A crescente preocupação com os efeitos das mídias sociais sobre a saúde mental e o bem-estar de jovens tem motivado debates acadêmicos, institucionais e sociais. Embora diversos estudos em psicologia e ciências sociais tenham sugerido uma relação negativa entre o uso dessas plataformas e o bem-estar subjetivo, a maioria apresenta limitações metodológicas que dificultam a identificação de causalidade. O artigo de Maurizio Pugno, publicado na Academia Mental Health and Well-Being, propõe uma abordagem alternativa e robusta: a análise econômica com base em experimentos naturais, permitindo inferências causais mais confiáveis sobre os efeitos deletérios das mídias sociais entre jovens.
As evidências econômicas analisadas por Pugno partem da utilização de experimentos naturais — situações em que a introdução do acesso à internet de alta velocidade ou de plataformas específicas, como o Facebook, ocorreu de maneira escalonada e independente de características individuais dos usuários. Isso possibilita comparações entre populações expostas e não expostas às mídias sociais, com controle de variáveis confundidoras, o que fortalece a capacidade inferencial dos estudos. Os resultados, obtidos em cinco países europeus e nos EUA, convergem para um mesmo achado: o uso de mídias sociais tem efeitos significativamente negativos sobre a saúde mental e o bem-estar dos jovens, com impacto ainda mais pronunciado entre meninas (Pugno, 2025).
Essa abordagem teórica introduz uma explicação inovadora para os efeitos negativos: o deslocamento de atividades benéficas — voltadas ao futuro e ao convívio social — por interações de gratificação imediata promovidas pelas mídias sociais. Ou seja, não se trata apenas da substituição temporal de tarefas, mas da perda de funções cognitivas e sociais associadas à construção de objetivos de longo prazo. A exposição intensiva a essas plataformas molda um comportamento aditivo que, segundo a literatura econômica, reflete preferências enviesadas para o presente. Em jovens, cuja maturidade emocional e capacidade de autorregulação ainda estão em desenvolvimento, esses efeitos se agravam, prejudicando o desenvolvimento de competências essenciais à vida adulta (Pugno, 2025).
Do ponto de vista empírico, os estudos revisados evidenciam que o acesso à internet de alta velocidade está correlacionado com aumentos substanciais em diagnósticos hospitalares de depressão, ansiedade, transtornos alimentares e de sono, sobretudo entre adolescentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a introdução do Facebook em campi universitários elevou significativamente os índices de sintomas depressivos entre estudantes, em especial mulheres. No Reino Unido e na Alemanha, a disponibilidade de banda larga teve efeitos negativos sobre a satisfação com a aparência, vida escolar e relacionamentos. Na Itália e na Espanha, a associação entre acesso à tecnologia digital e aumento de internações por transtornos mentais em adolescentes foi direta e robusta (Pugno, 2025).
Outro ponto fundamental abordado por Pugno é a adição digital como um fenômeno econômico. O uso das mídias sociais se torna um ciclo vicioso de autossatisfação momentânea que substitui atividades que promovem o desenvolvimento pessoal e social. A teoria da adição racional, proposta por Becker e Murphy, é mobilizada para mostrar como indivíduos podem racionalmente escolher comportamentos prejudiciais quando seus benefícios imediatos superam os custos futuros percebidos. Esse quadro é agravado em jovens, que apresentam menor capacidade de autocontrole e julgamento intertemporal. Assim, as mídias sociais não apenas consomem tempo, mas corrompem o desenvolvimento de capacidades humanas essenciais (Pugno, 2025).
Ao analisar os mecanismos pelos quais essas plataformas afetam o bem-estar, o artigo também evidencia a responsabilidade das empresas que operam esses sistemas. Projetadas para maximizar o engajamento e os lucros via publicidade, essas plataformas exploram vulnerabilidades cognitivas e emocionais dos usuários — especialmente os mais jovens — para manter sua atenção capturada. Esse modelo de negócios, longe de promover o bem-estar, pode ser considerado como um vetor de danos sociais e econômicos em larga escala.
O autor conclui com duas sugestões fundamentais para políticas públicas: promover a competição no mercado de plataformas digitais, de modo a reduzir o poder monopolista e seu viés exploratório; e implementar medidas educativas e regulatórias que visem reduzir o uso prejudicial das mídias sociais por crianças e adolescentes. A limitação de acesso em ambientes escolares, já adotada por vários países, aparece como uma medida concreta e eficaz nesse sentido (Pugno, 2025).
Em suma, o artigo de Pugno oferece uma valiosa contribuição ao debate ao trazer uma abordagem causal e interdisciplinar sobre os impactos das mídias sociais no bem-estar de jovens. Ele aponta para a urgência de políticas públicas e ações sociais que enfrentem não apenas os sintomas, mas as causas estruturais desse problema contemporâneo, com base em evidências sólidas e em uma perspectiva que integra economia, psicologia e neurociência.
Referência:
PUGNO, Maurizio. Does social media harm young people’s well-being? A suggestion from economic research. Academia Mental Health and Well-Being, [S.l.], v. 2, 2025. DOI: https://doi.org/10.20935/MHealthWellB7581. Disponível em: https://www.academia.edu/journals/academia-mental-health-and-well-being/about. Acesso em: 17 jun. 2025.

