Observação: Como descendente de portugueses nascido no Brasil, sempre senti um forte vínculo emocional com Portugal, mesmo sem nunca ter visitado o país. Minha família é originária da Ilha da Madeira, e ao visitar a ilha pela primeira vez, senti uma conexão profunda e inexplicável, como se fosse meu lar ancestral. Investigações subsequentes revelaram que minha linhagem remonta aos primeiros colonizadores da ilha, com ancestrais que se estabeleceram lá desde o início da colonização portuguesa, oriundos do continente. Este fenômeno me levou a investigar a origem e a base biológica da memória genética.
Comprovações Científicas sobre a Memória Genética e Transgeracional
A hipótese de que memórias podem ser transmitidas de geração em geração através de mecanismos epigenéticos, como modificações de histonas, tem sido amplamente estudada. Modificações epigenéticas, tais como a metilação e acetilação de histonas, desempenham um papel crucial na regulação da expressão gênica e na manutenção de estados transcricionais através das gerações celulares.
1. Herança de Modificações de Histonas:
Estudos demonstram que certas modificações em histonas, como a metilação de lisina 4 na histona H3 (H3K4me2), podem ser herdadas através de múltiplas divisões celulares, servindo como uma marca epigenética que facilita a reativação rápida de genes previamente reprimidos. Este mecanismo de herança é mediado por interações entre proteínas leitoras de H3K4me2 e complexos de escrita de histonas, como o SET3C e Spp1-COMPASS (Brickner, 2023).
2. Herança Epigenética Independente da Sequência de DNA:
A pesquisa com a levedura Schizosaccharomyces pombe revelou que modificações em histonas, como a metilação de H3K9, podem ser transmitidas através de gerações mitóticas e meióticas independentemente da sequência de DNA. Este processo é mediado por mecanismos de leitura e escrita de histonas que permitem a manutenção de estados epigenéticos mesmo na ausência de sinais iniciadores dependentes de sequência de DNA (Ragunathan et al., 2015).
3. Impacto das Modificações de Histonas na Saúde Transgeracional:
A superexpressão de uma desmetilase de histonas em espermatozoides de camundongos demonstrou que alterações na metilação de H3K4 durante a espermatogênese podem resultar em anomalias de desenvolvimento e redução da viabilidade em três gerações subsequentes. Este estudo sugere que a metilação de histonas e o RNA espermático alterado são mediadores potenciais da herança epigenética transgeracional (Siklenka et al., 2015).
4. Memória Epigenética em C. elegans:
Em Caenorhabditis elegans, observou-se que os espermatozoides retêm nucleossomos com modificações de histonas que refletem a memória epigenética de genes expressos durante a espermatogênese. Estas marcas epigenéticas são importantes para o desenvolvimento adequado das células germinativas na prole, demonstrando uma forma de herança epigenética paternal baseada em histonas (Tabuchi et al., 2018).
Esses estudos fornecem uma base sólida para a compreensão de como memórias epigenéticas podem ser transmitidas através das gerações e influenciar a saúde e o comportamento dos descendentes. A regulação epigenética, especialmente através de modificações de histonas, emerge como um mecanismo fundamental na herança de traços adquiridos e na manutenção da identidade celular.
Referências:
– BRICKNER, Jason H. Inheritance of epigenetic transcriptional memory through read–write replication of a histone modification. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1526, p. 50-58, 2023.
– RAGUNATHAN, K.; JIH, Gloria T.; MOAZED, D. Epigenetic inheritance uncoupled from sequence-specific recruitment. Science, v. 348, 2015.
– SIKLENKA, Keith et al. Disruption of histone methylation in developing sperm impairs offspring health transgenerationally. Science, v. 350, 2015.
– TABUCHI, T. et al. Caenorhabditis elegans sperm carry a histone-based epigenetic memory of both spermatogenesis and oogenesis. Nature Communications, v. 9, 2018.