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Saiba mais sobre a Mpox: varíola do macaco ou dos roedores?

O vírus Mpox possui um genoma de DNA dupla fita e realiza seu ciclo replicativo no citoplasma das células hospedeiras. A transmissão para humanos pode ocorrer por meio de contato direto com animais infectados, materiais contaminados ou de pessoa para pessoa.

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O que é a Mpox?

A Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose viral causada pelo vírus Mpox, um membro do gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae. Este vírus compartilha características genéticas e morfológicas com o vírus da varíola, o qual já foi erradicado. O vírus Mpox possui um genoma de DNA dupla fita e realiza seu ciclo replicativo no citoplasma das células hospedeiras. A transmissão para humanos pode ocorrer por meio de contato direto com animais infectados, materiais contaminados ou de pessoa para pessoa. A doença é caracterizada por febre, dor de cabeça, dores musculares, e uma erupção cutânea distintiva que se espalha pelo corpo. Em termos de saúde pública, a Mpox é monitorada globalmente devido ao seu potencial de causar surtos em áreas urbanas e sua relevância na pesquisa em genômica e epidemiologia viral.

O vírus Mpox, causador da Mpox, não é uma variante do vírus da varíola, mas sim um vírus distinto dentro do mesmo gênero Orthopoxvirus. O vírus Mpox foi identificado pela primeira vez em 1958 durante um surto de uma doença parecida com a varíola em macacos mantidos para pesquisa, daí o nome “varíola dos macacos”. Posteriormente, o primeiro caso humano foi documentado na República Democrática do Congo em 1970. Embora relacionados, os vírus Mpox e da varíola têm reservatórios naturais distintos e características epidemiológicas próprias. O vírus Mpox é geralmente associado a roedores e pequenos mamíferos na África, que são considerados o reservatório natural do vírus. A transmissão para humanos ocorre mais frequentemente em contextos de proximidade com a vida selvagem, especialmente em áreas rurais e florestais onde os humanos entram em contato direto com animais infectados. Portanto, a Mpox não surgiu como uma “variante” do vírus da varíola, mas sim como um patógeno separado que sempre existiu em seus reservatórios animais, manifestando-se em humanos sob condições específicas de exposição zoonótica. A confusão ocasional entre os dois se deve à similaridade clínica das doenças que eles causam e ao fato de ambos serem ortopoxvírus. 

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) renomeou a “varíola dos macacos” para “Mpox” como parte de um esforço para evitar estigmatização e imprecisões na denominação da doença. Assim, “Mpox” e “varíola do macaco” referem-se à mesma doença viral causada pelo vírus Mpox. Originalmente chamada de “varíola dos macacos” devido a um surto em macacos de laboratório, esta designação era um pouco enganosa porque os macacos não são o reservatório natural do vírus; roedores são considerados o reservatório mais provável. A mudança de nome para “Mpox” foi um esforço para alinhar melhor o nome com a natureza da doença e seu contexto epidemiológico, além de reduzir o potencial de discriminação associado ao antigo nome.

Como a Mpox ataca o organismo? 

A infecção por Mpox inicia quando o vírus entra no corpo, geralmente através de uma ruptura na pele, membranas mucosas (como olhos, boca ou nariz), ou por inalação. O vírus tem tropismo, ou seja, preferência, por células da pele e do sistema linfático, onde se multiplica e desencadeia uma resposta imune inicial.

Como a Mpox Ataca o Organismo e o Que Ela Ataca

  1. Entrada e Incubação: Após a entrada, o vírus passa por um período de incubação que varia de 5 a 21 dias, durante o qual ainda não há sintomas.
  2. Fase de Invasão (Prodromal): Os sintomas iniciais incluem febre alta, dores de cabeça intensas, linfadenopatia (aumento dos linfonodos), dor nas costas, dores musculares e intensa astenia (fraqueza). Esses sintomas refletem a disseminação viral inicial e a resposta inflamatória sistêmica.
  3. Erupção Cutânea e Progressão: Após 1 a 3 dias do início da febre, começa a aparecer uma erupção cutânea, inicialmente no rosto e depois se espalhando para outras partes do corpo. As lesões evoluem de máculas (manchas) a pápulas (elevações), vesículas (bolhas cheias de líquido), pústulas e, finalmente, crostas.

Evolução dos Sintomas

  • Fase de Vesícula/Pústula: A fase mais contagiosa e clinicamente significativa é quando as vesículas e pústulas estão presentes. Estas lesões são dolorosas e podem causar cicatrizes permanentes.
  • Resolução: A resolução começa quando as crostas caem. O período total de doença varia, mas pode durar de 2 a 4 semanas.

Considerações Importantes

  • Contágio: A transmissão pode ocorrer por contato direto com fluidos corporais ou lesões cutâneas de uma pessoa infectada, ou através de materiais contaminados como roupas ou lençóis.
  • Gravidade e Tratamento: A gravidade pode variar; casos severos são mais comuns em crianças e indivíduos imunocomprometidos. O tratamento é principalmente de suporte, mas antivirais específicos e vacinas baseadas em vírus vaccinia podem ser considerados em casos graves ou em grupos de alto risco.

A letalidade da Mpox pode variar significativamente dependendo da cepa do vírus, da localização geográfica do surto, das condições de saúde pública e do acesso ao atendimento médico. Existem duas cepas principais do vírus Mpox, que diferem em sua virulência:

  1. Cepa da África Ocidental: Esta cepa é considerada menos virulenta, com uma taxa de letalidade em torno de 1% em populações não vacinadas contra a varíola.
  2. Cepa do Congo Basin (África Central): Esta cepa é mais severa, com uma taxa de letalidade que pode chegar a cerca de 10% em populações não vacinadas.

