O período da adolescência é uma fase de desenvolvimento marcada por intensas transformações físicas, cognitivas, sociais e emocionais, apresentando diversos desafios na transição para a idade adulta. Questões relacionadas à regulação emocional, como a inibição excessiva, têm sido associadas a problemas de internalização, incluindo sintomas ansiosos e depressivos. A etiopatogenia da depressão está ligada a evidências que apontam para anomalias na função do sistema serotoninérgico central. Entre os receptores de serotonina, ou 5-hidroxitriptamina (5-HT), o 5-HT2A apresenta a maior concentração no cérebro, com particular densidade no córtex, amígdala, hipocampo e gânglios da base. O gene 5-HT2A é inclusive considerado um alvo de diversos tratamentos antidepressivos.
Os Polimorfismos Genéticos de Risco
Estudos têm associado polimorfismos genéticos dos receptores de serotonina a distúrbios neuropsiquiátricos, como a depressão. Os dois polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) do gene do receptor 5-HT2A mais estudados são o rs6311 (variante -1438A/G próxima à região do promotor) e o rs6313 (variante silenciosa 102T/C no éxon 1). Tais polimorfismos frequentemente são encontrados em quase completo desequilíbrio de ligação (ou linkage disequilibrium), onde o alelo mutante de alta atividade A do rs6311 corresponde ao alelo T do rs6313.
O estudo “Depression in Adolescence: Relevance of Serotonin Receptor Polymorphisms” focou em adolescentes não clínicos com sintomas depressivos, investigando a distribuição dos genótipos do rs6311 e rs6313 e a severidade dos sintomas. As análises estatísticas por meio de modelos genéticos recessivos e homozigotos sugeriram associações significativas entre a distribuição genotípica do rs6311 e a severidade dos sintomas depressivos.
Associações Genéticas e Severidade da Depressão
Os resultados do estudo em adolescentes não clínicos indicaram que o genótipo AA do polimorfismo rs6311 está associado a uma prevalência significativamente maior de sintomas depressivos severos em comparação com o genótipo GG, reforçando o papel do alelo A como um potencial fator de risco. Especificamente:
No modelo recessivo, a combinação GA+AA apresentou uma maior prevalência de sintomas severos em comparação com o GG.
No modelo homozigoto, o genótipo AA foi associado a uma prevalência significativamente maior de sintomas severos em comparação com o GG. O genótipo GG não demonstrou a presença de sintomas severos e pode ter um efeito protetor.
Para o polimorfismo rs6313, o estudo identificou uma tendência de associação do modelo recessivo TT+CT com sintomas severos15151515. Devido ao desequilíbrio de ligação, o alelo T para o rs6313 também é considerado um possível fator de risco para sintomas depressivos severos16161616. Consequentemente, o alelo G para o rs6311 e o alelo C para o rs6313 podem ser considerados protetores contra a severidade dos sintomas depressivos.
Implicações e Perspectivas de Prevenção
A identificação destes alelos de risco genético sublinha a importância da interação entre fatores genéticos e ambientais na depressão. Sugere-se que intervenções preventivas possam ser direcionadas a adolescentes portadores do alelo A para o rs6311 e do alelo T para o rs6313, visando a redução do risco de desenvolver sintomas depressivos e a preservação da saúde mental nesta população jovem. Embora o estudo não tenha encontrado uma associação estatisticamente significativa na distribuição simples dos genótipos, a análise dos modelos genéticos (recessivo e homozigoto) e os testes de equivalência reforçam o papel potencial dos genótipos rs6311 e rs6313 na distribuição da severidade dos sintomas depressivos. Estudos futuros com uma população mais ampla podem ser úteis para confirmar esses achados.
Referência:
GIZZI, Giulia et al. Depression in Adolescence: Relevance of Serotonin Receptor Polymorphisms. Depression and Anxiety, [s.l.], v. 2025, Article ID 5239931, 6 p., 2025. DOI: 10.1155/da/5239931.

