A associação entre criatividade e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é tema de crescente interesse na literatura científica. Estudos sugerem que, embora o TDAH frequentemente seja associado a déficits cognitivos, pode também estar ligado a vantagens em processos criativos, principalmente relacionados ao pensamento divergente.
Evidências Científicas
1. Processos Criativos e Sintomas do TDAH
Indivíduos com sintomas de TDAH, especialmente os subclínicos, demonstram maior capacidade de pensamento divergente e resultados mais originais em tarefas de reconstrução de problemas complexos. Essa criatividade tende a ser impulsionada por sintomas de hiperatividade e impulsividade, ao invés de desatenção (Boot et al., 2017).
2. Conquistas Criativas no Mundo Real
Adultos com TDAH relataram maiores realizações criativas no mundo real, como a geração de ideias originais, especialmente em situações competitivas. Esses resultados sugerem que a motivação direcionada a objetivos específicos pode ser um fator central para o aumento do desempenho criativo (Boot et al., 2017).
3. Crianças com TDAH e Pensamento Divergente
Crianças diagnosticadas com TDAH tendem a pontuar melhor em testes que avaliam fluência e originalidade, que são componentes do pensamento divergente. Esses resultados refletem uma tendência maior a criar respostas não convencionais, ligadas a características do transtorno, como menor inibição de estímulos irrelevantes (Gonzalez-Carpio et al., 2017).
4. Aspectos Neuropsicológicos e Criatividade
Indivíduos com TDAH frequentemente apresentam menor inibição cognitiva, o que pode facilitar associações inusitadas e respostas criativas. Essa característica está associada a uma ativação diferenciada de redes neurais, especialmente envolvendo o hemisfério direito, frequentemente relacionado à criatividade (Hoogman et al., 2020).
Conclusão
Embora o TDAH apresente desafios significativos, a literatura destaca uma associação positiva com a criatividade, especialmente em contextos que exigem pensamento divergente e originalidade. No entanto, é essencial compreender que essa criatividade pode ser mais evidente em domínios específicos e pode variar de acordo com o perfil individual e o contexto.
Referências:
• Boot, N., Nevicka, B., & Baas, M. (2017). Subclinical symptoms of attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) are associated with specific creative processes. Personality and Individual Differences, 114, 73–81. Disponível em: link.
• Gonzalez-Carpio, G., Serrano, J. P., & Nieto, M. (2017). Creativity in Children with Attention Déficit Hyperactivity Disorder (ADHD). Psychology, 8(3), 319-334. Disponível em: link.
• Hoogman, M., Stolte, M., Baas, M., & Kroesbergen, E. (2020). Creativity and ADHD: A review of behavioral studies, the effect of psychostimulants and neural underpinnings. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 119, 66–85. Disponível em: link.