Durante surtos em áreas com melhor infraestrutura de saúde e acesso a cuidados médicos, a taxa de letalidade tende a ser mais baixa. Em surtos recentes fora da África, incluindo os surtos expandidos de 2022 em diversos países não endêmicos, a letalidade foi extremamente baixa, com poucas mortes relatadas em relação ao número total de casos. A disponibilidade de cuidados de suporte, tratamentos antivirais e medidas preventivas, como vacinação para contatos de alto risco, contribuem para reduzir a severidade e a letalidade da doença nessas regiões.

Neurobiologia relativa ao Mpox

A relação entre a neurobiologia e a infecção por Mpox é um campo que ainda requer pesquisa aprofundada, mas como ocorre com muitos vírus que têm impacto sistêmico, existem possíveis interações e consequências neurológicas associadas à infecção. Aqui estão algumas considerações sobre como o Mpox pode estar relacionado à neurobiologia:

1. Invasão do Sistema Nervoso Central (SNC)

Embora seja raro, há a possibilidade de o vírus Mpox invadir o sistema nervoso central. Isso pode ocorrer se o vírus ultrapassar a barreira hematoencefálica, uma membrana altamente seletiva que protege o cérebro de patógenos. Infecções virais que alcançam o SNC podem causar meningite, encefalite ou outras condições neurológicas graves.

2. Resposta Imune e Neuroinflamação

A resposta imune ao vírus pode levar à neuroinflamação, mesmo que o vírus não invada diretamente o SNC. Citoquinas pró-inflamatórias e mediadores inflamatórios, liberados sistemicamente, podem afetar o cérebro, potencialmente causando sintomas neuropsiquiátricos, como alterações de humor, confusão ou dificuldade de concentração. Esses efeitos são geralmente temporários, mas destacam a interação entre a infecção sistêmica e a saúde neurológica.

3. Complicações Neurológicas Indiretas

Complicações neurológicas podem surgir indiretamente como resultado da resposta do corpo ao vírus. Por exemplo, uma infecção grave pode resultar em resposta imune exagerada ou sepsis, que, por sua vez, podem afetar o funcionamento neurológico.

4. Estudos e Relatos de Caso

Relatos de caso e estudos que documentam os efeitos neurológicos associados à Mpox são limitados, mas essenciais para entender melhor a patologia. Monitorar sintomas neurológicos em pacientes com Mpox pode ajudar a identificar padrões de manifestações neurológicas associadas à doença.

Relação predisposição genética e os riscos

A relação entre predisposição genética e os riscos de contrair ou desenvolver formas graves de Mpox ainda está em fase inicial de investigação, dada a relativa novidade e a complexidade dos surtos recentes. No entanto, estudos em outras infecções virais e a compreensão da imunologia sugerem que fatores genéticos podem influenciar a suscetibilidade e a severidade das doenças infecciosas, incluindo a Mpox. Aqui estão algumas áreas-chave onde a predisposição genética pode desempenhar um papel:

1. Resposta Imune Inata e Adaptativa

A eficácia da resposta imune, tanto inata quanto adaptativa, é crucial para controlar a replicação viral e eliminar o vírus. Variações genéticas em genes que codificam proteínas do sistema imunológico, como os receptores de reconhecimento de padrão (PRRs) que detectam patógenos, e os componentes das vias de sinalização imunológica, podem afetar a capacidade de um indivíduo de montar uma resposta eficaz contra o vírus Mpox.

2. Expressão de Citoquinas

As citoquinas desempenham papéis essenciais na regulação da resposta inflamatória contra infecções. Polimorfismos em genes que regulam a produção de citoquinas, como IL-10, TNF-α, e IFN-γ, podem influenciar a severidade da resposta inflamatória, levando a diferenças na progressão da doença e nos resultados clínicos entre indivíduos.

3. Integridade da Pele e Barreiras Mucosas

Diferenças genéticas que afetam a integridade da pele e das mucosas podem alterar a suscetibilidade a infecções cutâneas e a entrada de patógenos. Genes envolvidos na regulação da reparação da pele, resposta inflamatória dérmica, e manutenção da barreira mucosa podem ser relevantes.

4. Resistência e Suscetibilidade Específica

Estudos sobre outras doenças virais identificaram loci genéticos específicos associados com a resistência ou suscetibilidade a certos vírus. Pesquisas futuras poderiam identificar marcadores semelhantes para Mpox, especialmente considerando que a variação entre os indivíduos na severidade da doença sugere uma possível componente genética.

Tratamento

O tratamento da Mpox é principalmente de suporte, visando aliviar os sintomas e prevenir complicações. Em casos graves ou em pacientes com alto risco de complicações, como imunocomprometidos, podem ser considerados tratamentos antivirais. O tecovirimat (TPOXX) é um medicamento aprovado pela FDA especificamente para o tratamento da varíola, mas tem sido usado contra a Mpox sob protocolos de uso compassivo ou emergencial. Além do tecovirimat, o cidofovir e o brincidofovir, antivirais originalmente desenvolvidos para o tratamento de infecções por citomegalovírus, também podem ser empregados. O tratamento sintomático inclui administração de analgésicos e antipiréticos para manejo da dor e da febre. Vacinas baseadas no vírus Vaccinia, como a JYNNEOS nos Estados Unidos, também são utilizadas preventivamente em indivíduos de alto risco de exposição ao vírus. A gestão adequada dos pacientes requer uma abordagem multidisciplinar, com monitoramento contínuo para avaliar a resposta ao tratamento e o surgimento de possíveis efeitos colaterais.

Alguns destaques

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