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Manual dos transtornos mentais

Na literatura científica, os transtornos mentais são categorizados com base em critérios diagnósticos específicos, que são compilados e atualizados periodicamente em manuais de diagnóstico como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição) e a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, décima primeira revisão).

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A construção de um compêndio exaustivo e detalhado que aborde todas as entidades nosológicas classificadas como transtornos mentais representa uma tarefa de extensa magnitude, devido à vasta heterogeneidade e complexidade dessas condições. Na literatura científica, os transtornos mentais são categorizados com base em critérios diagnósticos específicos, que são compilados e atualizados periodicamente em manuais de diagnóstico como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição) e a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, décima primeira revisão).

  1. Transtornos Neurodesenvolvimentais: Incluem condições como o transtorno do espectro autista e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), caracterizados por déficits que afetam o desenvolvimento pessoal, social, acadêmico ou ocupacional (American Psychiatric Association, 2013).
  2. Transtornos Psicóticos: Entre estes, a esquizofrenia é a mais emblemática, marcada por distorções no pensamento, percepção, emoções, linguagem, senso de si e comportamento (Van Os & Kapur, 2009).
  3. Transtornos de Humor: Essa categoria engloba transtornos depressivos e bipolares, nos quais a perturbação primária é uma alteração do humor ou do afeto, com episódios variando de depressão profunda a mania intensa (Kupfer et al., 2012).
  4. Transtornos de Ansiedade: Incluem transtornos como a síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada e fobias específicas, onde o medo ou a ansiedade são desproporcionais em relação ao contexto que os evoca (Bandeira et al., 2013).
  5. Transtornos Obsessivo-Compulsivos e Relacionados: Caracterizados pela presença de obsessões (pensamentos recorrentes e intrusivos) e compulsões (comportamentos repetitivos) que interferem significativamente no funcionamento diário do indivíduo (Stein et al., 2010).
  6. Transtornos Relacionados a Traumas e Estressores: Incluem o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), onde a exposição a um evento traumático leva a sintomas de reexperiência, evitação, hiperativação e alterações cognitivas ou de humor (Yehuda & LeDoux, 2007).
  7. Transtornos Dissociativos: Envolve transtornos como a amnésia dissociativa e a identidade dissociativa, caracterizados por uma ruptura e/ou descontinuidade na integração normal da consciência, memória, identidade, emoção, percepção, representação corporal, controle motor e comportamento (Spiegel et al., 2011).
  8. Transtornos Alimentares: Envolvem condições como anorexia nervosa e bulimia nervosa, onde há perturbações significativas na percepção da forma e peso corporais, com graves consequências para a saúde do paciente (Kaye et al., 2009).
  9. Transtornos de Eliminação: Focam em problemas com a continência, como a enurese e encoprese, manifestados predominantemente na infância (von Gontard & Neveus, 2006).
  10. Transtornos do Sono-Vigília: Abordam problemas relacionados ao sono, que impactam a saúde física e mental, incluindo insônia e narcolepsia (Scammell, 2015).
  11. Disfunções Sexuais: Abarcam transtornos caracterizados por uma perturbação no processo do ciclo de resposta sexual ou por dor associada ao sexo (Binik, 2010).
  12. Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta: Incluem condições como transtorno explosivo intermitente, caracterizadas por problemas de controle emocional e comportamental (Coccaro, 2012).
  13. Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos: Os transtornos relacionados a substâncias abrangem entidades nosológicas decorrentes do uso abusivo de substâncias psicoativas, tais como álcool, cafeína, cannabis, alucinógenos, inalantes, opioides, sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, estimulantes (incluindo tabaco), e outras substâncias desconhecidas, que causam comprometimento ou desconforto clinicamente significativo (Degenhardt & Hall, 2012).
  14. Transtornos Neurocognitivos: Incluem declínio significativo em uma ou mais áreas de função cognitiva, como atenção, função executiva, aprendizado e memória, linguagem, habilidades perceptivo-motoras, e cognição social, que marcam uma diminuição em relação a um nível anterior de desempenho. Este grupo abrange condições como demência e transtorno cognitivo leve (Petersen, 2011).
  15. Transtornos de Personalidade: Estes transtornos envolvem padrões duradouros de experiência interna e comportamento que se desviam marcadamente das expectativas da cultura do indivíduo. São permeáveis e inflexíveis, surgem no início da idade adulta ou antes, e causam sofrimento ou prejuízo funcional. Exemplos incluem transtorno de personalidade borderline, antissocial, obsessivo-compulsiva e esquiva (American Psychiatric Association, 2013).
  16. Transtornos Parafílicos: Refere-se a impulsos ou comportamentos sexualmente excitantes ou gratificantes que envolvem objetos atípicos, situações, fantasias, comportamentos ou indivíduos (Seto, 2008).

Estes transtornos são estudados e classificados a fim de facilitar um entendimento profundo e uma intervenção clínica apropriada, permitindo aos profissionais da saúde mental identificar e tratar eficazmente as diversas manifestações de doenças psiquiátricas. É importante ressaltar que o conhecimento sobre transtornos mentais está em constante evolução, com novas pesquisas e abordagens sendo desenvolvidas continuamente para compreender melhor e tratar essas complexas condições.

Para um tratamento efetivo, é essencial a realização de diagnósticos precisos e a aplicação de terapias baseadas em evidências, ajustadas às necessidades individuais dos pacientes. Este processo exige uma compreensão integrada dos mecanismos biológicos, psicológicos e sociais envolvidos em cada transtorno, assim como a disponibilidade e o acesso a tratamentos adequados.

A capacidade de diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais é fortalecida por pesquisas contínuas que buscam elucidar suas etiologias e mecanismos, além de desenvolver métodos de intervenção mais eficazes. Estudos epidemiológicos e clínicos contribuem para a base de dados, que orienta práticas clínicas e políticas de saúde mental, proporcionando um framework para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção mais precisas e personalizadas (Kessler & Wang, 2008).

Em conclusão, a diversidade e complexidade dos transtornos mentais exigem um enfoque multidimensional e uma colaboração constante entre pesquisadores, clínicos e decisores políticos. Assim, a meta da psiquiatria e das ciências comportamentais continua sendo não apenas a compreensão e tratamento eficazes, mas também a prevenção dessas condições, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos afetados e contribuindo para a saúde pública global.

Referências:

  • American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5). American Psychiatric Publishing.
  • Degenhardt, L., & Hall, W. (2012). Extent of illicit drug use and dependence, and their contribution to the global burden of disease. Lancet, 379(9810), 55-70.
  • Kessler, R. C., & Wang, P. S. (2008). The descriptive epidemiology of commonly occurring mental disorders in the United States. Annual Review of Public Health, 29, 115-129.
  • Petersen, R. C. (2011). Clinical practice. Mild cognitive impairment. New England Journal of Medicine, 364(23), 2227-2234.
  • Seto, M. C. (2008). Pedophilia and sexual offending against children: Theory, assessment, and intervention. American Psychological Association.
  • Van Os, J., & Kapur, S. (2009). Schizophrenia. Lancet, 374(9690), 635-645.

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