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Compreendendo a Agência no Transtorno de Personalidade Esquiva

por Redação CPAH

O Transtorno de Personalidade Esquiva (AvPD) é um transtorno de personalidade de alta prevalência, especialmente em ambientes clínicos, mas ainda pouco pesquisado. Indivíduos diagnosticados com AvPD enfrentam graves dificuldades de funcionamento e sofrem imensamente, e a literatura carece de evidências meta-analíticas sobre a terapia mais eficaz para esse quadro. Um estudo de revisão narrativa sugere que a falta de agência, definida como a capacidade de ser um ser motivado com objetivos e valores que se esforça para alcançá-los, pode ser um déficit central no AvPD.

Pessoas com AvPD parecem ter um senso de agência significativamente comprometido. Isso se deve a uma falta de consciência emocional, com predomínio de emoções inibidoras sobre as ativadoras, e dificuldades na regulação das emoções. Essas dificuldades estão relacionadas a altos níveis de medo e esquiva de apego, o que gera uma forte ambivalência em relação às necessidades sociais. Eles anseiam por conexões, mas temem se aproximar, e por isso tendem a se subordinar aos outros, permitindo que os outros decidam. A falta de autoconfiança, a autocrítica severa e uma narrativa de vida fraca tornam a ação reflexiva e intencional cada vez mais difícil.

A ausência de agência no AvPD tem implicações importantes para o tratamento. Pacientes com AvPD relatam se sentir “manuseados” por seus terapeutas e acham que é impossível influenciar o processo terapêutico. Esse senso de baixa agência na terapia pode ser uma barreira para resultados bem-sucedidos. Para lidar com isso, as intervenções terapêuticas devem focar em ajudar os pacientes a se conectar com suas emoções ativadoras (como interesse e alegria) e a criar experiências de domínio, influência e aceitação em contextos sociais e na terapia.

A terapia em grupo, por exemplo, pode ser uma arena importante para experiências emocionais corretivas, como praticar a autoafirmação e desenvolver a agência. Além disso, abordagens como a Terapia Metacognitiva Interpessoal (MIT) e a Terapia do Esquema (ST) têm se mostrado promissoras. A MIT, em particular, considera as dificuldades de agência como centrais para o entendimento do AvPD e aprimorar a agência é um de seus componentes principais. Intervenções que ajudam os pacientes a desenvolver uma narrativa de vida mais coerente e a desafiar crenças disfuncionais sobre si mesmos podem fortalecer seu senso de identidade e agência. A nova classificação de transtornos de personalidade da CID-11 e o modelo alternativo do DSM-5, que se concentram no nível de funcionamento do self e nas dificuldades interpessoais, podem se beneficiar dessa compreensão da agência para identificar e tratar os problemas de personalidade de forma mais eficaz, mesmo após a categoria diagnóstica de AvPD deixar de existir.

Referência:

Weme, A. V., Sørensen, K. D., & Binder, P.-E. (2023). Agency in avoidant personality disorder: a narrative review. Frontiers in Psychology, 14, 1248617. doi:10.3389/fpsyg.2023.1248617.

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