A relação entre autismo de nível 1 e inteligência é um campo de estudo complexo que envolve múltiplos aspectos do desenvolvimento neurológico e cognitivo. Estudos demonstram que o córtex pré-frontal (CPF) de crianças autistas apresenta um desenvolvimento atípico, caracterizado por um aumento no número de neurônios e um crescimento acelerado em comparação com crianças neurotípicas. Esse fenômeno é especialmente evidente na sub-região do córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL), responsável por funções executivas como planejamento, organização, atenção, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Essas funções são frequentemente desafiadoras para indivíduos no espectro autista.
O desenvolvimento acelerado do CPFDL em crianças autistas pode ser interpretado como uma forma de compensação por déficits em outras regiões cerebrais. O autismo está associado a uma conectividade funcional atípica entre diferentes áreas do cérebro, incluindo o CPFDL e outras regiões cruciais para a cognição social e emocional. O crescimento excessivo do CPFDL poderia ser uma tentativa do cérebro de mitigar essas deficiências, assumindo algumas funções que normalmente seriam desempenhadas por outras áreas. Contudo, essa compensação pode não ser completamente eficaz, e as dificuldades associadas ao autismo podem persistir, apesar do desenvolvimento acelerado dessa região.
A relação entre autismo de nível 1 e inteligência, especialmente em termos de Quociente de Inteligência (QI) e velocidade de processamento (IVP), é um campo de estudo que merece atenção particular. A IVP (como medida no teste WISC, por exemplo) tende a diminuir em indivíduos que têm medo de errar, são perfeccionistas e se preocupam com o julgamento alheio. No entanto, autistas frequentemente apresentam níveis reduzidos de empatia, o que pode resultar em uma menor preocupação com o julgamento dos outros, possivelmente não afetando negativamente o IVP.
Essa diminuição na IVP é um dos principais fatores responsáveis pelo rebaixamento do QI geral (QI(g)) em indivíduos superdotados. Para obter um índice de inteligência mais fidedigno, é essencial calcular o Índice de Habilidade Geral (GAI). O GAI é uma medida derivada dos testes de QI que exclui a influência das subescalas de velocidade de processamento e memória de trabalho, fornecendo uma avaliação mais precisa das capacidades intelectuais de um indivíduo, particularmente quando há disparidades significativas nessas áreas.
A variação do QI em autistas pode ser maior do que em indivíduos neurotípicos devido ao sistema compensatório do cérebro autista, que tende a evoluir ou se reorganizar para alcançar uma melhor homeostase. Dado o perfil único de desenvolvimento neurológico em autistas, é crucial realizar estudos longitudinais com mais voluntários autistas que tenham sido submetidos a testes de QI na infância e na adolescência. Isso permitirá uma avaliação mais detalhada das diferenças e variações ao longo do desenvolvimento, contribuindo para um entendimento mais profundo da relação entre autismo, inteligência e compensações neurológicas.