Início ColunaNeurociências Tristeza pós-orgasmo: Entendendo os mecanismos neurobiológicos e psicológicos

Tristeza pós-orgasmo: Entendendo os mecanismos neurobiológicos e psicológicos

Este fenômeno é mais comum do que se imagina e pode ser explicado por uma complexa interação entre neurotransmissores, regiões cerebrais e fatores psicológicos.

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Introdução:
A “tristeza pós-orgasmo” ou “dissonância pós-orgasmo” é uma condição em que indivíduos, principalmente homens, experimentam sentimentos de tristeza, culpa, arrependimento ou desconforto logo após o orgasmo, seja durante a masturbação ou o ato sexual. Este fenômeno é mais comum do que se imagina e pode ser explicado por uma complexa interação entre neurotransmissores, regiões cerebrais e fatores psicológicos.

Neurotransmissores Envolvidos:

  1. Dopamina: Durante a excitação sexual e o orgasmo, há uma liberação significativa de dopamina no sistema de recompensa do cérebro, particularmente no núcleo accumbens. A dopamina é o neurotransmissor primário associado ao prazer e à recompensa. No entanto, logo após o orgasmo, os níveis de dopamina caem rapidamente, o que pode contribuir para uma sensação de “queda” ou vazio emocional.
  2. Serotonina: O orgasmo também está associado a um aumento na liberação de serotonina, particularmente no núcleo da rafe. A serotonina está envolvida na regulação do humor, e alterações bruscas em seus níveis podem influenciar o estado emocional após o clímax sexual. O aumento inicial pode ser seguido por um declínio, que em algumas pessoas pode contribuir para sentimentos de tristeza ou depressão.
  3. Oxitocina: Conhecida como o “hormônio do amor”, a oxitocina é liberada em grandes quantidades durante o orgasmo, promovendo sentimentos de conexão e intimidade. No entanto, a rápida redução de oxitocina após o clímax pode contribuir para uma sensação de distanciamento ou isolamento, especialmente se o orgasmo ocorreu sozinho (como na masturbação) e não em um contexto de intimidade com outra pessoa.
  4. Prolactina: Após o orgasmo, há um aumento na liberação de prolactina, particularmente na hipófise. A prolactina tem um efeito inibitório sobre a dopamina, o que contribui para a fase refratária (período após o orgasmo em que a excitação sexual é difícil ou impossível). A prolactina está associada a sentimentos de satisfação e saciedade, mas também pode estar relacionada ao declínio emocional subsequente ao orgasmo, especialmente em homens.

Regiões Cerebrais Envolvidas:

  1. Núcleo Accumbens: Parte fundamental do sistema de recompensa, o núcleo accumbens é ativado pela liberação de dopamina durante a excitação sexual e o orgasmo. A sua ativação está associada à experiência de prazer, mas a queda subsequente na atividade dopaminérgica pode levar a uma sensação de perda ou vazio emocional.
  2. Córtex Pré-Frontal: Esta região está envolvida na regulação emocional e no processamento de recompensas. Após o orgasmo, o córtex pré-frontal pode participar da avaliação cognitiva da experiência sexual, podendo emergir sentimentos de culpa ou arrependimento se a experiência for considerada inadequada ou conflitante com as crenças pessoais.
  3. Amígdala: Responsável pela resposta emocional e pela avaliação de ameaças, a amígdala pode ser ativada se a pessoa associar a masturbação ou o ato sexual a sentimentos de culpa ou vergonha. A ativação da amígdala pode intensificar emoções negativas após o orgasmo.
  4. Hipotálamo: Esta região regula a liberação de oxitocina e prolactina e está envolvida na regulação dos ciclos de excitação e relaxamento após o orgasmo. A liberação de prolactina no hipotálamo contribui para a fase refratária e pode estar associada a sentimentos de letargia ou apatia.

Fatores Psicológicos e Contextuais:
Além dos aspectos neurobiológicos, fatores psicológicos desempenham um papel importante na tristeza pós-orgasmo. Se a masturbação ou o ato sexual for percebido como moralmente errado, inadequado ou em conflito com valores pessoais ou sociais, é mais provável que pensamentos negativos emergam após o orgasmo. Além disso, expectativas irrealistas sobre a experiência sexual ou a busca por um alívio emocional imediato podem exacerbar esses sentimentos negativos.

Conclusão:
A tristeza pós-orgasmo é uma condição multifacetada, influenciada tanto por mudanças neuroquímicas quanto por fatores psicológicos. Entender os mecanismos subjacentes pode ajudar a normalizar essa experiência para aqueles que a vivenciam, além de abrir caminho para estratégias de intervenção mais eficazes, caso esses sentimentos sejam frequentes ou perturbadores.

Alguns destaques

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