Um novo estudo destaca a relação entre a exposição ao flúor e o desenvolvimento cognitivo infantil, apontando que concentrações superiores a 1,5 miligramas por litro (mg/L) na água potável podem reduzir o QI das crianças. Publicado no JAMA Pediatrics, o estudo é a maior meta-análise já realizada sobre o impacto do flúor na saúde, conduzido ao longo de nove anos pelo Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos (NTP).
Dados globais e locais
Em Portugal, a fluoretação da água potável não é uma prática comum. O flúor é geralmente ingerido por meio de alimentos e águas engarrafadas, cujas concentrações variam amplamente. Estudos em águas minerais engarrafadas comercializadas no país identificaram teores que podem atingir até 0,5 mg/L, dependendo da marca e da fonte. Apesar disso, o limite máximo permitido pela legislação europeia para flúor na água potável é de 1,5 mg/L.
Já no Brasil, a fluoretação da água é obrigatória desde a década de 1970, sendo uma estratégia amplamente utilizada para prevenir cáries dentárias. A legislação brasileira determina que as concentrações de flúor na água potável devem variar entre 0,6 e 0,8 mg/L, considerando o clima e a temperatura local. O limite máximo permitido é de 1,5 mg/L, semelhante ao padrão europeu. No entanto, estudos indicam que algumas águas minerais engarrafadas no Brasil podem apresentar concentrações superiores a esse limite, chegando a 4,4 mg/L.
Principais descobertas do estudo
O estudo revisou 74 pesquisas, das quais 64 mostraram uma associação significativa entre altos níveis de flúor e redução no QI das crianças. Além disso, foi constatado que cada aumento de 1 mg/L nos níveis de fluoreto urinário estava associado a uma redução média de 1,14 a 1,63 pontos no QI.
Nos Estados Unidos, onde a fluoretação da água é amplamente praticada, um tribunal determinou recentemente que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) deve revisar seus padrões de fluoretação, atualmente fixados em 0,7 mg/L. A decisão foi motivada por dados que sugerem que até mesmo concentrações próximas ao padrão vigente podem representar riscos ao neurodesenvolvimento.
Implicações e desafios
Embora o flúor desempenhe um papel importante na saúde bucal, sua exposição excessiva pode trazer riscos, especialmente para crianças e gestantes. No Brasil, onde a água fluoretada é uma prática comum, é essencial que os níveis sejam monitorados rigorosamente para evitar concentrações acima do recomendado.
Em Portugal, apesar da ausência de fluoretação sistemática da água, o consumo de águas engarrafadas exige atenção, dado que algumas marcas apresentam teores consideráveis de flúor.
Considerações finais
O equilíbrio entre os benefícios e os riscos da fluoretação é um desafio global. Em ambos os países, o monitoramento rigoroso das fontes de exposição ao flúor é essencial para garantir a saúde pública, especialmente entre populações mais vulneráveis, como crianças e gestantes. A pesquisa também reforça a necessidade de políticas públicas adaptadas às condições locais para proteger tanto o desenvolvimento cognitivo quanto a saúde bucal da população.