O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) são transtornos do neurodesenvolvimento com altas taxas de comorbidade. Embora estudos anteriores tenham apontado para disparidades de diagnóstico com base em variáveis sociodemográficas, a interação desses fatores com os três grupos diagnósticos — TEA isolado, TDAH isolado e TEA + TDAH — ainda não havia sido explorada em uma grande amostra representativa nacional. Um estudo recente, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde Infantil (NSCH) dos anos 2016-2018, examinou o impacto de fatores sociodemográficos e clínicos na probabilidade de uma criança receber um desses diagnósticos nos Estados Unidos.
A pesquisa utilizou um modelo de regressão logística multinomial de efeitos mistos para analisar a associação entre variáveis sociodemográficas e a probabilidade de uma criança pertencer a um dos três grupos de diagnóstico ou ao grupo de referência sem nenhum dos transtornos. Os resultados revelaram que os fatores sociodemográficos se relacionam de forma diferente com cada grupo de diagnóstico.
Idade e Sexo: Crianças do sexo masculino apresentaram maior probabilidade de todos os três diagnósticos em comparação com as meninas.
Raça/Etnia: Crianças brancas não-hispânicas tiveram uma maior probabilidade de receber um diagnóstico de TDAH isolado ou de TEA + TDAH em comparação com crianças negras não-hispânicas, crianças multirraciais ou outras não-hispânicas e crianças hispânicas. No entanto, crianças hispânicas apresentaram maior probabilidade de diagnóstico de TEA isolado em comparação com as crianças brancas. Essas disparidades são possivelmente reflexo de barreiras sistêmicas no acesso à saúde, como menor confiança em provedores médicos e o viés clínico.
Status Socioeconômico (SES) e Educação dos Pais: A renda familiar demonstrou um impacto complexo. Crianças de famílias com as rendas mais baixas (0-199% do nível de pobreza federal) tiveram uma probabilidade significativamente maior de receberem diagnósticos de TEA isolado e de TEA + TDAH, em contraste com o grupo de renda mais alta (≥400% do nível de pobreza federal). Este achado é particularmente notável, pois se contrapõe a estudos anteriores que reportavam menor probabilidade de diagnóstico de TEA em famílias de baixa renda, e sugere que a baixa renda pode ser um fator de risco importante associado à comorbidade de TEA + TDAH. A educação dos pais também mostrou associações variadas. Crianças com pais com menor escolaridade tiveram menor probabilidade de diagnóstico de TEA isolado, mas uma probabilidade significativamente maior de diagnóstico de TEA + TDAH.
Características de Nascimento e Deficiência Intelectual: Fatores como nascimento prematuro e baixo peso ao nascer foram associados a uma maior probabilidade de todos os três diagnósticos. A deficiência intelectual (DI) teve um dos maiores impactos, aumentando significativamente a probabilidade de diagnóstico de TEA isolado e, em particular, de TEA + TDAH.
Em resumo, o estudo revela que a comorbidade de TEA e TDAH está associada a um conjunto único de fatores de risco. A baixa renda e o nascimento prematuro emergem como preditores importantes, especialmente para o diagnóstico de TEA + TDAH. As disparidades raciais e étnicas continuam a ser uma preocupação, sugerindo barreiras no acesso a serviços de saúde. As descobertas do estudo reforçam a necessidade de pesquisas futuras e de diretrizes que promovam um acesso equitativo ao diagnóstico e cuidado para crianças de todas as origens.
Referência:
Federico, A. et al. Predictors of Autism Spectrum Disorder and ADHD: Results from the National Survey of Children’s Health. Disability and Health Journal, v. 17, n. 1, p. 101512, 2024. doi: 10.1016/j.dhjo.2023.101512.

