A convivência entre indivíduos superdotados e pessoas com temperamento colérico pode ser desafiadora devido a uma série de fatores intrínsecos às características psicológicas dos superdotados. Primeiramente, a intensidade emocional experimentada por superdotados é consideravelmente elevada, o que pode ser exacerbado pelas explosões emocionais típicas de pessoas coléricas, resultando em uma sobrecarga sensorial e emocional. Essa hipersensibilidade pode desencadear ansiedade, estresse e até ataques de pânico quando confrontados com manifestações agressivas de raiva (Rinn & Reynolds, 2012).
Além disso, muitos superdotados prezam pela harmonia e paz em seus relacionamentos interpessoais. A natureza imprevisível e volátil de uma pessoa colérica pode romper essa necessidade de estabilidade, gerando desconforto e frustração. O pensamento analítico e a tendência de aprofundar-se nas situações e emoções tornam a raiva, que frequentemente é irracional, difícil de ser compreendida e processada logicamente, culminando em frustração e incompreensão (Webb et al., 2005).
A dificuldade em lidar com conflitos de maneira assertiva também é um ponto crítico. Superdotados podem optar por evitar confrontos ou ceder às exigências para minimizar o impacto emocional negativo, o que pode não ser uma solução eficaz a longo prazo. As expectativas elevadas em relação ao comportamento racional dos outros podem resultar em decepções quando confrontados com a raiva descontrolada, vista como imaturidade ou falha de caráter (Neihart et al., 2002).
Ademais, os estilos de comunicação divergentes entre superdotados e pessoas coléricas podem agravar os mal-entendidos e conflitos. Superdotados tendem a uma comunicação mais sutil e indireta, enquanto os coléricos são mais diretos e expressivos. Essa diferença pode intensificar os desentendimentos e dificultar a resolução pacífica dos conflitos (Cross & Coleman, 2005).
De acordo com o livro Temperamento Superdotado do Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, o temperamento colérico pode ser encontrado em pessoas de alto QI. Embora o temperamento colérico seja frequentemente observado em pessoas de alto QI, isso não elimina a possibilidade de problemas de relacionamento entre indivíduos superdotados e coléricos. A inteligência elevada não necessariamente equilibra ou ameniza as intensas emoções e reações que caracterizam o temperamento colérico.
Portanto, as semelhanças entre superdotados e pessoas com temperamento colérico podem tanto facilitar uma compreensão mútua quanto criar tensões significativas. A chave para relacionamentos saudáveis entre esses indivíduos está no reconhecimento e gerenciamento dessas semelhanças e diferenças, buscando equilíbrio e comunicação eficaz.
Referências:
• Cross, T. L., & Coleman, L. J. (2005). School-Based Conception of Giftedness. Psychology in the Schools, 42(3), 317-325. DOI: 10.1002/pits.20090.
• Neihart, M., Reis, S. M., Robinson, N. M., & Moon, S. M. (Eds.). (2002). The Social and Emotional Development of Gifted Children: What Do We Know? Waco, TX: Prufrock Press.
• Rinn, A. N., & Reynolds, M. J. (2012). Overexcitabilities and giftedness research: A call for a more measured approach. Gifted Child Quarterly, 56(3), 153-162. DOI: 10.1177/0016986212444901.
• Webb, J. T., Gore, J. L., Amend, E. R., & DeVries, A. R. (2005). A Parent’s Guide to Gifted Children. Scottsdale, AZ: Great Potential Press.