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Como se define realmente a inteligência de alguém

A inteligência não pode ser reduzida a habilidades isoladas, já que indivíduos com alto QI frequentemente apresentam um desempenho superior em diversas áreas, como habilidades emocionais, sociais e criativas.

por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

O conceito de múltiplas inteligências é amplamente divulgado, mas, na minha visão, trata-se de um conceito que fragmenta a inteligência em categorias que, na verdade, são expressões das mesmas capacidades cognitivas. A inteligência não pode ser reduzida a habilidades isoladas, já que indivíduos com alto QI frequentemente apresentam um desempenho superior em diversas áreas, como habilidades emocionais, sociais e criativas. Isso reforça o Quociente de Inteligência (QI) como a medida mais predominante e assertiva para avaliar a inteligência humana.

O Papel do QI na Medição da Inteligência

O teste de QI continua sendo a metodologia mais científica e confiável para mensurar a inteligência. Embora fatores como ansiedade ou neurodivergências, como o TDAH, possam interferir nos resultados, essas influências não são determinantes para variações significativas. Por exemplo, pessoas com TDAH podem enfrentar dificuldades de foco momentâneas durante os testes, mas isso não invalida a eficácia da medição do QI (Brown, 2006). Da mesma forma, o efeito de treinamento pode melhorar pontuações ao longo do tempo, mas não altera o potencial real do indivíduo (Salthouse & Tucker-Drob, 2008).

Portanto, o QI é um indicador superior para avaliar a capacidade cognitiva geral, já que integra elementos fundamentais, como a lógica, a memória e a resolução de problemas, que afetam o desempenho em diferentes contextos.

Inteligência Vai Além do QI?

Embora o teste de QI seja predominante, ele não avalia diretamente outros aspectos, como a inteligência emocional (IE) e a criatividade subjetiva (CS). Porém, pessoas com altos QIs têm maior tendência a desenvolver essas habilidades, uma vez que o desempenho social e criativo geralmente exige níveis elevados de pensamento abstrato, autocontrole e sensibilidade emocional. Estudos indicam que a criatividade espontânea, aquela que surge sem aprendizado prévio, também é mais prevalente em indivíduos com alta intensidade emocional, um traço frequentemente correlacionado a altos níveis de QI (Goleman, 1995).

Portanto, ao invés de separar a inteligência em “múltiplas” categorias, faz mais sentido reconhecer o QI como uma base que prediz e influencia outras competências humanas.

Limitações e Complementos Tecnológicos

A neuroimagem, apesar de ser uma ferramenta moderna, ainda depende de interpretação e já apresentou inconsistências. Por isso, não é mais assertiva que o teste de QI na avaliação da inteligência (Schnack et al., 2015). Por outro lado, os testes genéticos oferecem um grande potencial, pois podem identificar predisposições biológicas para a inteligência, mas ainda requerem avanços na compreensão do papel do ambiente na expressão desses genes (Plomin & Deary, 2015).

Uma Abordagem Ideal

Se queremos definir a inteligência de forma robusta e abrangente, o caminho ideal é combinar um teste de QI supervisionado, cientificamente validado, com avaliações que incluam IE, IS e CS, somados a um teste genético e, eventualmente, neuroimagem como complemento. Essa abordagem seria a mais próxima de um sistema infalível para mensurar o verdadeiro potencial humano. Eu mesmo realizei esses testes combinados e posso afirmar que os resultados são reveladores.

Referências
• Brown, T. E. (2006). Attention Deficit Disorder: The Unfocused Mind in Children and Adults. Yale University Press.
• Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence. Bantam Books.
• Plomin, R., & Deary, I. J. (2015). Genetics and intelligence differences: Five special findings. Nature Reviews Genetics, 16(10), 627–639. https://doi.org/10.1038/nrg3872
• Salthouse, T. A., & Tucker-Drob, E. M. (2008). Implications of Short-Term Retest Effects for the Interpretation of Long-Term Change. Psychological Bulletin, 134(5), 800–823. https://doi.org/10.1037/0033-2909.134.5.800
• Schnack, H. G., van Haren, N. E. M., Brouwer, R. M., et al. (2015). Changes in Thickness and Surface Area of the Human Cortex and Their Relationship with Intelligence. Cerebral Cortex, 25(6), 1608–1617. https://doi.org/10.1093/cercor/bht357

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