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Intolerância alimentar e depressão: Mecanismos e implicações clínicas

No entanto, algumas pessoas desenvolvem reações adversas ao consumo de certos alimentos, conhecidas como intolerâncias alimentares.

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A ingestão de alimentos é essencial para a sobrevivência humana, fornecendo nutrientes indispensáveis para a manutenção da homeostase. No entanto, algumas pessoas desenvolvem reações adversas ao consumo de certos alimentos, conhecidas como intolerâncias alimentares. Estas podem ser classificadas em tóxicas, devido a microrganismos ou substâncias presentes nos alimentos, e não tóxicas, como intolerâncias alimentares não mediadas pelo sistema imune. Estudos recentes sugerem uma possível ligação entre intolerâncias alimentares e o desenvolvimento de depressão, um transtorno mental prevalente e debilitante.

Mecanismos de Intolerância Alimentar

A intolerância alimentar pode ocorrer por diversos mecanismos fisiopatológicos, sendo os principais:

Deficiências Enzimáticas: Deficiências enzimáticas podem ser tanto gastrointestinais quanto sistêmicas. Por exemplo, a deficiência da enzima lactase resulta em intolerância à lactose, enquanto a mutação do gene ALDOB provoca intolerância hereditária à frutose (RODRIGUES, 2011).

Intolerâncias Farmacológicas: A presença de aminas biogênicas em alimentos, como histamina, tiramina e serotonina, pode causar reações adversas em pessoas sensíveis. Essas aminas são normalmente metabolizadas por enzimas como monoaminoxidases (MAO), e a sua inibição pode levar a níveis tóxicos no organismo (CARDOZO et al., 2013).

Intolerâncias a Aditivos Alimentares: Certos aditivos, como nitritos e corantes, também podem desencadear intolerâncias (RODRIGUES, 2011).

Mecanismos Indefinidos: Alguns casos de intolerância alimentar não possuem um mecanismo fisiopatológico claramente definido (RODRIGUES, 2011).

Depressão Associada à Intolerância Alimentar

A relação entre o sistema nervoso e o gastrointestinal é bem documentada. A serotonina, uma amina biogênica derivada do triptofano, desempenha um papel crucial na regulação do humor. Deficiências na absorção de triptofano, devido a intolerâncias alimentares, podem levar a níveis reduzidos de serotonina, associados à depressão (CUNHA et al., 2020).

Estudos indicam que uma dieta rica em gorduras e pobre em vitaminas e minerais essenciais, como triptofano, magnésio e vitaminas B e D, pode diminuir a biodisponibilidade das aminas necessárias para a saúde mental, aumentando o risco de depressão (SEZINI; GIL, 2014).

Estudos e Evidências Clínicas

Hidese et al. (2019) demonstraram uma correlação significativa entre alergias alimentares e depressão em uma amostra de 11.876 japoneses. Varea et al. (2005) mostraram que crianças e adolescentes com má absorção de carboidratos apresentavam níveis aumentados de depressão. Essas evidências reforçam a necessidade de investigar mais a fundo os mecanismos pelos quais a intolerância alimentar pode predispor à depressão.

Conclusão e Recomendações

A compreensão dos mecanismos que ligam intolerância alimentar e depressão é crucial para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas eficazes. A administração de inibidores de MAO pode ser uma estratégia viável para prevenir a depressão em pacientes com intolerâncias alimentares comprovadas. Estudos adicionais são necessários para validar a conjugação de açúcares em pacientes intolerantes e seus impactos nos níveis séricos de triptofano.

Referência:

CARDOZO, M. et al. Biogenic Amines: a public health problem. Revista Virtual de Química, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 149-168, 2013.

CUNHA, Andréa Mendonça Gusmão et al. Manual de farmácia 1: farmacologia. 2ª edição. ed. Salvador / Ba: Sanar Saúde, 2020.

HIDese, Shinsuke et al. Food allergy is associated with depression and psychological distress: a web-based study in 11,876 japanese. Journal Of Affective Disorders, v. 245, p. 213-218, fev. 2019.

RODRIGUES, Marisa Loio Rainho. INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES. 2011. Dissertação (Mestrado) – Curso de Medicina, Medicina Interna, Universidade de Coimbra, Coimbra.

SEZINI, Angela Maria; GIL, Carolina Swinwerd Guimarães do Coutto. Nutrientes e Depressão. Vita Et Sanitas, Trindade-Go, v. 8, n. 1, p. 39-57, 2014.

VAREA, Vicente et al. Malabsorption of Carbohydrates and Depression in Children and Adolescents. Journal Of Pediatric Gastroenterology And Nutrition, v. 40, n. 5, p. 561-565, maio 2005.

Alguns destaques

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