dos instrumentos quando não se contempla a heterogeneidade de perfis, justificando modelos corretivos e leitura individualizada do resultado (Wolff et al., 2022; Edirisooriya et al., 2021).

FUNDAMENTAÇÃO NEUROBIOLÓGICA

Substratos Neurais dos Testes de QI

A execução de subtestes de raciocínio, memória de trabalho, velocidade e compreensão verbal envolve integração entre córtex pré-frontal dorsolateral e ventrolateral, córtex cingulado anterior, campos oculares frontais e lobo parietal superior com sulco intraparietal, além de suporte temporal para operações lexicais e semânticas. Achados experimentais mostram modulação de desempenho verbal por estimulação do córtex motor primário esquerdo com efeitos em rede que incluem regiões pré-frontais e de linguagem, reforçando a dependência do componente verbal a circuitos distribuídos que interagem com sistemas executivos (Huang et al., 2022).

Estruturas subcorticais incluem hipocampo para codificação/recuperação, tálamo mediodorsal para seleção atencional, núcleos da base para sequenciação e cerebelo para temporização motora (Huang et al., 2022).

Interferências por Ansiedade Situacional

A ansiedade durante a testagem concorre por recursos atencionais e pode reduzir a eficiência do processamento, impactando o escore observado. Em populações jovens, faixas limítrofes de QI associam-se a maior risco psiquiátrico, com destaque para ansiedade, o que sustenta considerar sintomas internalizantes na interpretação do desempenho e planejar reteste em condições mais estáveis; esta evidência é clínica e epidemiológica, não de conectividade sob estresse agudo (Melby et al., 2020). Em adolescentes com TEA, a relação entre QI e ansiedade ou depressão é heterogênea por método e faixa etária, recomendando leitura caso a caso e triangulação com medidas clínicas (Edirisooriya et al., 2021).

Perfil Neurocognitivo no TDAH

No TDAH, a variabilidade intra-sujeito e lapsos de controle executivo produzem dispersão de desempenho entre subtestes. Em termos psicométricos, o Stanford-Binet 5 mede QI de forma equivalente em TDAH e TEA, porém maior scatter reduz a precisão de estimativas abreviadas e aumenta a chance de superestimação do QI total, recomendando protocolo completo quando possível (Stephenson et al., 2023). Em genética, risco poligênico para TEA associa-se positivamente à habilidade cognitiva na população geral; para TDAH, a evidência de associação negativa é pontual e dependente de coorte/idade, recomendando cautela inferencial (Clarke et al., 2016).

Substrato Neural no TEA

A distribuição de QI em TEA varia por período histórico e desenho amostral, além de frequentes discrepâncias entre desempenho cognitivo e funcionamento adaptativo; a validade dos instrumentos depende do perfil e da idade, e a interpretação do QI requer consideração da heterogeneidade e de vieses de encaminhamento (Wolff et al., 2022).

Em amostras clínicas, maior scatter está ligado a pior predição do ABIQ e maior probabilidade de superestimar o FSIQ, independentemente do diagnóstico, o que reforça leitura por perfil (Stephenson et al., 2023).

MODELO OPERACIONAL DE CORREÇÃO

Parâmetros Quantitativos Propostos

Os ajustes quantitativos abaixo são parâmetros operacionais para aproximar o potencial em contextos de interferência e devem ser calibrados por gravidade sintomática, scatter de subtestes e observação comportamental: ansiedade situacional leve, +3 pontos; ansiedade moderada, +7 pontos; ansiedade severa, +12 pontos, pela competição atencional e carga autonômica sobre tarefas cronometradas em amostras clínicas com risco internalizante aumentado em faixas limítrofes (Melby et al., 2020). TDAH, +8 pontos médios, em razão da variabilidade executiva e risco de superestimativa do QI quando se usa bateria abreviada na presença de scatter, recomendando protocolo completo quando possível (Stephenson et al., 2023). TEA sem deficiência intelectual, +6 pontos, por rigidez atencional e custo de mudança de conjunto descritos em perfis heterogêneos e na literatura sobre validade e distribuição de QI em TEA (Wolff et al., 2022). Dupla excepcionalidade, +10 pontos, pela somação de interferências atencionais e afetivas que amplificam a heterogeneidade de desempenho, devendo o ajuste ser reavaliado após reteste padronizado e estabilização emocional. Fundamentação genética aponta associação positiva entre risco poligênico para TEA e cognição, e evidência negativa pontual para TDAH em idade específica, o que sustenta a prudência na inferência causal direta de queda global de QI em neurodivergências (Clarke et al., 2016).

Ansiedade Situacional:

  • Leve: +3 pontos (tensão muscular mínima, concentração preservada)
  • Moderada: +7 pontos (sudorese, taquicardia, lapsos atencionais)
  • Severa: +12 pontos (bloqueio cognitivo, hiperativação autonômica)

TDAH:

  • +8 pontos médios por variabilidade executiva e lapsos de controle inibitório

TEA sem Deficiência Intelectual:

  • +6 pontos por rigidez atencional e custo de mudança de conjunto

Dupla Excepcionalidade (TEA + Superdotação):

  • +10 pontos por somação de interferências atencionais e afetivas

Calibração Clínica

A aplicação do ajuste deve considerar: gravidade por escalas padronizadas de ansiedade e atenção; heterogeneidade entre subtestes, em especial quando discrepâncias excedem 15 pontos, dada a redução de acurácia do ABIQ sob scatter; observação de conduta e custo afetivo durante aplicação; histórico de desempenho em contextos não avaliativos; decisão de retestar com protocolo completo quando abreviações possam superestimar o QI (Stephenson et al., 2023).

Os valores propostos funcionam como parâmetros operacionais iniciais que devem ser ajustados conforme:

  1. Severidade dos sintomas avaliada por escalas padronizadas
  2. Heterogeneidade de subtestes (discrepâncias >15 pontos sugerem interferência)
  3. Observação comportamental durante aplicação
  4. Histórico de desempenho em contextos não-avaliativos

GRADIENTE DE INTENSIDADE COMPORTAMENTAL

A intensidade de comportamentos típicos da alta capacidade escala com a pontuação do QI. Indivíduos com QI 140 apresentam maior persistência de curiosidade dirigida e estabilidade de raciocínio comparados àqueles com QI 130. Esse gradiente é compatível com a participação de redes executivas e componentes verbais moduláveis por estado cerebral (Huang et al., 2022), e a expressão varia com sintomas internalizantes em TEA, recomendando interpretação individualizada (Wolff et al., 2022; Edirisooriya et al., 2021).

Em perfis neurodivergentes, essa expressão varia por interferências atencionais e afetivas. A relação entre QI, ansiedade e depressão em TEA e TDAH é complexa e heterogênea, requerendo interpretação clínica individualizada (Wolff et al., 2022; Edirisooriya et al., 2021).

PADRÃO COMPORTAMENTAL EM SUPERDOTAÇÃO

Observa-se um núcleo replicável de comportamentos ao longo do gradiente de QI:

  • Curiosidade persistente orientada a lacunas informacionais
  • Aprendizagem acelerada com retenção prolongada
  • Preferência por complexidade e desafios cognitivos
  • Foco sustentado em tarefas intrinsecamente motivadoras
  • Produção precoce de soluções originais
  • Sensibilidade a inconsistências lógicas
  • Padrão de autocorreção elevado

Em subgrupos, perfeccionismo e maior reatividade emocional podem interferir na expressão do potencial durante avaliação formal, exigindo leitura conjunta de traços, comorbidades e variáveis ambientais.

IMPLICAÇÕES CLÍNICAS

Aplicação Prática do Modelo

O modelo proposto oferece diretrizes para:

  1. Identificação de subestimativas em populações clínicas
  2. Aproximação do potencial real através de ajuste quantitativo
  3. Planejamento interventivo baseado em capacidades preservadas
  4. Orientação vocacional mais precisa em neurodivergentes

Limitações e Considerações

Os parâmetros apresentados representam valores médios populacionais que devem ser individualizados conforme severidade sintomatológica e contexto específico. A validação empírica dos ajustes propostos requer estudos longitudinais com retestagem em condições controladas.

CONCLUSÃO

A mensuração precisa da inteligência em contextos clínicos demanda reconhecimento das interferências neuropsiquiátricas sistemáticas que podem mascarar o potencial cognitivo real. O modelo operacional de correção apresentado oferece parâmetros quantitativos clinicamente calibráveis para aproximar estimativas mais fidedignas do QI em presença de ansiedade situacional, TEA e TDAH.

A fundamentação neurobiológica baseada na teoria parieto-frontal da inteligência sustenta a validade teórica dos ajustes propostos, que devem ser validados empiricamente através de estudos controlados com amostras clínicas específicas.

REFERÊNCIAS

CLARKE, T.-K.; LUPTON, M. K.; FERNANDEZ-PUJALS, A. M.; et al. Common polygenic risk for autism spectrum disorder (ASD) is associated with cognitive ability in the general population. Molecular Psychiatry, v. 21, p. 419-425, 2016. DOI: 10.1038/mp.2015.12.

EDIRISOORIYA, M.; DYKIERT, D.; AUYEUNG, B.; CHIN, R. IQ and internalising symptoms in adolescents with ASD. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 51, p. 3887-3907, 2021. DOI: 10.1007/s10803-020-04810-y.

HUANG, Y.; ZHANG, Y.; ZHANG, Y.; MAI, X. Effects of transcranial direct current stimulation over the left primary motor cortex on verbal intelligence. Frontiers in Human Neuroscience, v. 16, 888590, 2022. DOI: 10.3389/fnhum.2022.888590.

MELBY, L.; BRØNNICK, K.; GRAVER, V.; NORDAHL-HANSEN, A. Is there an association between full IQ score and mental health problems in young adults? BMC Psychology, v. 8, n. 7, 2020. DOI: 10.1186/s40359-020-0372-2.

STEPHENSON, K. G.; LEVINE, A.; RUSSELL, N. C. C.; HORACK, J.; BUTTER, E. M. Measuring intelligence in Autism and ADHD: Measurement invariance of the Stanford-Binet fifth edition and impact of subtest scatter on abbreviated IQ accuracy. Autism Research, v. 16, p. 2350-2363, 2023. DOI: 10.1002/aur.3034.

WOLFF, N.; STROTH, S.; KAMP-BECKER, I.; ROEPKE, S.; ROESSNER, V. Autism spectrum disorder and IQ, a complex interplay. Frontiers in Psychiatry, v. 13, 856084, 2022. DOI: 10.3389/fpsyt.2022.856084.

  • Biografia –  

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues MRSB/P0149176 é Pós-PhD em Neurociências, eleito membro da Sigma Xi – The Scientific Research Honor Society (mais de 200 membros da Sigma Xi já receberam o Prêmio Nobel), além de ser membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, da Royal Society of Biology e da The Royal Society of Medicine no Reino Unido, da The European Society of Human Genetics em Vienna, Austria e da APA – American Philosophical Association nos Estados Unidos. Mestre em Psicologia, Licenciado em História e Biologia, também é Tecnólogo em Antropologia e Filosofia, com diversas formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Dr. Fabiano é membro de prestigiadas sociedades de alto QI, incluindo Mensa International, Intertel, ISPE High IQ Society, Triple Nine Society, ISI-Society e HELLIQ Society High IQ. Ele é autor de mais de 350 estudos científicos e 30 livros. Atualmente, é professor convidado na PUCRS e Comportalmente no Brasil, UNIFRANZ na Bolívia e Santander no México. Além disso, atua como Diretor do CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito e é o criador do projeto GIP, que estima o QI por meio da análise da inteligência genética.

Dr. Fabiano também possui registro de jornalista, tendo seu nome incluído no livro dos registros de recordes por conquistar quatro recordes, sendo um deles por ser o maior criador de personagens na história da imprensa.

Alguns destaques

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